16 outubro 2007

Do nacional-coitadismo à revolução


Engraçado como, sobre uma mesma realidade, e se podem ter visões diametrais. O João Rodrigues acha que, a propósito da pobreza, se empurram demasiado as culpas para o próprio indivíduo. Ora eu acho que na nossa cultura portuguesa predomina exactamente o contrário: a culpa é sempre do sistema e dos outros e nunca dos próprios indivíduos. A isto costumo chamar nacional-coitadismo. Apesar de tudo e como tento não ser maniqueísta, creio que a verdade está no meio. Mas esta visão da pobreza e a constante insistência na omnipotência do Estado (ó vaca sagrada!) a que o João Rodrigues nos habituou no Ladrão de Bicicletas, denuncia a sua escola revolucionária. Pois que não há revolução que se desencadeie sem pessoas revoltadas contra algo extrerior a si (que acreditam ser a fonte de todos os males) e sem uma doutrinação na fé de que o Estado é ideal para se substituir aos indivíduos nas suas escolhas. De preferência um Estado dirigido pela elite de que o João Rodrigues faz parte.

4 Commets:

Blogger alf said...

O tema é complicado. Em Portugal, as condições natais são ainda muito determinantes do futuro que se vai ter - ser filho de pais analfabetos, educado na imagem do pai, encontrar as letras e os números pela primeira vez aos 6 anos, é um fardo muito pesado. Provavelmente, uma pessoa com este começo de vida, e são multidão em Portugal, vai ser pobre.

Depois, este é também um país de amizades. Os pais não poem os filhos neste ou naquele colégio para que tenham melhor ensino mas para que entrem no circulo de amizades que os fará subir na vida.

Conheço muita gente muito melhor na vida do que outros com mais mérito; mas esses outros tiveram menos sorte, menos esperteza ou, simplesmente, foram mais honestos.

E aqui há um aspecto em que o Tarzan tem sem dúvida razão: está na mão de quase toda a gente não ser pobre - basta ser desonesto!

O papel do estado é garantir igualdade de oportunidades. Para isso tem de fazer duas coisas: compensar as insuficiências de berço e combater a corrupção e compadrio (ou seja, estabelecer a meritocracia)

A crescente desigualdade em Portugal significa que o Estado não tem actuado com a eficiência que lhe é exigível.

A principal razão porque o não faz é a de que quem tem o poder de o fazer tem mais vantagem em aumentar a desigualdade do que em a diminuir. Por isso, a desigualdade aumentará sempre até se chegar a uma crise qualquer.

O facto inultrapassável é que os estados são os responsáveis dos níveis de desigualdade nos respectivos paises. A ideia de que um sistema liberal significa ausência de Estado é um equívoco - é preciso imenso Estado para garantir a liberdade!

3:30 da manhã  
Blogger alf said...

Ah, é claro, sou completamente contra a conversa desculpabilizante e/ou reivindicativa. Aí estou de acordo com o Tarzan. Há muitos que nunca lhes ocorreu fazer nada de útil e não merecem nada da sociedade. Muitos mesmo. Mas não todos.

3:52 da manhã  
Blogger NC said...

Alf, no essencial concordo consigo.

Mas acho que, mesmo assim, a não ser que o Estado arranque os filhos aos pais e os eduque como deve ser (e isso é impossível!) não há escola que valha a muita gente. A escola só dá educação técnica. Há outros valores e outra educação que só pode ser dada em casa. A eficácia do papel do Estado é muito limitada. E será anulada se os pais continuarem a ser uns broncos ou a demitirem-se de educar os filhos.

9:08 da manhã  
Blogger alf said...

Exactamente Tarzan, por isso é que a "pedra de toque" da igualdade de oportunidades, do desenvolvimento massivo de um povo, é o pré-primário.

Mas note que os franceses, pelo menos, não têm hesitação nenhuma em tirar filhos aos pais - basta que eles andem mal cuidados e a segurança social cai-lhes logo em cima.

Ou seja, em França os pais não podem ser uns "broncos"

6:10 da tarde  

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