Os relatórios são mesmo chatos de ler
A semana passada foi referido nos media um relatório (na realidade são 2) da Direcção Geral de Saúde relativamento ao efeito dos campos electro-magnéticos (CEM) na saúde humana. A avaliar pela generalidade dos títulos encontrados na imprensa tudo parece indicar que o relatório aponta para a existência de riscos. Exemplos:
- "Estudos sugerem precaução na exposição a campos electromagnéticos" no Público com um tímido sub-título "Relação causa e efeito nunca foi provada";
- "DGS confirma risco de doença por exposição a campos electromagnéticos" na Exame Informática e copiado pelo IPJornal;
Curiosamente as duas fontes provêem de empresas do grupo Sonae, onde já se conhece o peso do lobby ambiental.
Ora se o caro leitor se der ao trabalho de ler os referidos relatórios talvez fique surpreendido que este é categórico quanto à inexistência de evidência que responsabilize as radiações electromagnéticas com doenças. Leia-se aqui:
- Fala-se dos perigos causados pelos eventuais efeitos térmicos dos CEM no corpo humano, salientando que os olhos, por não disporem do sistema de regulação da temperatura do resto do corpo, são propensos a cataratas por essa via. Mas diz-se também que «Não há evidência que este efeito cataratogénico ocorra perante os níveis de radiação [...] a que a população em geral está exposta». Págs 22-23. Donde se pode concluir que, se a parte mais indefesa aos efeitos térmicos não apresenta riscos, o resto do corpo ainda menos.
- A influência das antenas de telemóveis é muito reduzida já que «A potência emitida por uma antena de uma estação de base é reduzida [...] de tal forma que, a uma distância de alguns metros os níveis de exposição são inferiores a uma percentagem razoavelmente significativa dos limites de exposição ao público». Pág 24
-Quanto a efeitos sobre o sistema nervoso diz-se que «dada a evidência de este efeito só ocorrer para campos de modulação de amplitude (AM), o que não se enquadra nas características da tecnologia das comunicações móveis». Pág 25; diz-se também que «não foi estabelecida qualquer evidência científica que permita estabelecer uma relação causal entre estes sistemas e a exposição [...] com os episódios de depressão, suicídio ou perturbações do humor» bem como «não estando demonstrado que [...] promovam a actividade epiléptica no organismo humano, nos níveis de intensidade aqui considerados.» Pág 26
- No que toca à gravidez também não há efeitos nefastos comprovados. Pág 26
- Efeitos cancerígenos: «...improvável que este tipo de radiações promova a formação de tumores». Pág 27
- Nem efeitos na produção de melatonina... Pág. 27
- Também se nega a existência de hipersensibilidade aos CEM de natureza fraca uma vez que «os testes laboratoriais realizados nessas situações não comprovaram uma relação causal.» Pág. 28
No relatório gémeo mas mais orientado para as antenas e aparelhos de telecomunicações pode ler-se nas conclusões: «... os níveis de exposição do público às radiações provenientes da instalação de estações de base são muito inferiores aos níveis de referência...» e «Face aos conhecimentos científicos actuais e aos resultados de inúmeros estudos epidemiológicos desenvolvidos até ao momento, não existe perigo para a saúde das populações (incluindo sub-grupos com maior vulnerabilidade, como idosos, grávidas e crianças)». Ponto 7-Conclusões
Perante estes excertos pergunto-me como é que se teve a habilidade de insinuar que o relatório confirmava os perigos da radiação emitida pelas antenas de telecomunicações e cabos de alta tensão. Os jornalistas parecem bem empenahdos em não deixar morrer os mitos urbanos, em especial os mais politico-ambientalmente correctos.
Tudo bem que a DGS se propõe a apoiar e aprofundar os estudos no que toca a esta problemática, mas já se saeb que se não houvesse problemáticas haveria muita gente sem nada que fazer. Como é um assunto da moda e 99,9% da população não tem preparação científica para a discutir e 100% nunca viu nenhum CEM, os responsáveis estão à vontade para levantar a problemática que quiserem.
Eu até propunha que, com base na evidência de que alguns trabalhadores dos altos fornos da Siderugia Nacional tiveram queimaduras e apresentaram sintomas de desidratação, se continuassem a realizar esforços para que se estudem os efeitos dos bicos de gás na saúde humana.
Adenda: Já me esquecia! Os sublinhados são meus
- "Estudos sugerem precaução na exposição a campos electromagnéticos" no Público com um tímido sub-título "Relação causa e efeito nunca foi provada";
- "DGS confirma risco de doença por exposição a campos electromagnéticos" na Exame Informática e copiado pelo IPJornal;
Curiosamente as duas fontes provêem de empresas do grupo Sonae, onde já se conhece o peso do lobby ambiental.
Ora se o caro leitor se der ao trabalho de ler os referidos relatórios talvez fique surpreendido que este é categórico quanto à inexistência de evidência que responsabilize as radiações electromagnéticas com doenças. Leia-se aqui:
- Fala-se dos perigos causados pelos eventuais efeitos térmicos dos CEM no corpo humano, salientando que os olhos, por não disporem do sistema de regulação da temperatura do resto do corpo, são propensos a cataratas por essa via. Mas diz-se também que «Não há evidência que este efeito cataratogénico ocorra perante os níveis de radiação [...] a que a população em geral está exposta». Págs 22-23. Donde se pode concluir que, se a parte mais indefesa aos efeitos térmicos não apresenta riscos, o resto do corpo ainda menos.
- A influência das antenas de telemóveis é muito reduzida já que «A potência emitida por uma antena de uma estação de base é reduzida [...] de tal forma que, a uma distância de alguns metros os níveis de exposição são inferiores a uma percentagem razoavelmente significativa dos limites de exposição ao público». Pág 24
-Quanto a efeitos sobre o sistema nervoso diz-se que «dada a evidência de este efeito só ocorrer para campos de modulação de amplitude (AM), o que não se enquadra nas características da tecnologia das comunicações móveis». Pág 25; diz-se também que «não foi estabelecida qualquer evidência científica que permita estabelecer uma relação causal entre estes sistemas e a exposição [...] com os episódios de depressão, suicídio ou perturbações do humor» bem como «não estando demonstrado que [...] promovam a actividade epiléptica no organismo humano, nos níveis de intensidade aqui considerados.» Pág 26
- No que toca à gravidez também não há efeitos nefastos comprovados. Pág 26
- Efeitos cancerígenos: «...improvável que este tipo de radiações promova a formação de tumores». Pág 27
- Nem efeitos na produção de melatonina... Pág. 27
- Também se nega a existência de hipersensibilidade aos CEM de natureza fraca uma vez que «os testes laboratoriais realizados nessas situações não comprovaram uma relação causal.» Pág. 28
No relatório gémeo mas mais orientado para as antenas e aparelhos de telecomunicações pode ler-se nas conclusões: «... os níveis de exposição do público às radiações provenientes da instalação de estações de base são muito inferiores aos níveis de referência...» e «Face aos conhecimentos científicos actuais e aos resultados de inúmeros estudos epidemiológicos desenvolvidos até ao momento, não existe perigo para a saúde das populações (incluindo sub-grupos com maior vulnerabilidade, como idosos, grávidas e crianças)». Ponto 7-Conclusões
Perante estes excertos pergunto-me como é que se teve a habilidade de insinuar que o relatório confirmava os perigos da radiação emitida pelas antenas de telecomunicações e cabos de alta tensão. Os jornalistas parecem bem empenahdos em não deixar morrer os mitos urbanos, em especial os mais politico-ambientalmente correctos.
Tudo bem que a DGS se propõe a apoiar e aprofundar os estudos no que toca a esta problemática, mas já se saeb que se não houvesse problemáticas haveria muita gente sem nada que fazer. Como é um assunto da moda e 99,9% da população não tem preparação científica para a discutir e 100% nunca viu nenhum CEM, os responsáveis estão à vontade para levantar a problemática que quiserem.
Eu até propunha que, com base na evidência de que alguns trabalhadores dos altos fornos da Siderugia Nacional tiveram queimaduras e apresentaram sintomas de desidratação, se continuassem a realizar esforços para que se estudem os efeitos dos bicos de gás na saúde humana.
Adenda: Já me esquecia! Os sublinhados são meus
4 Commets:
Meu caro Tarzan, admirável a paciência com que desmontou isto. Imagino o trabalhão que os jornalistas tiveram a apresentar o relatório como dizendo o oposto do que efectivamente diz. E insinuando que o Minstério o tem há 4 anos na gaveta para evitar o alarme da opinião pública!!!
O interesse dos media e dos governos é coincidente neste aspecto: só têm a ganhar com a criação de "ameaças". Só elas que fazem com que as pessoas os considerem úteis, guardiães da sua segurança.
Nem mais!
Agora estão a morder as linhas de alta tensão por causa da ... radiação.
Os candeeiros de mesa de cabeceira são muito mais perigosos.
Não há de facto transplante que cure a burrice.
É por estas e por outras que eu já pouco crédito dou a essa raça que se auto-denomina de jornalista (porque aquilo é tudo menos jornalismo...).
Quando se fala em problemas de saúde noutras áreas a conversa é a mesma, assim como as ilações que se tiram (pelo menos as que são tiradas por quem é minimamente conhecedor do assunto): tudo o que vem nas notícias vem distorcido e isso é dizer o mínimo. Talvez alguns jornalistas não o façam de propósito, mas o que é certo é que um jornalista hoje em dia, em Portugal, é pau para toda a obra e não vejo nenhum mais especializado e conhecedor de certa área (a não ser do futebol, aí o que não faltam são repórteres especialistas no assunto). Isto chegou ao cúmulo de um jornalista, que costuma fazer peças sobre desporto (nomeadamente, futebol...), ir entrevistar o Berardo sobre finanças e economia a propósito da sua OPA ao Benfica - o resultado não foi bem aquilo que se esperava...
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