O nascimento de um novo órgão
Foi ontem inaugurado o novo órgão do Mosteiro dos Jerónimos! Um momento assinalável pois era uma pena (para não dizer vergonha) que uma das mais monumentais igrejas do país não tivesse, desde há mais de 50 anos, um instrumento digno para a liturgia e concertos. Ao que parece, a intenção inicial era a de construir um grande órgão mas as autoridades responsáveis pelo património e por este monumento em particular puseram algumas dificuldades (oportunas ou não, desconheço) o que originou que optasse antes por construir um órgão de coro transportável (quando lá forem espreitem por baixo que vão ver umas rodinhas).
O projecto foi entregue ao organeiro suíço Hermann Mathis, que já havia cumprido com sucesso a tarefa de construir um órgão de coro móvel na Capela Sistina e que construiu recentemente um órgão papal em Regensburg. O organista do concerto inaugural foi Wolfgang Seifen - que compôs a cantata do 80º aniversário do papa Bento XVI - e improvisou em vários estilos durante todo o concerto(!) em alternância com o coro de Santa Maria de Belém. O conjunto "ideal", portanto, para este bastião da ortodoxia católica que é a paróquia de Santa Maria de Belém. Com uma acústica particularmente difícil, a concepção e harmonização deste instrumento devem ter sido um grande desafio para o organeiro. O resultado final mostra que o objectivo foi, mais que conseguido, transcendido. Órgão de sonoridade presente mas não agressivo, com uma clareza e definição do som que denota um trabalho de excelência. Disse-me alguém do coro que apesar do órgão praticamente não ser visível a partir do local onde este canta habitualmente, este ouve-se melhor do que o órgão electrónico que antes os acompanhava e que estava instalado mesmo ao lado(!). Mais uma prova de que não há nada como o original e de que cada cêntimo gasto num órgão de tubos de qualidade tem um enorme retorno. Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa e Portugal estão de parabéns.
Nas notas do programa inaugural o órgão é referido como tendo uma concepção barroca. Do que ouvi e vi, de barroco só se for a disposição dos registos. De resto, o órgão soa (e muito bem) a órgão romântico/moderno com timbres suaves e ricos em harmónicos. Outra decisão tomada pelos promotores do projecto e organeiro foi o de dividirem alguns registos em mão esquerda- mão direita como é típico em instrumentos ibéricos. Se acho que não fica mal dar um toque português/ibérico a um instrumento como este, o mais coerente e consequente seria ter construído um órgão de carácter ibérico do ponto de vista sonoro. É verdade que se podem tocar meios registos - género tipicamente ibérico em que do lado esquerdo do teclado o organista dispõe de timbres diferentes, e por vezes contrastantes, dos do lado direito - mas num órgão com sonoridade romântica/moderna alemã não sei se vai dar grande resultado.
Esta é aliás a única crítica que se poderá fazer a este projecto. Não teria sido mais adequado construir para os Jerónimos um órgão que tivesse alguma coisa a ver com o órgão ibérico, e mais concretamente com a tradição portuguesa de organaria? Não pedia que soasse igual aos órgãos históricos mas que representasse uma evolução que parte desse património. Como se a actividade organística genuinamente portuguesa não tivesse sido interrompida entre meados do século XIX e início do séc. XXI. Resta a esperança que venha a ser construído, por um português ou não, um grande órgão nos Jerónimos e que faça jus ao monumento não só do ponto de vista histórico como também sonoro.
O projecto foi entregue ao organeiro suíço Hermann Mathis, que já havia cumprido com sucesso a tarefa de construir um órgão de coro móvel na Capela Sistina e que construiu recentemente um órgão papal em Regensburg. O organista do concerto inaugural foi Wolfgang Seifen - que compôs a cantata do 80º aniversário do papa Bento XVI - e improvisou em vários estilos durante todo o concerto(!) em alternância com o coro de Santa Maria de Belém. O conjunto "ideal", portanto, para este bastião da ortodoxia católica que é a paróquia de Santa Maria de Belém. Com uma acústica particularmente difícil, a concepção e harmonização deste instrumento devem ter sido um grande desafio para o organeiro. O resultado final mostra que o objectivo foi, mais que conseguido, transcendido. Órgão de sonoridade presente mas não agressivo, com uma clareza e definição do som que denota um trabalho de excelência. Disse-me alguém do coro que apesar do órgão praticamente não ser visível a partir do local onde este canta habitualmente, este ouve-se melhor do que o órgão electrónico que antes os acompanhava e que estava instalado mesmo ao lado(!). Mais uma prova de que não há nada como o original e de que cada cêntimo gasto num órgão de tubos de qualidade tem um enorme retorno. Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa e Portugal estão de parabéns.
Nas notas do programa inaugural o órgão é referido como tendo uma concepção barroca. Do que ouvi e vi, de barroco só se for a disposição dos registos. De resto, o órgão soa (e muito bem) a órgão romântico/moderno com timbres suaves e ricos em harmónicos. Outra decisão tomada pelos promotores do projecto e organeiro foi o de dividirem alguns registos em mão esquerda- mão direita como é típico em instrumentos ibéricos. Se acho que não fica mal dar um toque português/ibérico a um instrumento como este, o mais coerente e consequente seria ter construído um órgão de carácter ibérico do ponto de vista sonoro. É verdade que se podem tocar meios registos - género tipicamente ibérico em que do lado esquerdo do teclado o organista dispõe de timbres diferentes, e por vezes contrastantes, dos do lado direito - mas num órgão com sonoridade romântica/moderna alemã não sei se vai dar grande resultado.
Esta é aliás a única crítica que se poderá fazer a este projecto. Não teria sido mais adequado construir para os Jerónimos um órgão que tivesse alguma coisa a ver com o órgão ibérico, e mais concretamente com a tradição portuguesa de organaria? Não pedia que soasse igual aos órgãos históricos mas que representasse uma evolução que parte desse património. Como se a actividade organística genuinamente portuguesa não tivesse sido interrompida entre meados do século XIX e início do séc. XXI. Resta a esperança que venha a ser construído, por um português ou não, um grande órgão nos Jerónimos e que faça jus ao monumento não só do ponto de vista histórico como também sonoro.
3 Commets:
E se fizesses um pequeno curso sobre orgãos neste blogue? Estilo Ibérico? Estilo alemão? teclados divididos? sonoridades romanticas ou barrocas?
É que sabes disto como ninguém. Se um leigo como eu entender melhor um orgão, da próxima vez que ouvir um vou estar muito mais atento e vou usufruir muito mais o seu som.
Parabéns Tarzan. Já faz um ano que não contribuis para este blog ;)
De facto, é do caralho! Até fiquei com o órgão a arder...
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