Eu pensava que só os jornalistas é que metiam calinadas destas
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«2. Porque as eólicas (energia renovável e limpa) precisam de reservatórios próximos para armazenar energia;»
Perplexos com a afirmação, eu e outros leitores, perguntámos ao JM o que é que ele quis dizer com isto. Vai daí respondeu
«E energia eólica para ser aproveitada tem que ser combinada com uma barragem. Se não existir uma barragem por perto, quando o consumo é baixo a energia eólica seria desperdiçada. Assim é usada para turbinar água para montante. á gua essa que depois pode ser usada para produzir energia eléctrica.»
Uma vez que, pelos vistos, percebo mais do assunto que o João Miranda, passo a explicar. Como a electricidade "nacional" não é um bem directamente armazenável, a todo o momento a oferta tem de ser igual à procura. A entidade gestora do sistema, a REN, encarrega-se de mandar ligar e desligar centrais consoante as necessidades do momento e seguindo o princípio dos custos marginais crescentes sujeita, como é óbvio, a restrições técnicas estruturais ou fortuitas. Quando a procura desce, por exemplo durante a noite, as centrais com custos marginais mais altos recebem ordem para sair do sistema e permanecem as de custos marginais mais baixos. Pelo facto de a lei obrigar a que toda a energia eléctrica de origem eólica seja absorvida pela rede e de a quantidade de vento não ser controlável, o excesso de oferta pode pôr alguns problemas. Mas há várias formas de resolver esse problema, ao contrário do que o JM sugere. Entre essas soluções a mais comum é desligar centrais, exportar ou regulá-las de forma a que a oferta iguale a procura (usualmente isso acontece com as hídricas).
O que o JM refere de uma forma muito confusa é que algumas barragens têm a capacidade rde inverter o seu funcionamento "chupando" água a jusante e transferindo-a para montante aumentando a quantidade de água armazenada e que na prática corresponde a um armazenamento indirecto de electricidade - chama-se a este processo 'Bombagem'. Isso acontece, de facto, mas não tem nada a ver, na sua essência, com a existência de centrais eólicas. Já existia muito antes da energia eólica surgir no nosso país. A bombagem surgiu numa lógica de aproveitamento de recursos escassos como é a água disponível para produção de electricidade. O que acontece é que, durante a noite, o parque produtor de energia eléctrica está bastante disponível e com custos marginais mais baixos que durante o dia. Como a água tem sempre um custo marginal relativamente alto, em especial no Verão, torna-se interessante fazer bombagem durante a noite utilizando para isso energia eléctrica. Essa mesma água é reaproveitada no dia seguinte para produzir electricidade em alturas de pico. A água é comprada com electricidade obtida com meios baratos (electricidade barata) e ao (re)utilizá-la evita-se a utilização de meios de produção com custos marginais mais altos. Especulação energética! Isto já se faz há muito tempo e em muitos países, com ou sem energia eólica. Mas como o preço da energia eólica é fixo e alto, não há vantagens económicas em aproveitar essa energia. Sendo a rede obrigada por lei a absorver toda a energia de origem eólica, em caso de "excesso" o operador terá de mandar desligar outros grupos geradores o que acarreta custos. Só na hipótese de os custos de retirada de grupos ser superior ao do aproveitamento da energia eólica é que poderá haver vantagem em recorrer à bombagem.
A afirmação de que «Se não existir uma barragem por perto, quando o consumo é baixo a energia eólica seria desperdiçada» não está correcta. A proximidade, desde que não haja constrangimentos de maior ao nível das redes, é absolutamente irrelevante. Como o nome indica, o sistema funciona em REDE.
Como já referi aqui, esse problema pode ser tão mais grave quando se sabe à partida que a produção eólica tem tendência para ser superior durante a noite relativamente ao dia.