Os novos ventos
A propósito desta posta no Range-o-Dente, queria acrescentar e clarificar alguns pontos.
De facto, as eólicas não são o milagre que tanto se apregoa nos media. Só se falam nas vantagens (que são mais p'ro teóricas) e esquecem-se as desvantagens e, no caso português, os custos. Tal como outras fontes renováveis, a energia eléctrica produzida a partir de energia eólica está à mercê dos caprichos da Natureza. Se não chove, não há barragem que nos valha; se não faz vento não há eólica que nos socorra e com a agravante de esta, ao contrário da hídrica, não poder ser armazenada (parece que já estão a estudar umas mega-baterias para armazenar a energia produzida pelas eólicas mas apenas dura umas horas). Nesta base, a energia eólica é tão desvantajosa como as outras fontes renováveis. Não vejo, no entanto, que este argumento sirva para desqualificar a energia eólica (e creio que não era essa a intenção do Range-o-Dente) pois o parque gerador de electricidade deve ser tão diversificado quanto possível atendendo aos recursos existentes e às limitações das redes eléctricas. Como diz o povo: não ponhas os ovos todos no mesmo cesto. É sempre preferível ter geração que permita reduzir o consumo de combustíveis a não ter. Mas não a qualquer preço, claro está.
Queria acrescentar mais uma desvantagem das eólicas: é que, tendencialmente, a energia produzida a partir de eólicas é inversamente proporcional à altura do Sol. Veja-se o seguinte gráfico correspondente ao diagrama de cargas eólico de 26 de julho de 2007 (também retirado do website da REN):
Repare-se que, à medida que o Sol vai subindo no céu, a energia produzida vai diminuindo, aumentando depois, a partir das 13/14 horas. desconheço as causas desta correlação, mas o que é facto é que existe. Esta configuração tem alguma volatilidade, mas na maioria dos casos o diagrama comporta-se assim. Acerca deste assunto consultar este documento, publicado no site da REN - em especial ponto 3.3 (pág. 4) - relativo ao ano de 2006. Isto implica que, na altura em que é mais necessária, a energia eólica está menos disponível tornando-se por isso pouco útil. Veja-se o diagrama de cargas total (procura/oferta de electricidade registada em Portugal Continental) do mesmo dia.
Este é um diagrama típico de dia de semana (neste caso, uma 5ª feira), que começa à meia-noite com a proura de electricidade a descer até atingir um mínimo às 7 da manhã, altura em que começa a subir rapidamente e atingir um pico por volta das 12h/13h podendo voltar a ter outro pico ao final da tarde (especialmente se for no Inverno). Este diagrama está muito correlacionado com a actividade do país (doméstica, industrial e de serviços) e com as necessidades que envolvam o abastecimento de energia eléctrica. Como se vê, a energia é mais intensamente utilizada (e, por isso, mais escassa) no período das 8h às 20h. Ora, a energia eólica tem menos potencial precisamente nesse período! O grosso da energia eólica é consumida em períodos de vazio onde a energia, por ser menos escassa, é mais barata. Isto implicaria que, em condições normais de mercado, a energia eólica se transaccionaria a preços baixos, menos atraente para quem a produz por implicar um maior período de retorno do investimento. A vantagem da eólica seria a de evitar, eventualmente, o arranque de centrais térmicas ou hídricas nestes períodos o que permitiria poupanças de combustíveis significativas no caso das primeiras e de recursos hídricos nas segundas. Mas, numa perspectiva de estratégia de longo prazo, a solução eólica não oferece grandes garantias devido aos caprichos da Natureza.
Ainda em relação ao preço, o MW eólico é caríssimo não tanto devido às características desta fonte mas devido a condicionantes de regulação. Os anteriores governos e o actual optaram por uma estratégia de incentivo da energia eólica altamente distorcionário que põe os produtores a salvo de flutuações/risco de mercado: o preço recebido por estes é tabelado e muito superior ao que seria encontrado quer por custo marginal quer por mercado (que em teoria deveria ser o mesmo...) o que resulta num "negócio da China" e que justifica a corrida às eólicas nos últimos anos em Portugal. No meu entender seria muito mais transparente que os incentivos incidissem sobre o investimento expondo os produtores ao risco de operação. Haveria menos distorção e o crescimento dos parques eólicos seria mais racional e mais de acordo com a real necessidade de diversificação das fontes de energia no país e no MIBEL.
De facto, as eólicas não são o milagre que tanto se apregoa nos media. Só se falam nas vantagens (que são mais p'ro teóricas) e esquecem-se as desvantagens e, no caso português, os custos. Tal como outras fontes renováveis, a energia eléctrica produzida a partir de energia eólica está à mercê dos caprichos da Natureza. Se não chove, não há barragem que nos valha; se não faz vento não há eólica que nos socorra e com a agravante de esta, ao contrário da hídrica, não poder ser armazenada (parece que já estão a estudar umas mega-baterias para armazenar a energia produzida pelas eólicas mas apenas dura umas horas). Nesta base, a energia eólica é tão desvantajosa como as outras fontes renováveis. Não vejo, no entanto, que este argumento sirva para desqualificar a energia eólica (e creio que não era essa a intenção do Range-o-Dente) pois o parque gerador de electricidade deve ser tão diversificado quanto possível atendendo aos recursos existentes e às limitações das redes eléctricas. Como diz o povo: não ponhas os ovos todos no mesmo cesto. É sempre preferível ter geração que permita reduzir o consumo de combustíveis a não ter. Mas não a qualquer preço, claro está.
Queria acrescentar mais uma desvantagem das eólicas: é que, tendencialmente, a energia produzida a partir de eólicas é inversamente proporcional à altura do Sol. Veja-se o seguinte gráfico correspondente ao diagrama de cargas eólico de 26 de julho de 2007 (também retirado do website da REN):
Repare-se que, à medida que o Sol vai subindo no céu, a energia produzida vai diminuindo, aumentando depois, a partir das 13/14 horas. desconheço as causas desta correlação, mas o que é facto é que existe. Esta configuração tem alguma volatilidade, mas na maioria dos casos o diagrama comporta-se assim. Acerca deste assunto consultar este documento, publicado no site da REN - em especial ponto 3.3 (pág. 4) - relativo ao ano de 2006. Isto implica que, na altura em que é mais necessária, a energia eólica está menos disponível tornando-se por isso pouco útil. Veja-se o diagrama de cargas total (procura/oferta de electricidade registada em Portugal Continental) do mesmo dia.
Este é um diagrama típico de dia de semana (neste caso, uma 5ª feira), que começa à meia-noite com a proura de electricidade a descer até atingir um mínimo às 7 da manhã, altura em que começa a subir rapidamente e atingir um pico por volta das 12h/13h podendo voltar a ter outro pico ao final da tarde (especialmente se for no Inverno). Este diagrama está muito correlacionado com a actividade do país (doméstica, industrial e de serviços) e com as necessidades que envolvam o abastecimento de energia eléctrica. Como se vê, a energia é mais intensamente utilizada (e, por isso, mais escassa) no período das 8h às 20h. Ora, a energia eólica tem menos potencial precisamente nesse período! O grosso da energia eólica é consumida em períodos de vazio onde a energia, por ser menos escassa, é mais barata. Isto implicaria que, em condições normais de mercado, a energia eólica se transaccionaria a preços baixos, menos atraente para quem a produz por implicar um maior período de retorno do investimento. A vantagem da eólica seria a de evitar, eventualmente, o arranque de centrais térmicas ou hídricas nestes períodos o que permitiria poupanças de combustíveis significativas no caso das primeiras e de recursos hídricos nas segundas. Mas, numa perspectiva de estratégia de longo prazo, a solução eólica não oferece grandes garantias devido aos caprichos da Natureza.
Ainda em relação ao preço, o MW eólico é caríssimo não tanto devido às características desta fonte mas devido a condicionantes de regulação. Os anteriores governos e o actual optaram por uma estratégia de incentivo da energia eólica altamente distorcionário que põe os produtores a salvo de flutuações/risco de mercado: o preço recebido por estes é tabelado e muito superior ao que seria encontrado quer por custo marginal quer por mercado (que em teoria deveria ser o mesmo...) o que resulta num "negócio da China" e que justifica a corrida às eólicas nos últimos anos em Portugal. No meu entender seria muito mais transparente que os incentivos incidissem sobre o investimento expondo os produtores ao risco de operação. Haveria menos distorção e o crescimento dos parques eólicos seria mais racional e mais de acordo com a real necessidade de diversificação das fontes de energia no país e no MIBEL.
3 Commets:
Excelente,com chapelada.
Todo este negócio das eólicas é muito suspeito. Durante anos não houve nada em Portugal e de repente cresceu em flecha. Não pode ser por Portugal ser um país "atrasado". Houve qualquer coisa que condicionou o processo de forma diferente do que aconteceu noutros paises
Penso que poderá ter sido exactamente alguém que teve o poder de bloquear o processo até conseguir negociar do estado as contrapartidas que lhe convinha.
Porque essas contrapartidas são ruinosas para nós e interessava saber o porquê de contrapartidas tão exorbitantes. Nos EUA creio que não existe nada disso, apenas alguam isenção de impostas.
Porque é que cá tem de ser diferente?
Porque o processo está nas mãos de uma elite (políticos e lobbiers) e não do mercado. Pareço um market-freak, não pareço?
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