31 outubro 2006
Exemplo de bom jornalismo do dia
«Assim, o aumento dos preços da electricidade com que estamos confrontados
não resulta em nada da liberalização do sector mas sim do efeito do aumento do
preço dos combustíveis e, fundamentalmente, de factores resultantes de opções de
política pública e estatal que, sendo legítimas, deveriam ser frontalmente
assumidas nas suas consequências por quem as tomou e as defende»
PS: Já agora, para quem ainda não leu, não custa dar uma olhadela aqui
Leitura recomendada do dia
Prometo, para breve, uma reflexão sobre a natureza reaccionária (no real sentido do termo) das corporações.
Boa notícia do dia
(via Diário Digital)
Na música Portugal dá cartas. Sem necessidade de subsídios.
Baboseira do dia
30 outubro 2006
Sentes-te velho quando....
26 outubro 2006
É o que dá não usarem os mapas da Michelin (2)
Tenho mesmo de acordar para a vida.
É o que dá não usarem os mapas da Michelin
(via Diário Digital)
«O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias condenou hoje o Estado
português por violação de normais ambientais na escolha do traçado da A2, dando
provimento a uma queixa apresentada pela CE. Segundo o acórdão, o Estado
português não cumpriu as obrigações relativas à preservação dos habitats
naturais e da fauna e da flora selvagens[...]»
O sr. Cravinho e seus antecessores/sucessores (e respectivos técnicos responsáveis) vão pagar a multa com cheque ou com VISA?
Tou todo baralhadinho
«A Secretaria de Estado da Defesa do Consumidor já contactou com os principais
bancos portugueses, com vista a criar legislação sobre esta matéria, e estes
manifestaram-se dispostos a aceitar que a cláusula contratual sobre o
arredondamento da taxa de juro seja negociável.»
25 outubro 2006
A irresponsabilidade de quem governa
Ainda a propósito da posta anterior, a irreponsável medida do ministro adiar o abatimento do défice tarifário só demonstra que os políticos são um reflexo do próprio país. Um país que vive a crédito e pensa a crédito.
É irresponsável porque parte de persupostos muito irrealistas que acabarão por avolumar o problema. Suponhamos que:
- Os custos de produção de energia eléctrica se agravaram 10% em 2006 (não sei se foi mais ou menos);
- Inflação será de 3% ao ano até 2016 que será também a taxa nominal de crescimento dos preços da electrcidade;
- Os combustíveis aumentarão 0,5% abaixo da inflação (que baixassem em termos reais);
- Crescimento da procura será cerca de 1000 GWh ao ano (em 2005 esta cresceu 2500)
- O défice tarifário era nulo em 2005;
O gráfico seguinte mostra a evolução dos preços e custos por MWh e a evolução do défice que se gera com os pressupostos acima referidos:
Raciocínio simples, continhas de cacaracacá... Ou seja, só com pressupostos muito irrealistas é que as medidas anunciadas poderiam ter algum efeito positivo ao fim de 10(!!) anos. Tornando os pressupostos mais realistas, a coisa só piora e não é pouco. E não estou a contar com o peso crescente da eólicas (pagas a peso de our... hem... petróleo) no parque produtor nacional.
Por este andar, passaremos a ter dois monstros: o défice estatal e o défice tarifário.
Desculpe?!?!?
(via Público)
Ó sr. Ministro, pode aproveitar a maré e congelar também o resto dos preços todos. Não custa nada!.... Melhores dias virão e então pagaremos o devido preço pelos bens. Uma estratégia como qualquer outra. Ah! quando o último investidor sair, feche a porta p'ra gente não se constipar.
PS:Vou ali cortar os pulsos. Se eu me demorar vão andando.
24 outubro 2006
23 outubro 2006
O aborto e as "meias-tintas"
Ouvindo notícias e conversas, dá a ideia que o “sim” no referendo implicará total liberdade para abortar, o que não é verdade. O que irá acontecer é tão só levantar as excepções (que permitem a interrupção da gravidez até às 10 semanas) que estão consagradas actualmente na lei. Esta proposta é mais permissiva do que a votada há 8 anos mas, convenhamos, não irá trazer, na prática, nada de novo. Trata-se, no meu entender, de uma questão essencialmente política. Política, mas com poucos efeitos na vida prática. Meias-tintas, portanto.
Tratando-se mais de uma questão política que outra coisa, estamos perante algo parecido a um jogo de xadrez. Temos duas “equipas” que se confrontam, com um determinado objectivo, recorrendo a determinados meios e técnicas e que procuram ganhar. E ganhar é a palavra-chave. O importante é ganhar este jogo, as consequências do jogo são uma questão secundária. Generalizo, é claro.
O objectivo do jogo é convencer a população a votar a favor/contra a despenalização do aborto até às 10 semanas. Quem atingir o objectivo (e só um o pode fazer) infligirá pesada derrota sobre o adversário. Só este entusiasmo por uma vitória política é que poderá explicar tanta paixão.
Nem o aborto vai ser totalmente livre, como os defensores do “sim” parecem fazer crer nem irá ser totalmente proibido, como os defensores do “não” também pretendem fazer crer. Mas esta é que é a questão política: uns defendem o direito absoluto à vida e outros a liberdade de escolha.
Numa perspectiva coerente e radical (no bom sentido), os defensores do direito à vida deveriam estar a lutar pela protecção da vida humana desde o seu início e os defensores da liberdade de escolha deveriam estar a lutar pelo direito à mulher poder escolher ter dentro do seu corpo outro ser humano. E ninguém o faz explicitamente por achar que essas posições são, aos olhos da sociedade actual, radicais (no mau sentido) e extremadas. Mas deveriam ser essas as questões a debater: como resolver a incompatibilidade entre o dever de defender a vida humana e a liberdade de escolha. Se se considerar o direito à vida como absoluto então defenda-se esta até ao fim. Se se puser a questão como o direito de escolha então defenda-se essa opção até às últimas consequências. Tudo o resto são…meias-tintas.
É claro que a questão não é, na realidade, assim tão simples. A fronteira entre a existência ou não de vida humana não está bem definida; muitas vezes o aborto representa a opção entre duas vidas (a da mãe e a do feto); a opção de deixar prosseguir uma gravidez fruto de violação é tudo menos simples; por mais que se proíba uma determinada realidade, se houver um número significativo de pessoas empenhado em ultrapassar essa dificuldade fá-lo-á (chama-se força de mercado…) e portanto a eficácia de uma lei é sempre relativa e pode trazer efeitos perversos; etc… Depois há a questão de saber se a criminalização do aborto sob qualquer circunstância será a forma mais adequada para a defesa da vida humana. E daí, se fosse uma questão fácil, já estaria resolvida.
Numa perspectiva liberal, o direito à escolha é soberano mas não absoluto. Quando as escolhas envolvem terceiros tem de ser dada atenção a estes. Devem existir regras que permitam que terceiros não sejam negativamente afectados sem terem oportunidade de se pronunciar sobre o assunto. Numa perspectiva liberal a questão que se põe é saber se o embrião/feto é um terceiro ou não. Se não for, a decisão da mãe prevalece; se for terão de ser dados direitos e garantias que permitam que decisões de outros não sejam substancialmente intrusivas e violadoras dos seus direitos humanos. “Nobody's rights can negate anyone else's”.
Pensamento para o dia
(Nada como começar a semana com pensamentos profundos e eruditos!)
20 outubro 2006
Défices chocantes
Se o pivot da SIC não entende como é que pode haver desajuste dos preços de electricidade e a EDP dar lucro é porque tem de aprender como o sector eléctrico funciona. E devia fazê-lo antes de vir para a televisão falar sobre o assunto. Obviamente não deve saber (ou omitiu) o que é o défice tarifário. Facto tanto mais estranho quanto estas duas palavras surgem quer na nota de imprensa da ERSE como na própria notícia da SIC.
Passo a explicar. Neste momento, o modelo regulatório vigente em Portugal (e também em Espanha) torna as empresas eléctricas neutras aos custos de produção da energia eléctrica. O regulador fixa um preço de venda da energia aos diferentes tipos de consumidores, o preço a que os distribuidores compram a energia, as regras de cálculo dos custos de produção. As empresas encarregues da gestão do sistema eléctrico (REN em Portugal e REE em Espanha) encarregam-se de pagar o preço devido aos produtores, que reflectem os custos de combustíveis e demais custos de produção, e vender ao preço regulado aos distribuidores. Nada garante que os preços de compra e de venda sejam iguais (raramente o são) o que origina défices/superávites tarifários. Num cenário de contenção da subida dos preços ao consumidor ao nível da inflação e de subida dos preços dos combustíveis dá-se, obviamente, um cenário de grandes défices tarifários. Em Portugal rondam os 400 milhões de euros enquanto que em Espanha 1 500 milhões de euros. No meio disto quem suporta o défice são as empresas gestoras e transportadoras que, nos dois casos, pertencem ao Estado já que fazem parte do serviço público. As empresas produtoras e distribuidoras de electricidade, que são independentes das empresas transportadoras, limitam-se a gerir custos. E como é óbvio isso permite-lhes ter lucros.
Mesmo no caso da REN e REE, existem artifícios contabilísticos que permitem disfarçar os prejuízos tarifários, uma vez que os resultados líquidos que apresentam são parcialmente fictícios. Mas atenção! Esta prática está perfeitamente de acordo com a lei e a ERSE sabe e controla devidamente esses artifícios contabilísticos.
Tal como já expliquei em postas anteriores, o grande problema é que o modelo que vigora actualmente está cada vez mais desfasado de uma realidade de mercado (que seria sempre mais eficiente) e quanto mais se esperar mais dolorosa será essa transição. Além disso, mantendo-se a tendência actual, cada vez será mais insustentável o actual modelo e cada vez mais doloroso sair dele.
19 outubro 2006
Mistérios do Marketing
Deixa ver... o meu próximo servidor web vai chamar-se Terras de Castro. Sugestivo, não?
Ai é?
«A directora garante ainda que a clínica irá abrir,
"independentemente" do resultado do referendo em Portugal.»
18 outubro 2006
Deixa-me contar-te um segredo...
16 outubro 2006
Questões de representatividade
O que se observa é um fenómeno de grande variabilidade e como tal é necessário recolher muita informação (entendam-se: observações) para que se possa afirmar que este está a assumir esta ou aquela tendência. A evolução tecnológica global não parece ter tido qualquer efeito no fenómeno dos ciclones no período analisado. Será que o vai ter num futuro mais ou menos próximo? Neste caso não se pode admitir que exista uma clara tendência parecendo-me que, com base nestes dados, o fenómeno dos ciclones é estável. Existe a hipótese de existirem ciclos relativamente longos, mas as observações não são suficientes para retirar essa conclusão. Uma amostra maior poderia dar-nos uma visão diferente.
Se pegar na sub-amostra a 1985-2005 obtenho o seguinte gráfico:
Acontece que se pegar na sub-amostra referente à década de 50, a conclusão seria a oposta.
Com a temperatura média global passa-se algo semelhante. Na CRU da Universidade de Anglia poderão ser consultados os dados referentes aos desvios da temperatura média do ar e do mar face à média registada entre 1960 e 1991.
Olhando para os últimos 20 anos pode ver-se que há uma clara tendência positiva. Mas mais alarmados deveria estar que olhou para o gráfico (se isso fosse possível) em 1940. Nem imagino a angústia! Mas o que é certo é que a situação estabilizou por completo (contrariando a tendência 1910-1940) durante 40 anos! E no período de maior desenvolvimento industrial da História (1945-1970)!
Tomando a média 1960-1991 como “boa”, diria que a situação actual não é mais preocupante do que a que se viveu nos 100 anos anteriores. Depois, só muito pontualmente estas anomalias ultrapassaram os 0,5ºC. O que importa realçar é que, com base nestes dados e na restrição do período amostral, pode-se demonstrar quase tudo. Neste momento a grande paixão parece ser a defesa do planeta contra o aquecimento da Terra.
Não tenho nada contra quem defenda que possamos estar perante um fenómeno de aquecimento global com origem na actividade humana. Com base nos dados, não me aterevo a desmentir categoricamente essa hipótese. Mas também não me consigo convencer do oposto.
O debate das alterações climáticas tem-se tornado cada vez mais apaixonado, com tendências maniqueístas e algum idealismo à mistura. Eu preferia um debate desapaixonado com base em Ciência e sem conotações politico-ideológicas mas compreendo que não teria tanta piada e se resumiria a uma questão tão académica como a utilização (ou não) do procedimento de Perron na identificação dos Processos Geradores de Dados de séries com raízes unitárias. Uma seca… E não vende (tele)jornais e não dá tantos empregos.
Sou mais virado para o ambientalismo preocupado com uma utilização eficiente dos (escassos) recursos naturais e da sua correcta valorização. Esse ambientalismo é mais consequente do que o ambientalismo de fábulas e papões. Este último já identificou os mauzões e preconiza soluções de Estado para os resolver.
O ambientalismo da racionalidade é mais chato e menos visível. Mais chato porque nos implica a todos (a começar por mim que me esqueço da luz acesa) e não aos outros. E menos visível porque reparte as “culpas”. Uma central nuclear dá mais nas vistas que os jipes, em que os dirigentes ambientalistas se deslocam habitualmente, mas desperdiça e polui (proporcionalmente) bem menos.
13 outubro 2006
Conselho de Segurança chega a acordo sobre sanções à Coreia do Norte
10 outubro 2006
Indevidos usos
Se, à partida, não vejo qualquer problema em uma empresa poder restringir o acesso a certos locais ou temáticas na internet - quem manda na casa deve ser livre de definir as suas próprias regras - já acho que a definição de "má utilização" da internet um terreno muito pantanoso e não vejo a utilização “fútil” da internet no emprego como uma causa de improdutividade mas como uma consequência. A obsessão por querer controlar tudo o que se passa na empresa pode derivar em "estalinismos" cujas consequências podem ser piores que as que pretende evitar.
Em primeiro lugar, o cronista deveria ter comparado as palavras mais introduzidas em motores de busca em Espanha, Holanda, Irlanda, Suécia, etc... Será que o resultado é muito diferente do português? Escrevo este texto a bordo de um comboio e sem acesso à internet e como também vou estar se internet em casa não vou poder fazer essa investigação. Mas acredito que o cenário não deve ser diferente e isso não explicará certamente o nosso atraso económico e social. Não "m'acredito" que as palavras mais procuradas em Espanha sejam "desarrollo", "economico" ou "filosofia"...
Em segundo lugar, muita da utilização dada aos chats é efectivamente produtiva e muitas vezes, não o sendo, é poupadora de tempo. Em determinados ramos de actividade em que é necessário trabalho em rede ou a discussão de conceitos e de problemas os chats são a melhor das opções (conversa telefónica, reunião pessoal, pombo-correio) uma vez que não "prendem" tanto os interlocutores - as questões são lançadas e podemos terminar a tarefa que temos em mãos antes de nos lançarmos no chat e interromper a participação sem grande prejuízo para a comunicação.
Em terceiro lugar, o facto de se tratar de correspondência pessoal, compras on-line ou pagar contas tem mais efeitos virtuosos que viciosos. Eu, para pagar uma conta no multibanco perco, no mínimo dos mínimos 15 minutos enquanto que via net demoro 2. No meu caso, realizo estas operações quase sempre em casa. Mas se não tivesse internet em casa, certamente que utilizaria a do emprego. E isso deixa-me mais tempo livre para trabalhar e para o lazer (dependendo das circunstâncias).
Finalmente, mesmo que seja certo que a maioria da utilização da internet nos escritórios seja inútil para a empresa isso só reflecte um problema já existente de "falta do que fazer". No meu caso concreto, em alturas de maior aperto de trabalho, a utilização da internet para ler jornais, blogues ou consultar temas da minha esfera de interesses (gajas é mais em casa, que se o patrão me apanha...) reduz-se ao mínimo ou é inexistente. Como tenho liberdade para gerir o meu tempo como me apetecer (tenho prazos pré-estabelecidos para entrega de trabalho que não podem ser excedidos) posso decidir como gerir esse bem escasso que é o tempo. Note o caro leitor que as minhas postas mais longas foram escritas em férias. Esses foram também os textos mais estruturados e mais time consuming sendo as restantes postas classificáveis na categoria de "bitaites" - parvoíce criativa, vamos lá – mais apropriadas a quem tem mais que fazer. Nunca escreveria este texto se não tivesse de fazer uma viagem de 3 horas com muito pouco que fazer para além de ler um jornal ou jogar minesweeper. Onde quero chegar é que se as pessoas “perdem” tempo na net nos seus empregos é porque não têm nada que fazer ou, tendo, não sentem qualquer pressão ou necessidade para o fazer. Impõe-se então um estilo de gestão que motive as pessoas a trabalhar mais eficientemente e a organizar melhor o seu tempo. As chefias deveriam ser aconselhadas a monitorizar e acompanhar o trabalho dos seus “súbditos” e a sancioná-los, incentivá-los ou pressioná-los a fazerem o seu trabalho dentro dos timings previstos. Isso seria mais eficaz do que entrar em esquemas controleiros. É que se o Costa não puder falar com a mulher e os amigos no chat, de certeza que vai desanuviar a fazer o sudoku do Público, meter conversa com o Santos (passando a ser dois improdutivos) ou ler “A Bola”. Trabalhar é que não vai de certeza.
06 outubro 2006
A Baixa e o estacionamento
04 outubro 2006
Geórgia: nova Cuba?
(via Público)
Ora aí está uma boa ideia!
(via Diário Digital)
Vou ver se arranjo uma mangueira que dê para ligar a Centralcer ao meu frigorífico.
03 outubro 2006
Confrontos violentos entre Fatah e Hamas
From Dubai...
(We apologize the site you are attempting to visit has been blocked due to its content being inconsistent with the religious, cultural, political and moral values of the United Arab Emirates.)
Sejas muçulmano ou não; estejas num cybercafé ou no bunker mais impenetrável, tens de obedecer à ordem estabelecida. Que proibissem a leitura da revista Gina na via pública eu ainda compreendia pois poderia incomodar outros, agora que proibam a leitura da mesma na quietude do meu WC, não será demais? Bom, mas cada país impõe as regras que bem entende e quem para lá for terá de as aceitar.
O que mais me chateia é que o mundo ocidental também está a entrar numa espiral de paranóias politicamente correctas que o está a aproximar, nalgumas áreas (por exemplo, o tabaco), destes medievalismos. E em nome de nobres ideais, a liberdade de escolha vai-se esvaindo entre os dedos.