31 outubro 2007

Os sistemas


Existe uma fé generalizada de que a culpa e a solução dos problemas está no sistema. Uns apostam no sistema liberal, outros apostam num sistema socialista, outros em sistemas autoritários outros num sistema anárquico. Acredita-se que, se se mudarem as regras e a arquitectura da sociedade, os problemas resolvem-se. Existem áreas da nossa sociedade que têm servido de tubos de ensaio para novos sistemas: veja-se o ensino, por exemplo. Tem-se a ideia simplória de que se o modelo funciona lá fora aqui também funciona. E "modelos lá fora" que funcionem é coisa que não falta! Mas vai-se ver e poucos são os casos em que se notem melhorias significativas quando aplicados. Legisla-se e legisla-se e legisla-se por cima de legislação na esperança de afinar o sistema e pouco ou nada muda.
A malta vai a países civilizados e tudo funciona, ninguém estaciona em cima do passeio as ruas estão limpas, as fachadas estão limpas, todos pagam impostos alegremente, todos são educados e sofisticados... Uma maravilha! E porquê? Achamos nós que é o sistema.

Estou convencido que na maioria dos casos a mudança de sistema só muda as moscas. A raíz da maioria dos problemas estruturais é cultural e civilizacional. Numa cultura onde:
- a "esperteza" não é social e moralmente sancionada e onde o sucesso é visto com inveja e como produto de vigarice e sacanagem;
- não haja uma consiência e sentido de responsabilidade social e onde o "outro" é olhado com desconfiança e visto como um adversário e não um potencial aliado;
- todos se acham donos da razão e os demais são uns "tótós" atrasados mentais que não merecem um mínimo de consideração;
- não há vontade de aprender nem respeito pelo conhecimento e onde as elites olham com desdém a "arraia miúda" sem terem qualquer desejo de a chamar até si;
- as regras são para se quebrar;
- a autoridade não é respeitada nem se dá ao respeito;
- se acha que a causa dos problemas está nos comportamentos dos outros e nunca em si próprio;

As bases para a implementação um sistema caem por si. O liberalismo necessita de uma cultura de respeito pela liberdade dos outros e de um sentimento de responsabilidade dos indivíduos pelas suas acções; o socialismo necessita do sentimento de responsabilidade para com a sociedade em que cada um se sinta pertença do colectivo e ache que o deve servir. Os sistemas autoritários só funcionam enquanto as pessoas acharem que a liberdade que perderam é bem compensada por ganhos a outros níveis.

Por isso é que a implementação de qualquer sistema politico-social vindo de outra sociedade (onde este é um sucesso) não funciona. A cultura social portuguesa encarrega-se de a estraçalhar e subverter. Em muitos países subdesenvolvidos passa-se o mesmo: os modelos não encaixam na realidade cultural e social. Não resolvem nem mudam nada. Porque os modelos não mudam mentalidades. Já dizia Einstein que "era mais fácil quebrar um átomo do que o preconceito". Eu acrescentaria que é mais fácil ultrapassar a velocidade da luz do que mudar uma cultura. Aliás, estou convencido que esta só se altera de dentro para fora.

30 outubro 2007

"Onde estão os Schrecks de hoje?"


Hoje o João Castro do bl-g--x-st-, lançou uma pergunta misteriosa: "Onde estão os Mozarts e os Bachs de hoje?". Eu acrescento: "Onde estão os Schrecks de hoje?". Ouvir midi manhoso aqui.

Um pouco de "litracia" financeira


Um comentário à minha anterior posta veio-me relembrar que o nível de literacia económico- financeira do público nacional não permite que se entendam completamente certas questões. Mesmo por parte de quem as capacidades intelectuais estão acima de qualquer suspeita. Nisto da alta finança às vezes é preciso "dar o litro" para se conseguir perceber o que está em causa. Uma vez que a escola se esqueceu desse por-menor na educação dos cidadãos, a Caldeirada vai prestar esse serviço público explicando como funcionam as taxas de juro de referência no sector bancário.

De facto, os bancos não são mais que meros intermediários. Captam moeda oferecendo depósitos e emprestam esse dinheiro a quem deseje contrair empréstimo. Prestam ainda um serviço de gestão de activos e aconselhamento de aplicações a clientes. A diferença entre a taxa de juro cobrada nos empréstimos e a oferecida nos depósitos dá o lucro que os bancos arrecadam. A taxa de juro é um preço, neste caso o preço do dinheiro.
Depois existe o Banco Central que controla a massa monetária com o objectivo de controlar diversos aspecto da (macro)economia. O Banco Central, no nosso caso o BCE, dispõe de diversos meios de controlar o fluxo monetário e assim tentar controlar a inflação. Os principais são:
- Emissão e recolha de moeda.
- Fixação de reservas obrigatórias no sector bancário: tem por objectivo garantir uma liquidez mínima de forma a que não haja falta de dinheiro "na mão" dos clientes.
- Fixação de uma taxa de juro central: A taxa de juro central é aquela à qual o Banco Central empresta dinheiro às instituições bancárias que necessitem regularizar as suas reservas legais.

O objectivo primário da fixação da taxa de juro de referência é adequar o preço do dinheiro ao crescimento da economia e à evolução da inflação. O Banco Central não é a única fonte de liquidez dos bancos já que estes podem ir buscar dinheiro ao mercado monetário - no qual participam todos os bancos - ou captar através do aforro dos seu clientes. No entanto, a de referência acaba sempre por ter impacto nas taxas a que o público tem acesso. Por sua vez, as taxas de juro ao público condicionam a quantidade de moeda em circulação, a actividade económica e a actividade financeira. O enorme intrincado de efeitos directos e indirectos torna a regulação central uma “arte” complexa e sempre discutível.
A taxa a que o público se financia depende quase sempre de taxas de referência, no caso europeu das EURIBOR. Basicamente estas são as taxas (para maturidades diferentes) a que os bancos emprestam dinheiro uns aos outros dependendo da duração dos empréstimos. Esta consiste numa média das taxas de juro anunciadas por 4 500 bancos pertencentes a 24 países da UE, Islândia, Noruega, Suíça e Associação de Mercados Financeiros (para evitar a cartelização). Esta taxa é, dentro das limitações da metodologia encontrada, uma taxa de mercado e que tende a reflectir a expectativa de subida/descida da taxa do Banco Central no futuro (a 3, 6 e 12 meses) e representa o próprio risco intrínseco da banca (daí o spread face à taxa de referência).
A taxa a que pagamos os empréstimos toma por referência a Euribor à qual ainda se acrescenta um spread ou margem. O spread marca basicamente a diferença entre o que o cliente paga pelo dinheiro e o preço que o dinheiro está cotado no mercado interbancário. O lucro dos bancos na concessão de empréstimos advém do spread que é apenas uma parcela da taxa de juro total. Claro que depois há diversas estratégias dos bancos para a fixação da margem de lucro: umas optam por cobrar spreads baixos mas associam outros produtos financeiros como condição para a concessão do empréstimo como sejam seguros, domiciliação de despesas, etc... que se traduzem em comissões e que representam uma parcela significativa dos resultados da banca.

PS: Posta escrita em estreita colaboração com o consultor Bruno ao qual se agradece o tempo e conhecimento dispensado.

29 outubro 2007

Uma posta à la Ladrões de Bicicletas mas ao contrário



Para aquela esquerda intransigente que acredita que o mercado precisa de árbitros que saibam dar uns toques na bola porque os que estão a jogar não percebem nada daquilo e até – imagine-se – querem ganhar, segue a chamada atenção para o mais recente artigo de Frederic Mishkin da Reserva Federal americana. Através de um sofisticado e infalível modelo macroeconómico e de dezenas de análises sobre coisas importantíssimas como “canais de transmissão da política monetária”, “efeitos sobre a riqueza das famílias” e a “análise da correlação entre a actividade sexual das baleias na população de abutres carecas na cordilheira dos Andes”, o autor demonstra que os bancos centrais não devem tentar evitar bolhas especulativas actuando sobre as taxas de juro porque o conhecimento científico sobre os efeitos dessas medidas é ainda insuficiente. O autor defende então que os Bancos Centrais devem esperar para depois actuarem de forma enérgica e, caso se queira agir preventivamente, informar os agentes para os riscos e endurecer os rácios prudenciais aplicados aos bancos. Será que nem assim os ortodoxos da economia centralista conseguem ver a luz? (via e.conomia)

Para não dizerem que só digo mal do Expresso


Há dias li no Expresso uma reportagem acerca dos candidatos a candidatos nos EUA. No artigo referia-se que do outro lado do Atlântico é normal e até desejado pelos próprios candidatos que se fale da vida privada e dos seus "podres", algo que na Europa é tido como mais sagrado.
Esta notícia fresquinha (via CNN) vem confirmar o que foi escrito nesse artigo: Sarkozy abandona a entrevista ao "60 minutes" porque a entrevistadora insistiu em fazer perguntas do foro pessoal.

Para não dizerem que não há contraditório


Cá vai um artigo - Um Prémio Nobel da Paz Inconveniente - de um "afirmacionista" mas que não deixa de ser polémico. Agradeço ao jd de Do Fundo da Comunicação, o alerta para este texto. Sempre atento.
Aqui fica um "cheirinho".

«O político que se tornou cineasta perde o sono com o previsto aumento do número de mortes devido ao calor. Há um outro lado da história que é inconveniente mencionar: o aumento das temperaturas vai reduzir o número das vagas de frio, bem mais mortíferas do que o calor.»
(in Jornal de Negócios)

E não é que foi premiado

"Eu estive lá!". Esta é a frase típica do cagão que se arma em visionário e que neste caso se aplica a mim. O único documentário que fui ver ao DocLisboa e que foi comentado aqui, foi premiado na categoria de "Prémio para a melhor primeira obra". Quem tem olho, quem é?
PS: É que sou mesmo muita bom cumó caraças!

28 outubro 2007

Posta em destaque

"Uma Mentira Inconveniente" do alf na outramargem. Mais um perigoso negacionista a juntar-se às fileiras. O alf, garanto-vos de fonte segura, não está a soldo de nenhuma empresa, partido ou qualquer outro tipo de interesse que não seja a sua sede de conhecimento.

O ranking não é tudo

Ainda a propósito do ranking das escolas e da sua relevância no sucesso ou insucesso escolar, mesmo que não existissem erros de medida e os critérios fossem perfeitos, a classificação das escolas é apenas mais um indicador. Ela é importante mas não determinante no sucesso ou insucesso académico, profissional e economico-social de uma pessoa. E digo-o pelo meu exemplo e, acho, dos meus colegas. Não era, de longe, o melhor aluno embora brilhasse em algumas cadeiras; tive fases boas e menos boas mas nunca me ensombrou o risco de chumbar; acabei o 12º com uma média longe de ser brilhante. Na escola 513 na lista, o que é que se esperaria de um aluno mediano como eu?
Eu digo o que aconteceu. Consegui uma das 5 únicas notas positivas na prova específica de Matemática no distrito de Portalegre. Fiz uma licenciatura em Economia e outra licenciatura em Gestão de Empresas (com médias modestas, é certo) na Universidade Católica Portuguesa; concluí o Mestrado em Econometria no ISEG (que teve uma taxa de sucesso em torno dos 30%).
Creio que o meu caso só vem demonstrar que o ranking não é tudo. O destino está muito mais nas nossas mãos do que a cultura dominante às vezes nos quer fazer crer.

As pérolas da Visão


Eu que pensava que me ia divertir à grande a desmontar a última Visão dedicada ao ambiente… Não há assim tanto para “malhar” quanto isso e até há bastantes pontos positivos a salientar.

É claro que esta edição tem de ser vista como filtro. No fundo trata-se de um panfleto disfarçado de informação, o que é coerente com a orientação da revista para as “causas”. Só que não é informação. Poderia perfeitamente ser uma newsletter da Quercus (e não d’Os Verdes). Há uma flagrante ausência de contraditório, em especial no que se trata de aquecimento global e os “contras” de certas alternativas ambientais com algumas honrosas excepções. No que toca à consciencialização ambiental a orientação parece-me globalmente positiva.

Comecemos pelos pontos positivos:

- O suplemento Sete traz um conjunto de sugestões para melhorar os nossos comportamentos quotidianos. Os artigos dedicam-se a fazer publicidade (mal disfarçada) a marcas e produtos, mas não vejo grande inconveniente e “premiar” os pioneiros na fabricação de produtos mais amigos do ambiente e mais racionais do ponto de vista energético. Além disso, contribui para estarmos mais informados enquanto consumidores.
- No corpo da revista traz também uma série de outros conselhos em como tornar o nosso dia a dia mais ecológico. Aqui há que aplaudir o enfoque na racionalidade e no combate ao desperdício. Esta deveria ser a orientação ecológica por excelência em vez de andarem constantemente a assustarem a opinião pública com catástrofes e a incutir sentimentos de culpa por sermos tão avançados e por fazermos dói-dói ao planeta. Pelo contrário, centra-se na responsabilização de todos os indivíduos pela preservação do ambiente e dos recursos, em vez de se limitarem a culpar governos, empresas e “Georges Bushes”.
- O único artigo de contraditório digno desse nome debruça-se sobre a problemática do etanol. O enfoque é mais político –a estratégia político-económica da América do Sul, problemas de semi-escravatura - do que técnico e estou em crer que a razão porque ele aparece é para atacar…o Bush, claro está. Mas, no total, o saldo é positivo pois alerta para a “burrada” que pode ser a massificação do etanol e biodiesel a nível internacional.
- O caso da Câmara Municipal de Óbidos é bastante interessante e destaco um projecto a implementar – que não é novidade lá fora – que é o de cobrar uma taxa de recolha de lixo proporcional à quantidade de lixo gerada. Esta ideia creio que até já foi referida neste blogue.
- O artigo do RAP de onde apenas destaco a frase «O planeta que vá gozar com a mãe dele». A crónica está genial. Certeira e inteligente. A não perder.

Vamos lá então às pérolas:

- A dimensão da revista: 252 páginas de papel. Dá ideia que o lema é “vale a pena sacrificar o ambiente desde que seja em nome do ambiente”. Por cada revista vendida será plantada uma “árvore hipernatura”. Esperemos que isso venha mesmo a acontecer porque com uma tiragem que andará nos 100 000 exemplares há muita arvorezinha a repor.
- A profissão de fé catastrofista e dogmática em relação ao aquecimento global já se esperava em bovina subserviência às teses do Nobel Al Gore (o papa) e do IPCC (prelado ambiental). Como diz Izzi num comentário anterior: “que canseira”.
- Há uma excessiva politização do tema ambiente: ministro para aqui, comissário para ali, o que é que aquele fez ou não fez. É interessante que o político é quase sempre visto como o culpado e, ao mesmo tempo, a solução para o ambiente. Um paradoxo em que os media insistem.
- A ideia de avaliar as bancadas parlamentares quanto à sua pegada ambiental parece encomendada pelo bloco de esquerda. Não duvido que serão eles, em conjunto com Os Verdes, os mais consequentes no que toca ao seu estilo de vida. Mas os resultados estão um pouco distorcidos porque há muito deputado que vive no “Cú-de-Judas” (que o elegeu e que ele representa) e não tem outro remédio que andar muitas horas de avião e/ou de automóvel. Não é o caso da maioria dos deputados do BE. Quem faça o seu dia-a-dia no eixo Marquês de Pombal – S.Bento em transportes de certeza que já se cruzou com o Louçã. Pudera! Ele vive na Duque de Loulé. Mas também já o vi a apanhar um taxi no Marquês: transportes públicos são ecológicos mas um bocado ineficientes para quem tem horários a cumprir… Resumindo, quem sai beneficiado neste ranking é o menino da cidade.
- Volta-se a falar de lâmpadas compactas, automóveis híbridos, etc… mas não se explicam os contras e o critério com que devem ser utilizados para serem realmente vantajosos.
- Houve uma sugestão a que achei especial piada e que foi a do redutor de fluxo. Ao que parece trata-se de “uma pequena peça que reduz em cerca de 50% o caudal da torneira”. Isto, meus amigos, faz-me lembrar um aparelho que tenho instalado em minha casa, que tenho ideia de ter visto enquanto vivi em casa dos meus pais e…, agora que me lembro, já encontrei nas casas de todos os meus amigos e familiares que conheço. Aquilo chama-se… está mesmo debaixo da língua, hmmm. Torneira! É isso. É uma cena que permite regular o caudal de água que sai do cano. Comprar um redutor é parvo, é desperdício, é redundante.
- A entrevista ao António Mexia (que deixa luzes acesas durante a noite mas garante que são económicas) enquadra-se no limbo entre a propaganda e a publicidade. É por estas e por outras que a imagem da EDP tem saído do marasmo em que se encontrava. Bom para a EDP. Só que o negócio da eólicas serve um lóbi e é o que na gíria se costuma chamar “uma mama”. Os leitores deveriam ser informados de quanto lhes vai custar a ecologia no futuro.
- A exaltação da agricultura biológica também pode ter um lado perverso. Em grande escala e sem se tomarem as devidas precauções, pode levar a problemas de escassez. Por alguma razão se investiu, no último século, em químicos que preservassem as colheitas.
- A revista agradece, na página 15, a todos os patrocinadores desta edição. É curioso constatar que entre a cerca de meia centena de patrocínios se encontra o da própria Visão. Confesso que desconhecia esta modalidade.

Conclusão: Um panfleto bem conseguido, educativo e que reflecte o “estado da arte” do ambientalismo popular.

26 outubro 2007

O ranking do meu liceu


Resolvi aceitar a proposta do Vasco no Memória Inventada, que acharia bem que se estendesse a toda a blogoesfera nacional.

O meu liceu - Escola Secundária D. Sancho II de Elvas - está na posição 513, segundo a classificação do DN.

25 outubro 2007

Isto vai ser tão giro

A Visão desta semana é dedicada inteiramente ao ambiente. Promete-se futura posta com as pérolas que se vão encontrar.

Posta recomendada

"Meu Caro Teixeira dos Santos" do rabugento mas imperdível JCS no Lobi do Chá.

Fui ver

"Nach de Musik" sobre o maestro jubilado Otmar Suitner e realizado pelo seu filho Igor Heitzmann, no DocLisboa. Adorei e aconselho qualquer melómano que goste de música erudita a vê-lo. Não vale a pena tentarem o DocLisboa porque já não vai repetir. Pode ser que apareça no YouTube mas acho difícil porque o documentário tem quase duas horas. O documentário tem bons momentos de humor mas não é, de todo, humorístico. O documentário transpira, isso sim, música.
Achei muita piada a um episódio que realçava a ignorância musical dos dirigentes culturais da RDA (onde Suitner fez a maior parte da sua carreira) mas a plateia não reagiu tanto quanto noutra passagem em que Otmar falava de alguém que lhe disse que tinha "vendido a alma ao diabo" quando decidiu ir para a RDA. Será que a o primeiro episódio foi demasiado subtil e ninguém entendeu? ou será que havia algum enviesamento ideológico na plateia?

24 outubro 2007

Urticárias


Muita gente aqui na blogoesfera tuga não se apercebe que o seu conceito de punição do disparate se aproxima perigosamente de um outro conceito chamado "censura". Pergunto eu: quem determina o que é ou não disparate? A quem damos o lápis azul? O disparate não precisa de quem o cale, mas de quem o rebata de forma livre e competente.
Recomenda-se a leitura desta longa posta na Memória Inventada (via Bl-g-x-st-).

23 outubro 2007

Contra o bovínico consenso


O João Miranda desenterrou mais um negacionista do fenómeno do Aquecimento Global. Bob Carter numa palestra expondo a sua tese. Espera-se que na blogoesfera se contra-argumente pelo menos com a mesma elegância de Bob Carter. Não valem argumentos do tipo "o gajo é um vendido a soldo de empresas de energia australianas e multinacionais!" nem outros do género. Espero que se responda com Ciência e factos.
Correcto ou não, Bob Carter confirma uma das mentiras de Al-Gore no seu aclamado documentário e para a qual eu já havia chamado atenção aqui: a comunidade científica não é consensual quanto à existência de um fenómeno de aquecimento global de origem humana.

Biting the hand that feeds


Pergunta o jcd se, ontem, no Prós e Contras foram abordados uma série de temas relacionados com a pobreza. Chamou-me a atenção o segundo ponto: a criação de riqueza. Este é um aspecto importantíssimo e que divide intelectual e politicamente a malta deste país à beira-mar plantado. Vivemos numa cultura que ora se deslumbra ora desdenha o sucesso; em que a palavra negócio é quase sempre usada em sentido prejorativo; em que se acha que os ricos são-no porque roubam a sua riqueza aos que agora são pobres. Num contexto destes não admira que a máxima seja "Dinheiro há, está é mal distribuído", como diriam os grandes Peste & Sida. Este quadro mental denota um conservadorismo que acha que criar riqueza é um mal porque aprofunda as diferenças económicas e sociais, porque dá cabo do meio ambiente, porque desemboca no consumismo, porque é sinónimo de esperteza e ganância, etc... Não reparam que sem a espiral de criação de riqueza lhes seria muito difícil pertecencerem hoje à elite dos que se podem dar ao luxo de ter tempo e capacidade de reflectir sobre estas questões.

Adenda: Post corrigido devido a uma falta de atenção do autor.

Sugestão revolucionária

Parece que a questão das linhas de alta tensão estão a gerar um movimento de histeria com direito a greves de fome e tudo. Para além de desproporcionado, é parvo. Vou atrever-me - à semelhança do que fez Sérgio Coimbra, director do Meia-Hora - a sugerir uma alternativa de protesto. Porque não atarem-se aos postes de Alta Tensão? Quem se conseguir atar mais alto ganha o prémio do mais revolucionário (e talvez do mais chamuscado...)
Assinale-se a honestidade intelectual do bloquista Daniel Oliveira quanto a este assunto dos protestos.

O caso Radiohead

O último happening no mundo do espectáculo vai decerto tornar-se um marco na história da indústria discográfica. Para quem não sabe, os Radiohead mandaram a sua editora às urtigas e decidiram distribuir o seu novo álbum na Internet. Com distribuir não se quer dizer vender. Os Radiohead decidiram ser originais e deixaram ao critério de cada ouvinte o preço a pagar pelo álbum: de zero a infinito. Por serem os Radiohead, o impacto desta acção é uma pedrada no charco e um enorme manguito às editoras. É apenas mais uma manifestação da transformação da indústria discográfica e do negócio dos músicos, mas tem um simbolismo que será lembrado como o momento da viragem.
Não acredito que signifique o fim da música em suporte físico (até se voltaram a vender LP’s em vinil!). Essa terá sempre um público de nicho dispostos a continuar a pagar por ter um objecto com carácter artístico (as capas, os digipacks e as letras) e capaz de proporcionar uma qualidade sonora superior à da média dos ficheiros digitais (até ver…).

Esta estratégia dos Radiohead consiste - na prática e de uma forma bastante cool e adequada ao seu núcleo de fãs - em distribuir gratuitamente o seu álbum dando a opção ao downloader de fazer um donativo à banda. No fundo é isto só que embalado com a dose certa de idealismo e espírito revolucionário. Brilhante!

Não acredito que a generalização deste modus operandi (hoje estou cheio de estrangeirismos! Pareço mesmo um crítico de música de um qualquer jornal de grande tiragem) consiga rentabilizar, por si, a música oferecida. Para haver criação de valor num mercado tem de haver um ingrediente importante: a escassez... Se o download é passível de ser gratuito, deixa de haver escassez. Mas essa é a tendência actual graças aos programas de file-sharing. Não havendo escassez, a banalização destas campanhas gerará prejuízos pois em média os donativos tenderão a ser nulos.

Existe, no entanto, a possibilidade de rentabilizar a distribuição digital de músicas. Basta que se criem os incentivos certos. E para isso faz falta outro ingrediente importante: a imaginação. Dou um exemplo praticável em bandas com legiões de fãs relevantes: se estas fizerem depender o número de concertos a dar em cada país ou cidade de determinadas quotas de donativos estas conseguirão facilmente pôr os seus álbuns digitais a dar lucro. Basta que, como os Radiohead, dêem à coisa um ar cool e nada interesseiro.

A questão dos concertos não é, aliás despicienda. Esta é actualmente a grande fonte de receitas das bandas (as receitas dos discos ficam, na sua maioria com as editoras). Apenas os grandes artistas conseguem ver algum da venda dos seus discos. Os Radiohead, mais uma vez, a par da distribuição do seu novo álbum anunciaram que vão dar muito poucos concertos. Os ficheiros são o “isco” para arrastarem os seus fãs a encher estádios que, já vão avisando, serão poucos. Sendo poucos, já se está mesmo a ver que esses mesmos bilhetes serão vendidos a preços exorbitantes (se não for no mercado branco, será no negro).

Esta previsível revolução no mundo do espectáculo consistirá no empowerment (toma!) artístico e financeiro dos artistas. Estes dependerão cada vez menos das editoras na definição da forma e conteúdo do material que editam. Tenderão a tomar cada vez mais nas suas mãos o desenvolvimento das suas carreiras. Esta fragmentação do negócio trará mais concorrência mas, acima de tudo, serão um incentivo à criatividade, o que só poderá ser encarado com optimismo por parte do público. As bandas vão ter de começar a perceber do negócio e do meio em que se movem (ou a contratar alguém que perceba) uma vez que o talento musical não basta – não faltam exemplos na história da música de intérpretes e compositores brilhantes mas que fracassaram nas suas carreiras por não entenderem ou não se quererem adaptar ao mercado musical.

Estas são apenas as minhas conjecturas. Será interessante acompanhar o desenrolar desta aventura e ver até que ponto o que acabei de escrever será uma patacuada.

22 outubro 2007

Não percebo

Como criar um momento épico no telejornal

Dizer: "E agora retomamos a notícia de abertura".

Um gajo levanta logo os olhos do que estava a fazer e enquanto os olhos focam e não focam o televisor tentamo-nos recordar com que raio de notícia interessante é que abriu o telejornal. Depois ficamos a saber que afinal os bombeiros conseguiram tirar o gato do cimo da árvore ou que o trânsito já foi normalizado no Beco da Ramada em S. Gerardo de Alcoitão.

A bengala da notícia de abertura já vai perdendo o seu impacto. É um bocado como o (ab)uso das figuras de estilo ou das palavras "novas" sem critério.

21 outubro 2007

Nota-se muito que comprei o Expresso este fim-de-semana?

Olha outro...


«A Ciência está a chegar aos seus limites? É esta a pergunta que George Steiner, Gerald Edelman (Nobel da Medicina de 1972) e outros cientistas de renome mundial vão tentar responder[...]»
(in Expresso)

Podem perceber de Ciência mas de História, muito pouco.

Uma pérola no Expresso


Hoje encontrei uma pérola no Expresso (versão impressa) que é bem capaz de ganhar o prémio "Títulos que não têm nada a ver com a notícia" do ano. É uma daquelas notíciazinhas no cantinho da última página do jornal e que tem por título: "Um quarto dos alemães defende nazismo" (sublinhado meu). Ganda bomba!, pensa o leitor. Depois lê-se a notícia e diz: «Um em cada quatro cidadãos germânicos acredita que havia aspectos positivos durante a era nazi, segundo a 'Stern' . A população mais idosa é a menos crítica».

A notícia só revela que um quarto dos alemães está bem informada do ponto de vista histórico e/ou viveu naquela época - o III Reich tirou a Alemanha de uma profunda crise económica e devolveu-lhe a auto-estima perdida após a I Grande Guerra. Repare-se na falta de subtileza da interpretação da informação. É de facto leviano catalogar pessoas como simpatizantes do nazismo por acharem que havia aspectos positivos durante a era nazi. Não se lhes perguntou (ou não se publicou) se elas achavam se era desejável o regresso do nazismo. Mas esta obsessão pelo politicamente correcto e por tratar a história a preto e branco leva a este tipo de tratamento tendencioso das notícias. Se perguntarem aos russos se acham que havia aspectos positivos no comunismo da era de Estaline, a proporção de respostas será, quase que aposto, superior. Isso fará delas estalinistas? E quase que aposto que haveria um número significativo de russos a achar que o estalinismo deveria regressar - exemplos de manifestações pró-estalinistas não faltam. Como seria dada essa notícia no Expresso?

18 outubro 2007

Chop Suey

Os clássicos cheiram-se à distância e tendem a propagar-se no infinito.

(ver original aqui)

17 outubro 2007

Dia de acção atrasado

Aproveite para fazer exercício e ande de velocípede. De qualquer forma você não vai ter outro remédio quando a gasosa atingir os 100 EUR/l lá para o fim do ano...

(posta do Conde Drácula. Não tem aparecido por ter muitos castiçais para limpar lá no seu castelo. Mas eu vou-lhe roubando umas postas sempre que posso)

Coisas perfeitamente normais


Hoje vi na tv uma notícia sobre um embróglio ali para os lados do Porto. Parece que foi permitida a construção de um prédio com janelas e varandas viradas para um terreno contíguo. Ao que parece, isso é ilegal e o proprietário do outro terreno conseguiu uma sentença (acórdão?) do Supremo Tribunal a dar-lhe razão. Achei curioso que se tenha apenas frisado en passant que a responsabilidade também deveria ser compartilhada pela Câmara.
Este caso sugeriu-me, no seu tratamento pelos media, muitas similaridades com o caso da REN. Parece que as entidades estatais apenas são ligeiramente culpadas pela situação criada. Num caso e noutro, não foram entrevistados representantes dos organismos oficiais que são responsáveis pelas licenças e permissão das alegadas aberrações. Nem sequer os tribunais pela lentidão do seu funcionamento (para o caso ter chegado ao Supremo, imagino o tempo que o homem já deve andar às voltas com o processo). A incompetência e ineficácia da máquina burocrática nunca é posta em causa nos termos do real escândalo que isso significa. Coisas perfeitamente normais...

O liberlismo não é nenhum mar de rosas

Muitas são as tentativas de demonstrar que o modelo liberal não nos serve demonstrando que não é o mar-de-rosas que se apregoa. Têm razão. E apoiarei quem denuncie os que o apregoam. O modelo liberal (neo-, ultra-, hiper- , ... o que seja) não é nenhum mar-de-rosas, nenhum remédio-santo, nenhum paraíso. É, no entanto, melhor que os modelos estatistas e centralizados que estes críticos do liberalismo defendem.
Os modelos liberais são preferíveis aos modelos estatais. De modo análogo, prefiro uma democracia com todos os seus defeitos a uma ditadura com todas as suas qualidades. E, da mesma maneira, quem argumentar que a democracia é remédio santo de todos os problemas, está a mentir.

16 outubro 2007

Do nacional-coitadismo à revolução


Engraçado como, sobre uma mesma realidade, e se podem ter visões diametrais. O João Rodrigues acha que, a propósito da pobreza, se empurram demasiado as culpas para o próprio indivíduo. Ora eu acho que na nossa cultura portuguesa predomina exactamente o contrário: a culpa é sempre do sistema e dos outros e nunca dos próprios indivíduos. A isto costumo chamar nacional-coitadismo. Apesar de tudo e como tento não ser maniqueísta, creio que a verdade está no meio. Mas esta visão da pobreza e a constante insistência na omnipotência do Estado (ó vaca sagrada!) a que o João Rodrigues nos habituou no Ladrão de Bicicletas, denuncia a sua escola revolucionária. Pois que não há revolução que se desencadeie sem pessoas revoltadas contra algo extrerior a si (que acreditam ser a fonte de todos os males) e sem uma doutrinação na fé de que o Estado é ideal para se substituir aos indivíduos nas suas escolhas. De preferência um Estado dirigido pela elite de que o João Rodrigues faz parte.

15 outubro 2007

Hoje é dia de Ah! São...

Hoje é dia de Acção XX

Não utilize preservativos ou diafragmas que não sejam recicláveis. Se possível, reutilize-os até se romperem. Quem ganha é o ambiente onde você e a sua centena de filhos irão viver mais saudáveis.

Hoje é dia de Acção XIX

Não conduza como um taxista!

Hoje é dia de Acção XVIII

Não ande de táxi! Os fogareiros (90% deles, vá) conduzem mal p’ra caraças. Acelerar a fundo para depois travar a fundo no sinal vermelho 50 metros a seguir é a manobra típica.

Hoje é dia de Acção XVII

Ande de transportes públicos sempre que puder. As vantagens em termos de consumo de combustíveis são óbvias e não vale a pena estar a explicar. Esta medida não é, no entanto, compatível com a medida do papel higiénico antes referida. Se já há dias difíceis sem essa medida…

Hoje é dia de Acção XVI

Siga o exemplo de Sheryl Crow e use apenas uma folhinha de papel higiénico de cada vez que se sentar no trono. Nada de lavar que isso gasta água e depois fica pior a emenda que o soneto. Não se importe com o a possibilidade de mau cheiro, os antigos não tinham destas mariquices poluentes e não morriam por isso. Antes pelo contrário, eram rijos como cornos.

Hoje é dia de Acção XV


Pratique mais sexo durante o dia. Assim você poupará em média 40Wh por dia em iluminação, o que ao fim do ano se traduz em energia suficiente para manter uma lâmpada anti-moscas ligado durante 5 dias dando azo à electrocução potencial de 10 000 moscas. Se não se importar de praticar o saudável desporto na completa escuridão porque o seu parceiro(a) é feio(a) como a noite dos trovões alegre-se! Você já é um amigo do ambiente e não sabia.

Hoje é dia de Acção XIV

Não mande beatas para o chão. Se não tem cinzeiro no carro, arranje. As beatas não são biodegradáveis, contribuem para a poluição dos solos, para a poluição visual e são responsáveis por incêndios em áreas florestais.

Hoje é dia de Acção XIII

Não faça dos ecopontos uma lixeira. Assim é pior a ementa que o corneto.

Hoje é dia de Acção XII

Evite a utilização de jipes e outros monstros rodoviários. Bem sei que os nossos ecologistas são vistos a andar nesse tipo de carros, mas isso deve-se certamente ao facto de andarem sempre no campo a cuidar do nosso (bom) ambiente. Se é para ir para o campo então já se justifica ter esse veículo. Se for só para subir melhor os passeios na cidade, pense melhor. Se calhar o ambiente merece melhor.

Hoje é dia de Acção XI

Não apoie a PAC e o proteccionismo dos produtos agrícolas ocidentais. É possível produzir muitos dos produtos agrícolas, de forma mais produtiva, com menor recurso a fertilizantes artificiais nos solos africanos. E de forma mais barata. Isso poderia ser até o romper do ciclo vicioso da pobreza em alguns países.

Hoje é dia de Acção X

Evite os produtos com excesso de embalagem. Fazem mais lixo, que na maior parte das vezes não traz qualquer vantagem ou tem qualquer utilidade.

Hoje é dia de Acção IX

Hoje é dia de Acção VIII

Lembre-se que energias alternativas não são sempre sinónimo de energias limpas. Apesar de se “venderem” como tal.