28 setembro 2007

O Prof. Aníbal escreveu


E escreveu bem (via Blogue Atlântico)

«Os objectivos de eficiência e de crescimento económico não podem, contudo, fazer-nos perder de vista outros objectivos igualmente cruciais: a igualdade de oportunidades e a coesão social. [...] A globalização não deve ser um álibi para desresponsabilizar aqueles que têm o dever de assegurar as condições que garantam não só uma concorrência leal e disciplinada, como também um elevado nível de coesão económica e social, protegendo os segmentos mais desfavorecidos e vulneráveis e promovendo um acesso generalizado à educação, às novas tecnologias e à sociedade de informação.»

(sublinhados meus)

Pena que os media tivesse interpretado o texto como anti-globalização.

A economia do trânsito


Caros leitores, hoje vamos aplicar os conhecimentos apreendidos em postas anteriores. Nomeada e mormente vamos juntar esta questão a esta outra. Estamos prontos? Vá lá sugadinhos nos vossos lugares.

Porque é que nunca se consegue resolver o problema do trânsito e das filas intermináveis? Ao analisar as causa do problema é normal encontrar "n" explicações: má concepção das estradas, poucos acessos, semáforos mal regulados, xicos-espertos, estacionamento em segunda fila (o Martim Moniz é um caso único do mundo em que se resoveu o problema empurrando a 2ª fila para a faixa da esquerda), falta de policiamento, má rede de transportes públicos, urbanização intensiva, etc..., etc..., etc... Sem esquecer que estes argumentos têm a sua validade, eles são, no entanto, sintomáticos de uma atitude bem comum que é a de atribuir a culpa aos outros - no governo, na Câmara Municipal, na Polícia, na Carris - esquecendo a quota parte da culpa que nos cabe.

Basicamente o trânsito surge de um desajustamento entre a quantidade de carros existente na cidade e os acessos nesta e para esta. Poder-se-á pensar que se resolve aumentando a quantidade de vias de acesso e aumentando a capacidade das existentes. A experiência diz que em pouco tempo a situação volta ao que era. Melhorando as condições de circulação passa a compensar cada vez mais utilizar o transporte individual; cada vez mais pessoas decidem comprar ou levar o carro todos os dias voltando a intupir o trânsito, entrando-se numa espiral que parece não ter fim.
Este problema pode ser analisado segundo os princípios enunciados nesta minha posta. A razão pela qual as pessoas insistem em trazer o carro para a cidade sabendo que vão enfrentar muito trânsito com elevado grau de probabilidade tem a ver com preferências e percepção. A maior parte destas pessoas não acha o trânsito suficientemente mau a ponto de deixar de trazer o carro, o que denota que as vantagens que este lhe traz compensa as suas desvantagens - esta é uma questão de preferências. Só a partir de uma determinada intensidade de trânsito (muito elevada) é que as pessoas desistem de vir de carro. Por outro lado, as alternativas propostas ao automóvel (transportes públicos ou andar a pé) são percebidas como algo incómodo ou que não resolve o problema da mobilidade (independentemente de isto ser verdade ou não em cada um dos casos).

Tudo para dizer que o problema do trânsito também pode ser atacado ao nível das preferências e da percepção dos utentes e que essas medidas têm uma eficácia e durabilidade - apesar de muito difíceis de implementar - muito superior a medidas avulsas que apenas "tapam o buraco". Ao nível das preferências pode-se convencer as pessoas que passar tanto tempo no trânsito é demasiado estúpido. Talvez isso as faça sentir responsáveis e a sentir-se parte do problema, a questionar as suas opções de vida e com motivação para assumir a sua quota parte da solução. Ao nível da percepção criando alternativas (realmente) eficazes ao ponto de a população sentir que ir de carro não traz assim tantas vantagens face às alternativas disponíveis.

27 setembro 2007

Leitura recomendada do dia

PPP's no Ideias Livres. Mais uma posta certeira e muito bem escrita pelo Diogo Almeida. Daquelas que gostaria de ser eu a escrevê-la...

25 setembro 2007

Corporativismo bom, corporativismo mau


Como corporativismo entendo serem todas as manifestação emanadas de um conjunto de pessoas, grupos ou empresas que têm em comum o carácter da sua actividade profissional e/ou económica. As motivações e os fins que levam um determinado grupo de pessoas a se associarem é diverso, mas é quase sempre fruto da constataçãode que a união faz a força ou que o todo é superior à soma das partes.
No meu entender existe um "corporativismo mau" que é aquele que visa proteger o sector, travar a concorrência ou impedir a entrada de novos agentes. Qualquer empresa visa maximizar o lucro e sabe que se fosse monopolista, num determinado país ou conjunto de países, esse lucro seria maximizado. Na impossibilidade de se tornar monopolista, existe um second best que é ser oligopolista e aí surge a cartelização que não é mais do que uma forma aguda (a mais grave...) de corporativismo. A situação seguinte é a das associações e ordens profissionais que visam limitar e licenciar a acção dos profissionais de determinado ramo. A propósito, recomenda-se a leitura deste post do AMN na Arte da Fuga. Todas estas formas de corporativismo apenas servem para tornar a posição da oferta mais confortável (garantir menos risco para os que já lá estão) e são geradores de desequilíbrios relativamente à procura: preços mais altos do que numa situação concorrencial, menos variedade de oferta, menos propensão para a satisfação integral das necessidades dos clientes, etc... tornando a situação menos "confortável" para o lado da procura.

Numa perspectiva liberal, a liberdade de associação entre pessoas, empresas e grupos é a base do desenvolvimento económico e social de uma sociedade. Tudo o que a impeça será travão das aspirações individuais dos elementos que compoem a sociedade. Sempre que o Estado se substitui aos cidadãos retira-lhes o incentivo a se associarem e a entre elas decidirem sobre qual a melhor forma de prosseguir determinado objectivo. Esta perspectiva legitimaria o "corporativismo mau" descrito no parágrafo anterior. Mas há que acrescentar que, da mesma forma que o exercício de uma liberdade deve ter em atenção a liberdade dos demais, também a liberdade de associação não deve prejudicar outras liberdades de associação, liberdades individuais ou outras liberdades de escolha. Uma sociedade liberal terá de sempre de gerir o equilíbrio entre as diferentes aspirações dos seus membros e as limitações à liberdade que essas aspirações podem trazer.
Assim, eu definiria o corporativismo bom como todas as associações de profissionais que visem a partilha de experiências (congressos), a organização de serviços acessórios à sua actividade (apoio jurídico, seguros, sub-sistemas de saúde, linhas de crédito) ou a divulgação do sector (feiras, publicidade institucional). Manter as corporações restritas a esta esfera será garantir que a concorrência não seja ameaçada e zelar pelos interesses da procura.

24 setembro 2007

O "Dia Sem Carros" que eu vi

Engarrafamento à entrada da Avenida da Liberdade


Laterais completamente entupidas. Muitas buzinas. Trânsito parado polui mais que trânsito fluido...


Parte central da Avenida da Liberdade praticamente vazia e cheia de pedestres "acidentais".

A proporção entre beneficiados e prejudicados pela iniciativa indica que esta fracassou e que produziu efeitos contrários aos que se propunha do ponto de vista ambiental. Porquê?

1- O dia sem carros é, em si, uma má ideia?
2- O dia sem carros é uma boa ideia, mas foi mal implementada: má divulgação da iniciativa, má escolha dos percursos alternativos, má operacionalização?
3- O dia sem carros é uma boa ideia, bem implementada mas à qual as pessoas não são sensíveis (gentileza do Cachimbo de Magritte)?

Quem abdica da Liberdade em troca de Segurança merece perder as duas


Este fim de semana lá voltei a deparar com o tom complacente e babado dos media em relação a Fidel. Como se se tratasse de um patusco porreiraço, uma referência do passado que há que preservar como exemplo para as futuras gerações. Descreveram-no como "debilitado mas lúcido". Dizer que Fidel está lúcido quando demora uma hora a debitar a cassete que, em condições normais, lhe levaria 10 minutos...
E é cada vez mais recorrente, quer nos media quer na blogoesfera, justificar o regime de Castro com o sistema de saúde de Cuba que, segundo dizem é um dos melhores do mundo. Independentemente de isso ser verdade ou mito, este tipo de argumento faz-me lembrar os tipos que têm saudades da prisão porque lá tinham cama, roupa lavada e refeições a horas certas o que é sintomático de uma pobreza que vai para além da material.

23 setembro 2007

Sobre a separação do lixo e afins

Ler esta posta no Range-o-Dente e respectivos links.

22 setembro 2007

Descubra as semelhanças




Dúvida Existencial


Se o Head & Shoulders é assim tão bom, porque é que estão permanentemente a lançar um NOVO Head & Shoulders?

Fui escutar


Na Sé Catedral de Lisboa. Concerto inaugural do X Festival de Órgão de Lisboa. Programa: Música para(2) órgão(s) e coro de Jean Langlais e Louis Vierne. A Sé é um local fantástico para escutar esta música, entre o Romântico e o Contemporâneo, feita de delicadeza mas sólida. Muita harmonia. António Duarte e João Vaz em "duelo" na primeira e na última peça de um repertório invulgar. O Coro de Câmara de Lisboa com um bom nível, em especial os naipes femininos que mostraram uma cor interessante. Pela primeira vez, consegui escutar um concerto na Sé que não esbarrou com as limitações acústicas do espaço. A Missa de Vierne, com o coro a cantar no Coro Alto juntamente com o pequeno órgão e o grande órgão na capela-mor no extremo oposto da Sé, conseguiu uma envolvência surpreendente com um óptimo equilíbrio entre coro e órgãos. Saí de alma cheia. Bravo! Incapaz de ligar o rádio do carro no regresso a casa.
Consultar o programa do Festival (só termina a 9 de Outubro) aqui.

21 setembro 2007

A Fé na Ciência


Quando o Homem trabalha nos limites da Ciência acaba quase sempre por agarrar-se a uma Fé. Quando entra num campo de incerteza, tem de abrir determinados pressupostos (baseados quase sempre na intuição) e a partir deles tenta desbravar caminho. Esse caminho custa a percorrer e se os pressupostos estiverem errados, lá se pode ir uma vida de trabalho. Tentar manter esses pressupostos torna-se vital. Por isso é muito frequente encontrar casos, como nos exemplificam muito bem o alf e o Nuno Teles, em que quando as observações não batem certo com as teorias conclui-se que as observações estão erradas em vez da teoria. Em Economia, e certamente noutras ciências sociais, as coisas ainda pioram mais dadas as dificuldades em "observar". Formam-se então as "escolas" que se agarram a um determinado prisma atacando todos os que a contrariem, em busca da hegemonia científica. Qual cruzada.

19 setembro 2007

A autoridade e a estupidez


Ainda no seguimento da temática do post anterior, gostaria de escrever umas considerações mais filosóficas. A desconfiança em relação aos mercados tem subjacente, na maioria dos casos, a crença na estupidez humana. Assume-se que o Homem é estúpido e mau por natureza e daí a necessidade de proteger os Homens uns dos outros. Confia-se que, com base numa autoridade inteligente, culta, preparada, moralmente superior evitam-se todos os disparates que o Homem, deixado à mercê das suas decisões, é capaz.

Não que eu discorde da estupidez humana. Ela existe e é aliás um mal muito abundante. Mas, como diria François de La Rochefoucauld: "Toda a gente se queixa da sua falta de memória, mas ninguém se queixa da sua falta de senso." Por outras palavras, ninguém vê estupidez ou falta de razão em si próprio (o RAP já se acusou e é a excepção que confirma a regra he!he!) ; só nos outros. E não é raro criticarmos as opções económicas que os outros fazem sistemáticamente. Eu, por exemplo, não entendo como é possível que tanta gente compre jipes (ainda para mais de alta cilindrada) para os utilizar em estrada e cidade e não no campo onde a sua utilização me parece mais racional e necessária. Também acho estúpido ver telenovelas: são todas iguais. Isso deriva de dois factores: das preferências de cada um e das diferenças de percepção da realidade. As primeiras definem-se como a valorização que cada um dá a determinados aspectos dos bens que escolhe adquirir ou não. Quem compra jipes de alta cilindrada não estará muito interessado em eficiência energética ou ecologia, dará sobretudo valor ao status que o veículo lhe proporciona ou à componente estética do mesmo. As diferenças de percepção definem-se por si próprias: cada indivíduo apreende a mesma realidade de forma diferente. Ao ver uma telenovela muita gente sente despertar em si uma série de emoções e sente prazer nisso. Outras não... A percepção de que os outros são estúpidos prendem-se, na maioria dos casos, com estas duas características ligadas à heterogeneidade do ser humano.

Sendo autoridade feita e exercida por homens, nada nos garante que eles não serão estúpidos. Se forem estúpidos aos olhos da maioria rapidamente perderão o comando da autoridade e, em alguns casos, perante essa possibilidade arranjam formas de se agarrar ao poder para continuar a impor a sua visão estúpida aos estúpidos que com ela não concordem. (Señor Chaveeeeez)

Mas existe algo que também preocupa os cépticos do mercado: as externalidades. O livrinho que tenho aqui define externalidade como «custos e benefícios que não passam pelo mercado»; a sebenta diz que externalidade acontece quando «a actuação de um determinado agente económico influencia o bem-estar ou lucro de outro agente sem que esta interdependência seja obtida através do sistema de preços». Resumindo, quando alguém nos proporciona algo que "ninguém mandou vir", acontece uma externalidade. As externalidades negativas acontecem a toda a hora e resultam da interacção dos indivíduos. Só os eremitas não causam externalidades. No normal funcionamento dos mercados (como centros de interacção entre pessoas que são) é muito comum acontecerem externalidades negativas. A preocupação com este aspecto parece-me fundada e entendo-a perfeitamente. Mas tem solução. E, na maioria dos casos, não passa por manietar o mercado embora essa possa parecer a forma mais simples, lógica e habitual. Pode resolver-se com mais interacção entre os indivíduos (ex: bater à porta do vizinho de cada vez que ele põe a música muito alta) com o objectivo de lhe tentar alterar a percepção da realidade e/ou as suas preferências. Ou criar um mercado para transaccionar as externalidades (ex: mercado de emissões) passando a impor um custo que de outra maneira não existiria e cuja determinação de forma arbitrária seria sempre ineficiente.

O Estado a decidir qual a melhor tecnologia é que é!


Na sua cruzada para convencer-nos de que o mercado precisa de ser controlado por iluminados, o Ladrões de Bicicletas mimou-nos com mais um dos seus típicos posts. Nele argumenta-se que as soluções tecnológicas para os teclados e para as cassetes de vídeo e que resultaram do funcionamento do mercado foram as menos eficientes. A intervenção estatal teria evitado todos estes erros e desperdício. Salazar não diria melhor.

No caso das cassetes - VHS vs Betamax - a segunda tecnologia não vingou precisamente porque a Sony não quis abrir a tecnologia ao mercado sonhando ser monopolista no sector das videocassetes uma vez que dispunha de qualidades e capacidades muito superiores ao VHS. O que acabou por acontecer é que o mercado funcionou e foi eficiente penalizando o candidato a monopolista. Porquê? Porque o candidato a monopolista foi muito tecnology oriented (os engenheiros...) e acreditou que o consumidor estaria disposto a pagar bem por uma tecnologia de alto valor. Mas esqueceu-se de fazer uma análise à percepção do valor atribuído pelos consumidores a essa tecnologia. Para quê gastar 10 em duas cassetes Beta de 4 horas quando uma VHS de 8 horas custava 5? Quem deve ter sentido esta questão foram os videoclubes que (oh pecado!) queriam maximizar o seu lucro comprando o mínimo de cassetes ao melhor preço possível. Eu também gostava de ter um carro com a melhor relação peso-potência, só que isso é muito caro. Para isso prefiro o meu boguinhas. Devo ser muito estúpido.

A questão do QWERTY tem tão somente a ver com hábito. Quando se anda a trabalhar com um standard durante muito tempo por ser o mais eficiente, a resistência à mudança (uma característica bem humana) torna-se cada vez maior. Enquanto não se demonstrar - claramente a prática! - que os custos de reaprender num standard diferente são suplantados pelas suas vantagens, ninguém estará interessado em mudar. Pessoalmente, foi a primeira vez que ouvi falar da questão, o que só pode ser sintomático que as perdas de produtividade não devem ser assim tão significativas.

O artigo termina com um caso de uma patente de autocarros eléctricos que não vingou por razões obscuras e fraudulentas. Não tenho tempo agora para investigar esta história. Mas fez-me lembrar a disputa Tesla vs Edison cheio de episódios "tristes" e sabotagens. No final acabou por vingar a tecnologia mais adaptada às necessidades das redes eléctricas e a ideia do todo-poderoso Edison saiu derrotado. Porque o mercado assim o exigiu.

Leitura recomendada do dia

"Os novos obscurantistas" no Portugal e Outras Touradas.


«"Conhecer", porém, na terminologia dos cientistas da educação, não coincide com "saber"... e daí que haja professores do 5º ano, isto é, já do 2º ciclo, que dediquem aulas a rever o alfabeto e a respectiva ordem!»

Uma demonstração bem real de que tecnologia e conhecimento não adiantam nada se não se souberem aplicar. Apenas se desperdiça mais.

18 setembro 2007

Pergunta à blogoesfera

Já repararam que quando inserem o endereço de um blog do Blogger e lhe retiram o "b" de "blogspot" aparece sempre um site manhoso?

Rua das couves

Ver a história aqui. Quando se acabar com o neoliberalismo, vão-se também acabar estas manifestações selvagens do povinho pequeno-burguês e ignorante, sem qualquer controlo público da legalidade, da decência e do respeito por organismos democraticamente eleitos.

PS: Post sugerido pelo Conde Drácula

Pergunta aos Ladrões


A propósito desta posta no Ladrões de Bicicletas, deixei uma pergunta, por várias vezes, na caixa de comentários dos "larápios":
«Como é que acha que o Estado pode implementar «mecanismos de regulação estatal da economia e de redistribuição» sem autoridade (o que implica necessariamente a criação de mecanismos repressivos)? Pede "com licença"? Milícias populares? Cobrador do fraque?»

Até agora não responderam.

Acho piada a este pessoal que defende a ingerência do Estado em tudo o que é aspecto da vida social, porque a Humanidade é muito estúpida e não pode ser deixada "à solta" a decidir a sua própria vida; este pessoal que acredita na supremacia do colectivo sobre indivíduo; que acredita no igualitarismo; que acredita que o Homem tem de ser protegido do Homem; e depois acha que a autoridade é horrível, fruto do neoliberalismo (esse poço infecto de maldade, problemas e injustiças) acenando logo a bandeirola do "Repressão!". Os radicais estão cheios de paradoxos, de facto.

17 setembro 2007

Pergunta à comunidade


O que pode fazer um pai quando telemóveis são anunciados como brinquedos em spots explícitamente dirigidos às crianças?

Contra a auto-exploração do chinoca


Diz o VPV: «Claro que eles vivem do dumping social, da ausência de horários, do trabalho da família. E vivem assim por uma única razão: porque os deixam.» (via Blogue Atlântico)

Não seria de intelectualmente honesto considerar que existe outra razão? Uma vez que os chineses são, em geral os seus próprios patrões, outra grande razão para trabalharem fora dos padrões dos portugueses é: porque querem. Habituados na sua terra a um ritmo superior ao que se pratica por cá isso pode ser encarado como uma vantagem competitiva face aos tugas. De facto têm-se mostrado mais capazes de ir ao encontro das necessidades das classes baixa e média do que o tão politicamente correcto comércio tradicional, que de tradicional só tem a falta de atenção e de educação. Estou a generalizar, é claro.

13 setembro 2007

Análise coeteris paribus

Se:

1- A maioria dos imigrantes está a fazer trabalho que os portugueses não querem fazer
2- Em Portugal há pouca propensão para fiscalizar e obrigar a que as leis sejam cumpridas

Pode prever-se que dentro de uma geração os nossos polícias serão, na sua maioria, ucranianos e chineses. Os romenos não porque esses gostam mais de fugir da GNR.

(Ok! É uma piadinha xenófoba e passível de uma campanha blogoesférica em defesa dos valores cosmopolitas e da igualdade. Mas nã resisti)

Tolerâncias


Pelos vistos anda aí uma vaga de tolerância zero para com o estacionamento em segunda fila e em cima dos passeios. Vejo por muitos sítios da blogoesfera o mesmo tipo de comentários que se ouvem na rua: "Chulos"; "Querem é meter ao bolso"; "Fui só ali ao consultório fazer uma cirurgia ao fígado, sr guarda!".

Acho piada a estas operações de marketing chamadas "tolerância zero". No fundo o que querem dizer é:"Esta lei, que já existe no papel desde o tempo do Botas, vai passar a ser aplicada" o que não é mais do que dizer que as autoridades e entidades fiscalizadoras vão passar a exercer a sua profissão. Pelos vistos antes não podiam ou não era suposto poderem... Não vejo qual é a razão dos protestos "popularuchos". Está-se simplesmente a aplicar a lei. Mas também é certo que a rara frequência com que as autoridades demonstra o seu zelo cumpridor pode dar a ideia (errada) de que o que não é normal é que se faça cumprir a lei.

Aguardamos pelas operações de tolerância zero para com os carteiristas, assaltantes de bancos, serial killers e violadores de galinhas.

Contrastes

Em Zurique, um automobilista vê um peão no passeio na zona de uma passadeira e pára para ver se o peão não irá ter a ideia de atravessar a rua.

Em Lisboa, um automobilista vê um peão a atravessar a rua e faz um rápido cálculo mental, recorrendo a conceitos básicos de geometria, para saber se vale a pena abrandar para não atropelar o cidadão.

Em Luanda, um peão que atravesse a rua e aviste um automobilista na sua direcção faz um rápido cálculo mental para ver se vale a pena abrandar não vá o palerma pensar que o agente pedonal tem medo de um mariconço de um automobilista.

Leitura recomendada do dia

Os Limites do Activismo por rui Ramos no blogue da Revista Atlântico.

«O maior problema dos activistas, como notou o Guardian, é que estão a tentar arrombar uma porta aberta. O ambientalismo prevalece hoje nos círculos governamentais e bem pensantes do Ocidente. Os governos assumem metas contra a poluição. Al Gore é oficialmente acolhido como um profeta à direita e à esquerda. Qualquer chuva a mais ou a menos enche a imprensa popular de histórias de apocalipse ambiental. A causa “verde” anda hoje amparada por poderosos interesses comerciais – como a indústria das energias alternativas – e pelos lóbis proteccionistas ocidentais, prontos para usar o ambientalismo contra a concorrência dos países em desenvolvimento.»

Frase do dia

Não, não vou dizer qual é. Vão aqui e leiam.

12 setembro 2007

O assalariado é um potencial especulador


A propósito deste texto no Ladrões de Bicicletas (já pus um cadeado na minha!) e sobre o qual já lá deixei um comentário. Mais uma vez, o João Rodrigues usa de um tom diabolizante e arrogante no que se refere aos mercados financeiros e à perspectiva liberal da economia, o que me causa sempre um desejo impulsivo de o comentar.

Caro João Rodrigues, os trabalhadores assalariados também podem ser analisados numa perspectiva de mercado. Como deve estar "careca" de estudar, um trabalhador assalariado não é mais que uma pessoa que oferece o seu trabalho a outra entidade em troca de dinheiro. à semelhança do investidor financeiro, o trabalhador tenderá a tentar encontrar a melhor oportunidade no mercado de forma a maximizar a renda por cada hora trabalhada. Há quem tenha sucesso porque possui o mérito suficiente a exercer uma profissão, que é um bem escasso, e que o motiva só por si. Para tal não basta ter qualidade, é também necessário mostrar essa qualidade, e arranjar o melhor "papel de embrulho" possível para se "vender". O agente elabora um currículo bem estruturado, tenta brilhar nas entrevistas de emprego, obtém bons desempenhos, etc... Basicamente, tenta convencer que lhe paga de que ele é a melhor opção disponível no mercado ainda que isso não seja, necessáriamente verdade.

Há os que simplesmente tiveram sucesso arranjando um emprego onde pouco mais é necessário do que picar o ponto, porque conseguiram encontrar no mercado uma entidade empregadora disposta a acolhê-los. Também este teve uma atitude típica de um investidor: encontrou o activo que lhe maximizou a rentabilidade a um custo mínimo.

O sindicato que força a entidade patronal a subir os salários acima da produtividade média dos seus empregados e que dificulte a entrada a trabalhadores não sindicalizados, não faz mais do que exercer o seu poder no mercado usando-o para valorizar o trabalho ao máximo.

Independentemente das considerações morais que se possam fazer sobre estes casos, ambos evidenciam semelhanças com os mercados financeiros. A especulação está presente na esmagadora maioria dos mercados. E o assalariado também faz parte de um mercado.

Com burocracia, tudo se resolve

(roubada daqui)

Piadinha Fácil

Qualquer dia, em vez dos filhos dizerem aos pais: "Emprestas-me o carro para ir à discoteca?"; passarão a dizer: "Emprestas-me a caçadeira de canos cerrados para ir à discoteca?".

11 setembro 2007

Revista de prelo


Mau tempo provoca incêndios e inundações no Alentejo.
(in Público)
Esqueceram-se de como é que raio é que as chuvas foram provocar incêndios e inundações ao mesmo tempo. Terá chovido fogo como prometido no dia do Armagedão? Ou é só para aproveitar a embalagem do aquecimento global, onde o clima é a razão de todas as desgraças?

O Comissário Europeu da Justiça e Segurança quer impedir que os motores de busca da Internet possam procurar palavras como bomba, genocídio ou terrorismo.
(in TSF, via Blasfémias)
Eu incluiria as palavras "estupidez", "idiota", "grunho" e "falta do que fazer". Acabar-se-iam males bem maiores como, por exemplo, tecnocratas sem noção da realidade.

10 setembro 2007

Postas que gostava de ter na minha caldeirada


Relativamente ao fenómeno do bullying nas escolas, JCS (o rabugento mais brilhante da nossa blogoesfera) escreve:
«Se os agressores enviassem uma mensagem escrita ao meu cliente a dizer “nunca mais te queremos ver no nosso grupo”, não era uma queixa à polícia que acontecia.»...
...e aconselho a ler o resto no Lobi do Chá.

Não sei qual é o escândalo do bullying agora. Os pais já se esqueceram como era no tempo deles?

Liberal, mas com limites


«Parece que um estabelecimento de diversão nocturna precisa de um gang de seguranças para que se possa proteger de outros gangs de seguranças.»
(in Blasfémias)
É por estas que acho que o monopólio da violência deveria pertencer ao Estado. Por pior fama que este possa ter enquanto prestador de serviços, pelo menos é mais fácil escrutiná-lo.

Recomendo a leitura dos links, que vão precisamente no sentido oposto à opinião por mim expressa.

E se?

Um bom exercício de cenarização histórica no Cachimbo de Magritte. Fica aqui um aperitivo.

«Imaginem que os Alemães tinham conseguido um impasse, um empate militar. Isso seria uma vitória política para o Reich. E, sim, tudo teria sido diferente. Talvez os vários lados (só pontualmente foram rigorosamente dois) ficassem de tal modo exaustos e exauridos que, mais tarde ou mais cedo, se chegaria a uma espécie de compromissos políticos. Continuaria uma URSS, mas continuaria também o Reich alemão.»

09 setembro 2007

Sinais de cariz fascizante ou A caminho da servidão


Ninguém fala disto?

07 setembro 2007

Tá bem visto sim senhor

A Helena Matos levanta aqui uma questão interessante.
Será aceitável que se investigue alguém que vendeu uma substância legal fazendo crer ao comprador que se tratava de algo ilegal? O comprador é vítima ou criminoso?

06 setembro 2007

Para não dizerem que Cannibal Corpse é só barulho bem gravado

Não. Cannibal Corpse é também letras parvas.

05 setembro 2007

Justas?


O João Rodrigues do Ladrões de Bicicletas cita um artigo do Nicolau Santos no Expresso. Lá podemos ler:

««os mais ricos têm 8,2 vezes mais que os mais pobres, o dobro da média nos 15. Por isso, além de outras políticas a desenvolver, parece admissível pensar nalgumas medidas de política fiscal [...] São ideias que não tornam o mundo perfeito. Mas ajudam a combater as actuais e enormes imperfeições». »

Esta tese do Nicolau Santos parte de dois pressupostos:

-Que os ricos são-no à custa dos mais pobres. Ou, de outro modo, rico = parasita.

-Que os ricos conseguiram atingir esse patamar de forma injusta ou, de alguma forma, ilícita. Não são merecedores do que possuem.

Não valeria a pena discutir primeiro estes pressupostos antes de começar a sugerir receitas mágicas para este "problema"? Assustam-me estes iluminados que, não bastando serem conhecedores dos males do mundo, têm tantas certezas acerca das soluções.

Filho de Putin

Medo, muito medo.
(imagem e links via Kontratempos)

03 setembro 2007

Fui só eu que notei?

Ontem - Domingo 02/09/2007 - a RTP dedicou mais de 5 minutos numa reportagem sobre os netos de Adelino Mendes, um revolucionário português que ajudou Fidel Castro y sus muchachos na revolução cubana. O senhor Adelino foi tratado na notícia como uma figura histórica digna de figurar nos grandes portugueses. Um autêntico herói. Pergunto eu: um herói por ter ajudado a instaurar uma ditadura de natureza socialista e repressiva?

Será que, se estivéssemos perante um senhor Mendes Adelino - que tivesse incorporado as tropas de Augusto Pinochet y sus muchachos no golpe que terminou com a legislatura de Salvador Allende em 1973, e que deu lugar a uma ditadura de natureza anti-socialista e repressiva - o estatuto de herói e de orgulho nacional se manteria?