30 julho 2007

Sobre o trabalho


Mais um interessante texto na outramargem do nosso caro Alf.
Não sei se intencionalmente ou se não, o Alf fala da essência da Economia e da reflexão filosófica que descambou nessa ciência, no tempo das perucas.
Porque trabalhamos? Porque tomamos essa opção nas nossas vidas? Foi aa pôr estas (e outras) questões e a tentar respondê-las que Adam Smith formulou o primeiro tratado de Economia.

Gostaria de acrescentar algo à reflexão do Alf. A força motriz da vida em sociedade são as necessidades. À medida que o ser humano garante que determinadas necessidades sejam satisfeitas com o menor esforço possível, salta para outro "patamar". Com os antigos problemas "resolvidos" surgem outros novos. Muitas vezes os novos problemas resultam da constatação que a antiga forma de satisfazer uma necessidade mais antiga deixou de ser possível ou viável. O Homem vive numa espiral de satisfação de necessidades e solução de problemas relativos a essa satisfação. Adam Smith constatou que a motivação principal do ferreiro ao fazer enxadas é conseguir que em troca o lavrador lhe proporcione alimentos, o tecelão a roupa, etc... Trata-se de uma rede de satisfação de necessidades.
Com o passar do tempo vão-se acumulando mais e mais necessidades para serem satisfeitas. Há 30 anos atrás os anti-virus apenas se encontravam nos hospitais e farmácias... É, no fundo, esta espiral de necessidades que permite que o PIB (criação de valor) cresça. Só a satisfação de uma necessidade traz valor.

5 Commets:

Blogger alf said...

Simples não é? Mas o que é uma necessidade?

é algo que está implantado no nosso cérebro, programado, determinado por aquilo a que chamamos de "instintos".

Temos vários instintos, que a evolução foi adicionando ao longo das espécies.

O da sobrevivência, o sexual, o maternal, o territorial... só para começar, porque a panóplia é grande e de sofisticação crescente

O da sobrevivência é que deu o pontapé de saída para a actividade económica; mas a partir do momento em que este instinto está tranquilo, são outros os instintos que exigem satisfação.

E, como seres programados para a vida social, temos até estranhas necessidades, como a de "sermos úteis"!

Eu trabalho para satisfazer que necessidade? Económica é que não é!

A nossa organização social visa a felicidade, e isso é muito mais do que a sobrevivência.

Nos EUA não há aqueles grupos de pessoas que vivem 2 séculos atrás no tempo? Que necessidade procuram eles satisfazer?

Hoje, grande parte das pessoas que trabalham já o não fazem para satisfazer uma necessidade de sobrevivência. Ninguém quer trabalhar pelo dinheiro! As pessoas escolhem a sua actividade porque se sentem bem, felizes, com ela! Mesmo que possam optar por actividades mais rentáveis.

Portanto, começamos a perceber que, se calhar, o que traz valor, o que permite que o PIB cresça, é as pessoas poderem fazer aquilo que as faz felizes...

Muito diferente dessa visão economicista dos tempo das perucas, não é? Todas as teorias têm um prazo de validade, essa já caducou...

Termino com a Dinamarca. Alguém na Dinamarca se sujeita a um emprego em que não se sente bem?

Um abraço, poder discutir estas ideias satisfaz uma grande necessidade minha. Obrigado.

1:10 da tarde  
Blogger antonio ganhão said...

Eu respeito as pessoas que trabalham por necessidade, porque precisam de ganhar o seu sustento, e tento não abusar da sua situação sobrecarregando-as com trabalho.

Depois, grande parte das necessidades é induzida: hoje um carro é quase um bem essencial, pelo menos ao nosso bem-estar, mas a paranóia nacional pelos Audi é já algo induzido.

2:27 da tarde  
Blogger NC said...

Alf, a sua análise tem pontos muito interessantes mas tenho os seguintes pontos a rebater

"Económica é que não é!"
Sem querer ser pedante, gostava de tornar os conceitos um pouco mais rigorosos. Creio que, neste contexto, o Alf teria sido mais correcto se dissesse "Monetária é que não é!".
Tudo o que se refira a escolhas é Economia (ciência das escolhas). Se ser útil é relevante nas suas preferências, o ser útil é um "bem económico"; aquilo de que se abdica para se ser útil será o "mal económico" (vulgo preço) que se terá de suportar para ter o "bem". Há uma escolha?: É Economia! :-)

"Ninguém quer trabalhar pelo dinheiro!" Não subestime o ser humano...

"As pessoas escolhem a sua actividade porque se sentem bem". Se não existem barreiras à informação nem à mobilidade isso é verdade. Como sabe, nem sempre é assim.

"Todas as teorias têm um prazo de validade, essa já caducou..." Não diria que caducou. Apenas se tornou óbvia e simples. É sempre um bom ponto de partida. Tal como a física newtoniana.

"Alguém na Dinamarca se sujeita a um emprego em que não se sente bem"
Não sei. Certamente haverá muitas. Mas se existem mais que cá é porque há mais e melhor oferta e há melhores condições para contratar/despedir. Um mercado de trabalho mais fluído. Muito provavelmente a ênfase é posta na capacidade em ENCONTRAR o emprego que se queira e não em MANTER um emprego para o resto da vida. Isso é bom quer para quem trabalha quer para quem emprega. Por cá...

3:07 da tarde  
Blogger alf said...

Tarzan

Eu estou no meu papel de agitar as cabeças ehehe

Economia, mesmo no seu conceito alargado, é sempre a ciência da escassez de bens ou serviço, sempre algo ligado ao consumo.

Ora desde que a sobrevivência deixou de ser um problema, o cerne da questão deixou de ser o binómio produção / consumo

Não cabe à economia a organização da sociedade humana, ela é apenas um dos ramos de pensamento a ela necessário; mas é importante que compreenda que o cerne da questão passou a ser a necessidade de integração das pessoas, de realização pessoal, de felicidade.

Esse é que é o motor da sociedade, a energia que a anima. Já não é a luta pela sobrevivência.

O apelo ao consumismo tem sido uma forma artificial de manter as antigas teorias economicas nos paises atrasados. Claro que nos paises nórdicos, holanda, Alemanha, isso não existe, porque essas sociedades há muito que não seguem essas teorias.

Esta mudança não é uma mera questão de flexibilizar os despedimentos. Uma pessoa para se sentir realizada com o que faz tem de se sentir competente e isso implica formação adequada e uma nova mentalidade. Portanto, o sistema começa a funcionar na pré-primária, leva gerações a pôr de pé.

1:11 da tarde  
Blogger NC said...

Não Alf,

Economia é a ciência das ESCOLHAS humanas. Lá que a apliquem maioritariamente a assuntos relativos a dinheiro, consumo, produção... são outros quinhentos.

A Economia é só uma das formas de analisar realidades humanas. Há muitas outras.

Qual é o segredo para fazer as pessoas felizes? Não sei. Só sei que cada um terá a sua maneira própria de ser feliz e cada um saberá melhor que ninguém o caminho para a sua felicidade. Muita gente pensa que tem a solução, o sistema ideal para o Céu na Terra. Então quando o poder político se convence disso as consequências são desastrosas...

2:01 da tarde  

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