30 abril 2011
Shakespeare and Company, Paris.
Só para verem que este também é um blogue cosmopolita e viajado e tal.
27 outubro 2009
Órgão barroco vs romântico
A pedido de uma família venho tentar explicar a diferença entre um órgão barroco e um órgão romântico.
O som do órgão evolui ao longo dos tempos em função do gosto musical de público e compositores e da tecnologia disponível. Desde o princípio da sua história, o órgão teve por objectivo a imitação de outros instrumentos algo que hoje fazemos com o recurso a sintetizadores. Mesmo o seu registo mais característico (o chamado Principal que em geral compõem as fachadas) tinha por objectivo, a partir de determinada época, fundir-se com a voz humana que por sua vez acompanhava e sustentava. A evolução técnica permitiu que os órgãos passassem a conseguir imitar flautas, trompetes, oboés, bombardas, violas da gamba (espécie de violoncelo arcaico), cornetas, gaitas de foles, trompas, etc... A forma como essas "imitações" soavam foi evoluindo de forma acompanhar os gostos, os novos instrumentos que iam aparecendo e desaparecendo e a as transformações tímbricas que os instrumentos "imitados" iam sofrendo. Não se pense que o objectivo principal era exclusivamente o de imitar outros instrumentos. A partir do século XV começa a desenvolver-se um repertório próprio para o instrumento e a partir do final do século XVI já temos exemplos de algum virtuosismo. As capacidades sonoras do órgão são em alguns aspectos superiores aos da orquestras nomeadamente ao nível da profundidade sonora (capaz de sonoridades no limite do subsónico e do suprasónico) e do virtuosismo.
Não existe propriamente um órgão barroco mas sim várias escolas dentro deste: órgão francês, alemão, ibérico, inglês... Mas acho ser possível características que são mais ou menos comuns em termos de sonoridade:
a) O órgão barroco privilegia a clareza das notas. Na música de tecla, o período barroco representa o período àureo do contraponto. O contraponto é um tipo de escrita - que pode ser aplicado a qualquer instrumento, coro ou agrupamento instrumental - que joga com a conjugação de diferentes discursos musicais - que soariam bem se tocados isoladamente - e que se misturam
resultando num efeito muito rico superior à soma das partes. Quando se compõem peças que chegam a combinar até 6 discursos musicais em simultâneo, torna-se óbvio que o instrumento que as toca tem de ser capaz de produzir um som claro em que os harmónico fundamentais sobressaem.
b) O ideal estético-sonoro dos registos Principais ainda privilegia as semelhanças com a voz humana. Verifica-se que na sua concepção técnica, a emissão de som no órgão barroco tem muitas semelhanças com o mecanismo de produção de som da voz humana.
c) O ataque das notas (as primeiras fracções de segundo na produção de som) é bem presente e notório. Nos registos de Plauta e Principais é muito normal ouvirmos o "chiff" (expressão inglesa) de cada vez que uma nota é tocada.
A partir de meados do século XVIII o órgão entra num período de esquecimento devido à chegada do período clássico e que é, em grande medida, uma negação dos princípios estéticos do barroco. Com estes novos ventos, o órgão deixa de ter grande interesse enquanto instrumento solístico e praticamente se deixa de compôr repertório que tenha em vista a utilização plena das capacidades do órgão.
Chegados ao século XIX, com a redescoberta de Bach e a revalorização do contraponto regressa o interesse pelo órgão. No entanto, a arte da organaria não irá tentar recuperar a arte do barroco mas sim procurar novos caminhos em linha com o gosto e tecnologia da época. O líder incontestado do novo movimento organeiro foi um catalão naturalizado francês chamado Aristides Cavaillé-Coll. É ele quem afirma a nova corrente do órgão romântico e sinfónico. A tecnologia existente a partir de meados do século XIX permite construir órgãos maiores e com volume sonoro superior. Tal como a orquestra do século XIX é muito superior à do século anterior ao nível do número de músicos, variedade de instrumentos, e dinâmica sonora também assim acontece com o órgão. Este é agora capaz de produzir sons que vão desde o pianíssissimo (quase inaudível) ao muito forte (de fazer estremecer as paredes) e detém uma palete sonora muitíssimo mais extensa que em épocas anteriores. Nem todos os órgãos de estética romântica são sinfónicos uma vez que nem sempre foi possível ou desejável construir instrumentos de grande dimensão. Mas as características sonoras comuns pode resumir-se a:
a) Registos labiais (principais e flautas) mais suaves com menor preponderância dos harmónicos fundamentais. Ouça aqui um exemplo de um Principal de 8' Barroco e o correspondente Romântico.
b) Surgimento de um novo tipo de registo ("registos de corda" se quisermos utilizar a tradução literal da nomenclatura inglesa) que pretende imitar as secções de corda das orquestras. Tal é feito com recurso a registos labiais de secção estreita que faz sobressair os harmónicos superiores. Oiça o registo Principal 8' , o registo Gamba 8' e o registo Salicional 8' do órgão Aeolian-Skinner instalado no Kellogg Auditorium nos EUA. São registos com tubos de medida sucessivamente mais estreita.
c) O ataque das notas passa a ser praticamente imperceptível.
d) Grandes possibilidades de variação do volume do som (dinâmica). Não só devido a uma maior variedade de registos- uns com maior outros com menos volume - mas também devido à instalação de persianas em algumas secções do órgão, controladas pelo pé do organista, e que permitem fazer variar a sua abertura e consequentemente o volume de som emitido.
Para compreender todo este palavreado o melhor é tentar ouvir alguns exemplos tirados da internet. No entanto, isso não é tarefa fácil uma vez que temos de encontrar duas peças do mesmo autor tocadas em órgãos barrocos e românticos com escolhas de registos que sejam semelhantes e com a mesma afinação. O exemplo mais feliz que consegui encontrar foi o da execução da Passacaglia BWV582 de J. S. Bach que se pode escutar abaixo.
O som do órgão evolui ao longo dos tempos em função do gosto musical de público e compositores e da tecnologia disponível. Desde o princípio da sua história, o órgão teve por objectivo a imitação de outros instrumentos algo que hoje fazemos com o recurso a sintetizadores. Mesmo o seu registo mais característico (o chamado Principal que em geral compõem as fachadas) tinha por objectivo, a partir de determinada época, fundir-se com a voz humana que por sua vez acompanhava e sustentava. A evolução técnica permitiu que os órgãos passassem a conseguir imitar flautas, trompetes, oboés, bombardas, violas da gamba (espécie de violoncelo arcaico), cornetas, gaitas de foles, trompas, etc... A forma como essas "imitações" soavam foi evoluindo de forma acompanhar os gostos, os novos instrumentos que iam aparecendo e desaparecendo e a as transformações tímbricas que os instrumentos "imitados" iam sofrendo. Não se pense que o objectivo principal era exclusivamente o de imitar outros instrumentos. A partir do século XV começa a desenvolver-se um repertório próprio para o instrumento e a partir do final do século XVI já temos exemplos de algum virtuosismo. As capacidades sonoras do órgão são em alguns aspectos superiores aos da orquestras nomeadamente ao nível da profundidade sonora (capaz de sonoridades no limite do subsónico e do suprasónico) e do virtuosismo.
Não existe propriamente um órgão barroco mas sim várias escolas dentro deste: órgão francês, alemão, ibérico, inglês... Mas acho ser possível características que são mais ou menos comuns em termos de sonoridade:
a) O órgão barroco privilegia a clareza das notas. Na música de tecla, o período barroco representa o período àureo do contraponto. O contraponto é um tipo de escrita - que pode ser aplicado a qualquer instrumento, coro ou agrupamento instrumental - que joga com a conjugação de diferentes discursos musicais - que soariam bem se tocados isoladamente - e que se misturam
resultando num efeito muito rico superior à soma das partes. Quando se compõem peças que chegam a combinar até 6 discursos musicais em simultâneo, torna-se óbvio que o instrumento que as toca tem de ser capaz de produzir um som claro em que os harmónico fundamentais sobressaem.
b) O ideal estético-sonoro dos registos Principais ainda privilegia as semelhanças com a voz humana. Verifica-se que na sua concepção técnica, a emissão de som no órgão barroco tem muitas semelhanças com o mecanismo de produção de som da voz humana.
c) O ataque das notas (as primeiras fracções de segundo na produção de som) é bem presente e notório. Nos registos de Plauta e Principais é muito normal ouvirmos o "chiff" (expressão inglesa) de cada vez que uma nota é tocada.
A partir de meados do século XVIII o órgão entra num período de esquecimento devido à chegada do período clássico e que é, em grande medida, uma negação dos princípios estéticos do barroco. Com estes novos ventos, o órgão deixa de ter grande interesse enquanto instrumento solístico e praticamente se deixa de compôr repertório que tenha em vista a utilização plena das capacidades do órgão.
Chegados ao século XIX, com a redescoberta de Bach e a revalorização do contraponto regressa o interesse pelo órgão. No entanto, a arte da organaria não irá tentar recuperar a arte do barroco mas sim procurar novos caminhos em linha com o gosto e tecnologia da época. O líder incontestado do novo movimento organeiro foi um catalão naturalizado francês chamado Aristides Cavaillé-Coll. É ele quem afirma a nova corrente do órgão romântico e sinfónico. A tecnologia existente a partir de meados do século XIX permite construir órgãos maiores e com volume sonoro superior. Tal como a orquestra do século XIX é muito superior à do século anterior ao nível do número de músicos, variedade de instrumentos, e dinâmica sonora também assim acontece com o órgão. Este é agora capaz de produzir sons que vão desde o pianíssissimo (quase inaudível) ao muito forte (de fazer estremecer as paredes) e detém uma palete sonora muitíssimo mais extensa que em épocas anteriores. Nem todos os órgãos de estética romântica são sinfónicos uma vez que nem sempre foi possível ou desejável construir instrumentos de grande dimensão. Mas as características sonoras comuns pode resumir-se a:
a) Registos labiais (principais e flautas) mais suaves com menor preponderância dos harmónicos fundamentais. Ouça aqui um exemplo de um Principal de 8' Barroco e o correspondente Romântico.
b) Surgimento de um novo tipo de registo ("registos de corda" se quisermos utilizar a tradução literal da nomenclatura inglesa) que pretende imitar as secções de corda das orquestras. Tal é feito com recurso a registos labiais de secção estreita que faz sobressair os harmónicos superiores. Oiça o registo Principal 8' , o registo Gamba 8' e o registo Salicional 8' do órgão Aeolian-Skinner instalado no Kellogg Auditorium nos EUA. São registos com tubos de medida sucessivamente mais estreita.
c) O ataque das notas passa a ser praticamente imperceptível.
d) Grandes possibilidades de variação do volume do som (dinâmica). Não só devido a uma maior variedade de registos- uns com maior outros com menos volume - mas também devido à instalação de persianas em algumas secções do órgão, controladas pelo pé do organista, e que permitem fazer variar a sua abertura e consequentemente o volume de som emitido.
Para compreender todo este palavreado o melhor é tentar ouvir alguns exemplos tirados da internet. No entanto, isso não é tarefa fácil uma vez que temos de encontrar duas peças do mesmo autor tocadas em órgãos barrocos e românticos com escolhas de registos que sejam semelhantes e com a mesma afinação. O exemplo mais feliz que consegui encontrar foi o da execução da Passacaglia BWV582 de J. S. Bach que se pode escutar abaixo.
Passacaglia num órgão barroco
Repare-se no "chiff" que sai de cada vez que uma nota é tocada.
Passacaglia num órgão romântico
O som é neste caso mais redondo, aveludado não se ouvindo o ataque das notas.
Não quero deixar de aproveitar para divulgar esta excelente gravação de um órgão barroco. A qualidade de som é óptima e permite que se perceba a riqueza e o carácter de um excelente órgão barroco com quase todos os registos activados (plennum).
Passacaglia numa excelente gravação e num excelente órgão barroco - órgão Trost em Waltershausen, Alemanha.
Infelizmente não encontrei gravações com esta qualidade para um órgão romântico. Deixo aqui duas que podem ser esclarecedoras.
Demonstração de um famoso e excelente representante do órgão romântico - o órgão Cavaillé-Coll da igreja de St Sulpice em Paris (sim a do código de Da Vinci).
E uma boa gravação de uma peça de Schumman tocada no órgão Skinner na Universidade de Yale
14 outubro 2009
01 outubro 2009
O nascimento de um novo órgão
Foi ontem inaugurado o novo órgão do Mosteiro dos Jerónimos! Um momento assinalável pois era uma pena (para não dizer vergonha) que uma das mais monumentais igrejas do país não tivesse, desde há mais de 50 anos, um instrumento digno para a liturgia e concertos. Ao que parece, a intenção inicial era a de construir um grande órgão mas as autoridades responsáveis pelo património e por este monumento em particular puseram algumas dificuldades (oportunas ou não, desconheço) o que originou que optasse antes por construir um órgão de coro transportável (quando lá forem espreitem por baixo que vão ver umas rodinhas).
O projecto foi entregue ao organeiro suíço Hermann Mathis, que já havia cumprido com sucesso a tarefa de construir um órgão de coro móvel na Capela Sistina e que construiu recentemente um órgão papal em Regensburg. O organista do concerto inaugural foi Wolfgang Seifen - que compôs a cantata do 80º aniversário do papa Bento XVI - e improvisou em vários estilos durante todo o concerto(!) em alternância com o coro de Santa Maria de Belém. O conjunto "ideal", portanto, para este bastião da ortodoxia católica que é a paróquia de Santa Maria de Belém. Com uma acústica particularmente difícil, a concepção e harmonização deste instrumento devem ter sido um grande desafio para o organeiro. O resultado final mostra que o objectivo foi, mais que conseguido, transcendido. Órgão de sonoridade presente mas não agressivo, com uma clareza e definição do som que denota um trabalho de excelência. Disse-me alguém do coro que apesar do órgão praticamente não ser visível a partir do local onde este canta habitualmente, este ouve-se melhor do que o órgão electrónico que antes os acompanhava e que estava instalado mesmo ao lado(!). Mais uma prova de que não há nada como o original e de que cada cêntimo gasto num órgão de tubos de qualidade tem um enorme retorno. Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa e Portugal estão de parabéns.
Nas notas do programa inaugural o órgão é referido como tendo uma concepção barroca. Do que ouvi e vi, de barroco só se for a disposição dos registos. De resto, o órgão soa (e muito bem) a órgão romântico/moderno com timbres suaves e ricos em harmónicos. Outra decisão tomada pelos promotores do projecto e organeiro foi o de dividirem alguns registos em mão esquerda- mão direita como é típico em instrumentos ibéricos. Se acho que não fica mal dar um toque português/ibérico a um instrumento como este, o mais coerente e consequente seria ter construído um órgão de carácter ibérico do ponto de vista sonoro. É verdade que se podem tocar meios registos - género tipicamente ibérico em que do lado esquerdo do teclado o organista dispõe de timbres diferentes, e por vezes contrastantes, dos do lado direito - mas num órgão com sonoridade romântica/moderna alemã não sei se vai dar grande resultado.
Esta é aliás a única crítica que se poderá fazer a este projecto. Não teria sido mais adequado construir para os Jerónimos um órgão que tivesse alguma coisa a ver com o órgão ibérico, e mais concretamente com a tradição portuguesa de organaria? Não pedia que soasse igual aos órgãos históricos mas que representasse uma evolução que parte desse património. Como se a actividade organística genuinamente portuguesa não tivesse sido interrompida entre meados do século XIX e início do séc. XXI. Resta a esperança que venha a ser construído, por um português ou não, um grande órgão nos Jerónimos e que faça jus ao monumento não só do ponto de vista histórico como também sonoro.
O projecto foi entregue ao organeiro suíço Hermann Mathis, que já havia cumprido com sucesso a tarefa de construir um órgão de coro móvel na Capela Sistina e que construiu recentemente um órgão papal em Regensburg. O organista do concerto inaugural foi Wolfgang Seifen - que compôs a cantata do 80º aniversário do papa Bento XVI - e improvisou em vários estilos durante todo o concerto(!) em alternância com o coro de Santa Maria de Belém. O conjunto "ideal", portanto, para este bastião da ortodoxia católica que é a paróquia de Santa Maria de Belém. Com uma acústica particularmente difícil, a concepção e harmonização deste instrumento devem ter sido um grande desafio para o organeiro. O resultado final mostra que o objectivo foi, mais que conseguido, transcendido. Órgão de sonoridade presente mas não agressivo, com uma clareza e definição do som que denota um trabalho de excelência. Disse-me alguém do coro que apesar do órgão praticamente não ser visível a partir do local onde este canta habitualmente, este ouve-se melhor do que o órgão electrónico que antes os acompanhava e que estava instalado mesmo ao lado(!). Mais uma prova de que não há nada como o original e de que cada cêntimo gasto num órgão de tubos de qualidade tem um enorme retorno. Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa e Portugal estão de parabéns.
Nas notas do programa inaugural o órgão é referido como tendo uma concepção barroca. Do que ouvi e vi, de barroco só se for a disposição dos registos. De resto, o órgão soa (e muito bem) a órgão romântico/moderno com timbres suaves e ricos em harmónicos. Outra decisão tomada pelos promotores do projecto e organeiro foi o de dividirem alguns registos em mão esquerda- mão direita como é típico em instrumentos ibéricos. Se acho que não fica mal dar um toque português/ibérico a um instrumento como este, o mais coerente e consequente seria ter construído um órgão de carácter ibérico do ponto de vista sonoro. É verdade que se podem tocar meios registos - género tipicamente ibérico em que do lado esquerdo do teclado o organista dispõe de timbres diferentes, e por vezes contrastantes, dos do lado direito - mas num órgão com sonoridade romântica/moderna alemã não sei se vai dar grande resultado.
Esta é aliás a única crítica que se poderá fazer a este projecto. Não teria sido mais adequado construir para os Jerónimos um órgão que tivesse alguma coisa a ver com o órgão ibérico, e mais concretamente com a tradição portuguesa de organaria? Não pedia que soasse igual aos órgãos históricos mas que representasse uma evolução que parte desse património. Como se a actividade organística genuinamente portuguesa não tivesse sido interrompida entre meados do século XIX e início do séc. XXI. Resta a esperança que venha a ser construído, por um português ou não, um grande órgão nos Jerónimos e que faça jus ao monumento não só do ponto de vista histórico como também sonoro.
11 setembro 2009
Dia Internacional de Coisa Nenhuma
Será que se consegue arranjar no calendário um dia em que não seja Dia Inter/Nacional de alguma coisa?
27 agosto 2009
06 julho 2009
02 julho 2009
16 junho 2009
Mínimas
Creio que era de la Palisse que dizia "Citar é de uma grande falta de imaginação".
Nota: Esta vai dedicada ao grande José Bandeira
09 junho 2009
Mais serviço público
A Caldeirada de Neutrões tem o prazer de apoiar uma iniciativa - que se quer o mais liberal possível - de apelo ao civismo dos automobilistas chamada "Quero andar a pé! Posso?". Porque os peões não têm culpa dos problemas de estacionamento nas cidades. Destaco particularmente a iniciativa de afixação de autocolantes, disponíveis para impressão no blog, em condutores prevaricadores. Aproveito para lembrar que, neste tipo de iniciativas é necessário que se respeite a integridade física e moral de pessoas e viaturas. Naturalmente.
02 junho 2009
Passamos a palavra para o maluquinho dos órgãos
Serve a presente posta para dar a conhecer (ainda que algo tarde) o lançamento do CD "Obras de Dietrich Buxtehude" interpretado pelo organista português Rui Paiva. Começo por dizer que é um CD absolutamente extraordinário a todos os níveis. É raro haver edições discográficas de música para órgão tão boas como esta mesmo a nível interncacional. Melhor que isto só em SACD com mistura 5.1...
Rui Paiva escolheu, para tocar obras de Buxtehude, o órgão português mais adaptado ao repertório de órgão do Norte da Alemanha do final do séc. XVII: o òrgão da Sé Catedral de Faro construido pelo organeiro Johann Heinrich Hulenkampf que foi discípulo do maior mestre de construção de órgãos alemão/neerlandês do século XVII, Arp Schnitger. Tal como o órgão foi escolhido para tocar Buxtehude, também houve o cuidado de escolher as obras de Buxtehude mais adequadas a este instrumento em concreto. Houve, por isso o cuidado de escolher peças para as quais são necessárias quase exclusivamente os manuais. A pedaleira é utilizada apenas em escassas ocasiões e de forma meramente pontual e mínima.
A interpretação de Rui Paiva é clara e viva, sem ornamentação excessiva e com cuidado em fazer mais do que debitar notas. Outra coisa não seria de esperar de um aluno do falecido Joaquim Simões da Hora. A registação é variada, inteligente, criteriosa e obediente ao carácter das peças e suas secções e, tanto quanto possível, à estética sonora da época em que estas obras foram escritas. A qualidade técnica da gravação, sem ser excepcional, é muito boa.
A apresentação física e gráfica do CD é de luxo. Em digipack, profusamente ilustrado (como nunca vi) com fotografias de grande qualidade técnica e artística. OS textos são bastante enriquecedores e sem grandes tecnicismos musicológicos ou organológicos e encarregam-se da contextualização das obras gravadas e da apresentação do instrumento e sua história. No final é possível encontrar as registações utilizadas nas peças executadas, característica que é altamente desejável para quem se interessa pelo repertório de órgão mas que, infelizmente, nao é muito comum encontrar em gravações de órgão. Creio, inclusive que é a primeira vez que isto acontece num CD gravado em Portugal, algo a que o facto de Rui Paiva ser professor de órgão (de miúdos e graúdos) não será alheio.
Fixem bem a capa. Se a virem nas lojas peçam para escutar. Se gostarem, comprem. Vala cada euro gasto.
Conselho aos navegantes, amantes da Caldeirada
Aos queridos leitores peço desculpa pela longa pausa sem aviso. Derivado a motivos relacionados com questões, vai deixar de haver regularidade na puclicação de postas. Aconselho os fãs deste blogue a inscreverem o blogue num daqueles programas de RSS que avisam quando ele é actualizado. Quem é amiguinho?
03 abril 2009
Aviso
É só para dizer que quem escrever textos indecorosos e ofensivos como os que abaixo se transcrevem, arriscam-se a ser processados pelo PM e a levar um puxão de orelhas do encarregado de educação. Cautela!
«Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina. A intervenção do secretário-geral do PS na abertura do congresso do passado fim-de-semana, onde se auto-investiu de grande paladino da "decência na nossa vida democrática", ultrapassa todos os limites da cara de pau. A sua licenciatura manhosa, os projectos duvidosos de engenharia na Guarda, o caso Freeport, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso Cova da Beira não fazem necessariamente do primeiro-ministro um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.
José Sócrates, no entanto, preferiu a fuga para a frente, lançando-se numa diatribe contra directores de jornais e televisões, com o argumento de que "quem escolhe é o povo porque em democracia o povo é quem mais ordena". Detenhamo- -nos um pouco na maravilha deste raciocínio: reparem como nele os planos do exercício do poder e do escrutínio desse exercício são intencionalmente confundidos pelo primeiro-ministro, como se a eleição de um governante servisse para aferir inocências e o voto fornecesse uma inabalável imunidade contra todas as suspeitas. É a tese Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro - se o povo vota em mim, que autoridade tem a justiça e a comunicação social para andarem para aí a apontar o dedo? Sócrates escolheu bem os seus amigos.
Partindo invariavelmente da premissa de que todas as notícias negativas que são escritas sobre a sua excelentíssima pessoa não passam de uma campanha negra - feitas as contas, já vamos em cinco: licenciatura, projectos, Freeport, apartamento e Cova da Beira -, José Sócrates foi mais longe: "Não podemos consentir que a democracia se torne o terreno propício para as campanhas negras." Reparem bem: não podemos "consentir". O que pretende então ele fazer para corrigir esse terrível defeito da nossa democracia? Pôr a justiça sob a sua nobre protecção? Acomodar o procurador-geral da República nos aposentos de São Bento? Devolver Pedro Silva Pereira à redacção da TVI?
À medida que se sente mais e mais acossado, José Sócrates está a ultrapassar todos os limites. Numa coisa estamos de acordo: ele tem vergonha da democracia portuguesa por ser "terreno propício para as campanhas negras"; eu tenho vergonha da democracia portuguesa por ter à frente dos seus destinos um homem sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático. Como político e como primeiro-ministro, não faltarão qualidades a José Sócrates. Como democrata, percebe-se agora porque gosta tanto de Hugo Chávez.»
10 março 2009
A cegonha ainda vai ser a nossa águia de cabeça branca
No meu tempo, a cegonha era aquela ave que lixava (com F), com o seu excremento, as árvores (muitas vezes centenárias) em que fazia ninho. Hoje é um símbolo nacional. Bem útil para algumas empresas do sector da energia fazerem as suas campanhas de charme. Camões, como tinhas razão.
06 março 2009
03 março 2009
28 fevereiro 2009
Há uma semana que estou em estado de graça
Para tal bastou estudar a harmonia que envolve o tema da "Ode à Alegria" da 9ª sinfonia de Beethoven (2:36). Atentem especialmente na poética frase dos violoncelos e violas entre 3:53 e 4:31 na sua ascenção até à apoteose que se segue. O mais espantoso é que esteve debaixo do nariz durante muito tempo sem que me tivesse dado conta.
20 fevereiro 2009
10 fevereiro 2009
09 fevereiro 2009
06 fevereiro 2009
29 janeiro 2009
26 janeiro 2009
Para quem se interesse por Estatística
Saiu recentemente um excelente livro de noções básicas de estastística. Mais um. Mas este tem uma nuance: raramente recorre a fórmulas matemáticas. Trata-se do livro "Bioestatística, Epidemiologia e Investigação" e foi escrito por A. Gouveia de Oliveira. Apesar do nome não ser nada sugestivo - o ideal seria chamar-se "Estatística para Tótós" - acreditem que o seu conteúdo é bastante interessante. Estatística explicada por palavras, com linguagem acessível e exemplos ao alcance de qualquer ignorante em medicina ou biologia (como eu). Lê-se de uma penada. Indispensável para quem quer aprender estatística (que não apenas a descritiva) e absolutamente recomendável para quem queira refrescar ou consolidar aquilo que já aprendeu. Folheem-no se o encontrarem numa livraria e depois digam-me se não tenho razão.
Para quem ainda não percebeu...
...qual é a graça do Bruno Aleixo. O Bruno é um conceito mais próximo da banda desenhada que do formato televisivo tradicional. A piada daquilo tem mais a ver com a construção de um personagem e das suas idiossincrasias - neste caso trata-se de um manipulador, egoísta, infantil e mal-formado com sotaque da Anadia. Os sketches deste boneco gravitam nas suas provas de infâmia e não em anedotas com princípio, meio e punchline. Por isso é que nós, os intelectualóides do humor, conseguimos achar-lhe piada. Assim de repente, lembrei-me de uma BD que segue um pouco este conceito: os Skrotinhos do brasileiro Angeli. Se virem um exemplar numa livraria, folheem e se calhar vão achar piada. E perceber que não é muio diferente do Bruno Aleixo.
24 janeiro 2009
Segundo emprego
Caros leitores, o Tarzan arranjou um segundo emprego. Aceitei o amável convite feito pelo Fiel Inimigo para colaborar nesse blogue que, aliás, leio regularmente e aconselho principalmente agora que vou passar a lá escrever. Não vou deixar de aqui escrever, mas vão deixar de se publicar postas sérias. Agora é só galhofa. Os textos de análise e mais "sisudos" passam para o Fiel Inimigo. Não convém manchar a credibilidade de um blogue com tão boas análises de política internacional e com críticas tão lúcidas ao folclore de esquerda.
23 janeiro 2009
22 janeiro 2009
O drama da transparência
Obama anuncia que, em nome da transparência, vai proibir que sejam dados presentes aos congressistas por parte de lobbiers. Para mim isto é uma incoerência. A medida é moralizadora? É, sim senhor. É eficaz? Admito que possa ser, se bem implementada. Ajuda a uma maior transparência? Não. Agora os presentes passam a ser dados debaixo da mesa, na caixa, do correio, debaixo do tapete da entrada, depositados na conta da Suíça. O que antigamente era transparentemente feito às claras passa a ser feito às escondidas - conceito oposto à transparência, recorde-se. Uma espécie de lei-seca para os lobbiistas. Aliás, o lobby é "aberto" justamente por causa da transparência.
Princess Obama
Obama, óbviamente não vai conseguir cumprir tudo o que prometer nem corresponder totalmente às expectativas criadas. Disse há umas postas atrás que os fãs de Obama iriam ficar desiludidos quando tivessemos de voltar à realidade depois da eleição. Só que, ao contrário do que vaticinei, tal não vai desiludir os seus adeptos. Obama já conseguiu conseguiu criar uma imagem de santidade bem disney-hollywoodesca que faz com que seja neste momento um misto de Princesa Diana, Martin Luther King e Kennedy (todos trágicamente falecidos, curiosamente). É obra! Sob o encantador carisma deste homem (que o tem e muito), os seus fãs tudo lhe perdoarão. O conto de fadas fala mais alto.
21 janeiro 2009
Questão a todo o Globo
É impressão minha ou o Twitter não faz nada que um messenger e/ou blogue não faça? Talvez seja uma ferramenta que se tente posicionar entre os dois, escapando ao estereótipo do messenger - ferramenta mais pessoal e mais virada para a conversa de chacha - e dos blogues - mais ligados a textos de análise e/ou criativos?
20 janeiro 2009
19 janeiro 2009
16 janeiro 2009
Leitura recomendada ainda que um pouquinho atrasada
"Progress, don't regress" do LA-C n' A Destreza das Dúvidas
«Outra questão que me parece interessante é a moda de culpar os cursos de Economia e Gestão pelos crimes que gestores e financeiros cometem. O argumento é simples, estes senhores vão para as empresas aplicar as teorias que aprendem e depois causam estas crises imensas. É uma acusação que é feita amiúde e que me parece absolutamente extraordinária. Por vários motivos, em primeiro lugar porque ninguém anda a ensinar os alunos a serem desonestos; bem pelo contrário, cada vez se dá mais destaque ao valor da ética nos negócios. Em segundo, porque, como muito bem notou esse economista convencional chamado Nuno Garoupa, até ao início dos anos 90 apenas duas escolas em Portugal se inseriam no mainstream neoclássico: a Universidade Nova e a Católica.»
Se bem que eu ache que verdadeiramente neoclássico só mesmo a Católica, mas posso estar desactualizado.
«Outra questão que me parece interessante é a moda de culpar os cursos de Economia e Gestão pelos crimes que gestores e financeiros cometem. O argumento é simples, estes senhores vão para as empresas aplicar as teorias que aprendem e depois causam estas crises imensas. É uma acusação que é feita amiúde e que me parece absolutamente extraordinária. Por vários motivos, em primeiro lugar porque ninguém anda a ensinar os alunos a serem desonestos; bem pelo contrário, cada vez se dá mais destaque ao valor da ética nos negócios. Em segundo, porque, como muito bem notou esse economista convencional chamado Nuno Garoupa, até ao início dos anos 90 apenas duas escolas em Portugal se inseriam no mainstream neoclássico: a Universidade Nova e a Católica.»
Se bem que eu ache que verdadeiramente neoclássico só mesmo a Católica, mas posso estar desactualizado.
15 janeiro 2009
Chovem Euros em Lagoa
Por favor. Digam-me que isto, isto e isto são gralhas de quem preencheu o formulário.
Nome entidade adjudicante | |
---|---|
Município de Lagoa |
Nome entidade adjudiatária | |
---|---|
Algarmetal – Com. de Drogaria e Equip. Metálico, Ld.ª |
Objecto do contrato(descrição sumária):
Aquisição de 6 fitas métricas de 5 metros cada para os funcionários da Secção de Limpeza
Preço do contrato (Euro): 8.111,00 €
Ah! Grandes Xutos
Ontem vi uma reportagem (última notícia) sobre a festa dos 30 anos. Chamou-me a atenção os olhos brilhantes de quase todos os entrevistados. Às tantas fiquei na dúvida se não seria uma reportagem sobre um congresso "Novas Esquerdas" ou uma merda dessas, e que os Xutos lá tivessem ido tocar. Até o Louçã botou discurso.
09 janeiro 2009
Vou ali jogar no euromilhões já volto
"Cristiano Ronaldo sai ileso de acidente de viação em Manchester"
(in Público)
Juro que quando escrevi este post não sabia da notícia.
08 janeiro 2009
Leitura recomendada do dia
"A Novilíngua" de O-Lidador no Fiel Inimigo.
«A apropriação de conceitos por parte de movimentos e ideologias totalitárias há muito que deixou o campo da ficção e saltou com grande facilidade para a realidade. [...] Francisco Louçã afirma que quer combater a “democracia burguesa” e o Partido Comunista quando fala de “amplas liberdades” ou de “verdade” tem em vista exactamente o contrário daquilo que se entende por liberdade individual, e considera “verdade” não o que o é intrinsecamente, mas aquilo que pode contribuir para fazer avançar a visão ideológica "certa", ou seja "verdadeira".»
«A apropriação de conceitos por parte de movimentos e ideologias totalitárias há muito que deixou o campo da ficção e saltou com grande facilidade para a realidade. [...] Francisco Louçã afirma que quer combater a “democracia burguesa” e o Partido Comunista quando fala de “amplas liberdades” ou de “verdade” tem em vista exactamente o contrário daquilo que se entende por liberdade individual, e considera “verdade” não o que o é intrinsecamente, mas aquilo que pode contribuir para fazer avançar a visão ideológica "certa", ou seja "verdadeira".»
Gran Tuguismo
Na sua edição de ontem, o jornal Oje publicou um artigo da Auto Magazine relativamente a um ensaio do Ferrari 599 GTB Fiorano F1.
O artigo reflecte o espírito menino-acelera do jornalista e que não só coincide com o perfil do público alvo a quem estas revistas se dirigem como, provavelmente, o vincam ainda mais. O artigo tem algumas pérolas de inconsciência social.
«Hoje viajar em autoestrada é muito seguro, fácil e... tremendamente aborrecido. O espírito Gran Turismo sofreu um rude golpe, a que se seguiu outro: a proliferação de radares de velocidade.»
Pois. Isso de poder viajar descansado sem aparecerem uns gajos a abalroarem-me enquanto desfrutam o seu brinquedo é tremendamente aborrecido. Perigoso até. Toda a gente sabe que a adrenalina evita o câncaro e os ataques cardíacos.
«A ideia é fugir à "autovia"e aos implacáveis radares espanhóis»
São uns malandros os radares. Esses resquícios das SS. Então os espanhóis obrigam mesmo um gajo a cumprir o código (esse livro pidesco) no que toca a velocidades máximas.
Mas o melhor vem no final.
«É preciso força nos músculos do pescoço para os olhos não perderem o foco quando a cabeça é atirada para trás. Há meia hora que vou em ataque total, experiência que seria banal nos anos 50 mas que hoje pensava ser uma impossibilidade. Apercebo-me que não vejo um carro, uma pessoa, há dezenas de quilómetros e o instinto de defesa faz-me refrear um pouco o ímpeto: "se acontece alguma coisa, fico aqui uma semana sem alguém dar comigo."»
Eu pensava que o gajo se ia congratular de ainda não ter corrido o risco de matar ninguém e vai-se a ver o gajo está é preocupado com que pode acontecer a ele e ao caro brinquedo. Andar depressa e idealmente aconchegadinho para amparar qualquer deslize.
O artigo reflecte o espírito menino-acelera do jornalista e que não só coincide com o perfil do público alvo a quem estas revistas se dirigem como, provavelmente, o vincam ainda mais. O artigo tem algumas pérolas de inconsciência social.
«Hoje viajar em autoestrada é muito seguro, fácil e... tremendamente aborrecido. O espírito Gran Turismo sofreu um rude golpe, a que se seguiu outro: a proliferação de radares de velocidade.»
Pois. Isso de poder viajar descansado sem aparecerem uns gajos a abalroarem-me enquanto desfrutam o seu brinquedo é tremendamente aborrecido. Perigoso até. Toda a gente sabe que a adrenalina evita o câncaro e os ataques cardíacos.
«A ideia é fugir à "autovia"e aos implacáveis radares espanhóis»
São uns malandros os radares. Esses resquícios das SS. Então os espanhóis obrigam mesmo um gajo a cumprir o código (esse livro pidesco) no que toca a velocidades máximas.
Mas o melhor vem no final.
«É preciso força nos músculos do pescoço para os olhos não perderem o foco quando a cabeça é atirada para trás. Há meia hora que vou em ataque total, experiência que seria banal nos anos 50 mas que hoje pensava ser uma impossibilidade. Apercebo-me que não vejo um carro, uma pessoa, há dezenas de quilómetros e o instinto de defesa faz-me refrear um pouco o ímpeto: "se acontece alguma coisa, fico aqui uma semana sem alguém dar comigo."»
Eu pensava que o gajo se ia congratular de ainda não ter corrido o risco de matar ninguém e vai-se a ver o gajo está é preocupado com que pode acontecer a ele e ao caro brinquedo. Andar depressa e idealmente aconchegadinho para amparar qualquer deslize.
Alcoól, excesso de velocidade e manobras perigosas são as principais causas de acidentes mortais. A imprensa automóvel já tem jornalistas que acham lamentável que não se possa fazer uma autoestrada acima dos duzentos, a ziguezaguear entre os carros - bem no espírito Gran Turismo.
O próximo passo será lamentar não o poder fazer com visão dupla com uma garrafa de néctar- dos-deuses na mão? (bem no espírito Gran Tuga)
05 janeiro 2009
Quem é que é o maior da aldeia agora?
Recentemente instalou-se o sentimento que há gestores que ganham demais. Gestores privados. De repente toda a gente parece saber melhor que os accionistas qual é o salário certo para os gestores das empresas privadas. Sim, porque se ganham demais é porque o valor actual está acima de um determinado valor justo ou o argumento é incoerente.
Outro grande argumento advém da constatação de que os accionistas são incompetentes a escolher os gestores e a definir as suas condições remuneratórias uma vez que estes ganham brutos prémios independentemente da performance da empresa. Especialmente no sector financeiro. Mas isso só será verdade se a empresa (neste caso, o banco) tiver uma performance muito inferior às suas concorrentes directas ou falir.
Se o Estado (português e outros) decide salvar bancos da falência, isso só vem mostrar que afinal os accionistas souberam escolher os gestores certos.
Outro grande argumento advém da constatação de que os accionistas são incompetentes a escolher os gestores e a definir as suas condições remuneratórias uma vez que estes ganham brutos prémios independentemente da performance da empresa. Especialmente no sector financeiro. Mas isso só será verdade se a empresa (neste caso, o banco) tiver uma performance muito inferior às suas concorrentes directas ou falir.
Se o Estado (português e outros) decide salvar bancos da falência, isso só vem mostrar que afinal os accionistas souberam escolher os gestores certos.
31 dezembro 2008
O espírito democrático
O ano que passou trouxe, pelo menos no mundo ocidental, a necessidade de mudança (que o candidato Obama tão bem soube aproveitar). Em Portugal essa necessidade de mudança agudizou-se ao nível político pela constatação, mais uma vez, de que a democracia só por si não resolve problemas. A constatação da dificuldade de implementação de mudanças (chamem-se reformas ou outra coisa qualquer) gera uma sensação de impotência da democracia. Mas em vez de culpar a democracia acho que seria mais acertado que o problema está na falta dela, ou melhor, na falta de espírito democratico por parte da maioria dos grupos de pressão existentes no nosso país. Já aqui falei no papel reaccionário dos sindicatos e esse é apenas um exemplo de como é possível sabotar o desenvolvimento do país em nome de interesses e objectivos de curto prazo. Acho que os sindicatos e demais grupos de pressão têm o direito (e o dever) de criticar, apontar falhas na actuação governativa e apontar soluções para os problemas. Mas o que acaba por suceder na prática é que os grupos de pressão se dedicam a sabotar e bloquear a acção governativa, especialmente aquela que vá no sentido da mudança. A opinião publica, em geral, não parece nada indignada ou preocupada com isso. Estes dois casos são apenas dois sintomas do problema de base da realidade política portuguesa: a falta de cultura e espírito democrático.
Quando se elege um governo, elege-se igualmente (e idealmente) um pacote de medidas proposto previamente por este que está (ou deveria estar) consagrado no programa eleitoral. Se um programa eleitoral é eleito democraticamente (com agravante, no caso actual, de ter sido por maioria absoluta) parece-me profundamente ilegítimo que se sobote e bloqueie a aplicação dessas medidas. Já o mesmo não acho em relação a medidas que não estejam claramente anunciadas ou implícitas no programa eleitoral, uma vez que não gozam da legitimidade concedida nas urnas. Se esta ideia estivesse bem clara na consciência dos grupos de pressão e da população em geral, os programas eleitorais passariam a existir de facto e seriam concerteza muito mais claros e específicos por forma a garantir a acção governativa sem sabotagens interesseiras.
Não defendo nem me parece acertado que esta impossibilidade de oposição ao programa eleitoral sufragado por maioria seja consagrada em lei e mantida coercivamente. Esta "regra" deveria estar enraizada na cultura democrática de todos. É uma questão de legitimidade mais do que legalidade.
Ao escrever esta posta lembrei-me de uma história que me contaram há uns tempos. Um amigo meu recebeu uns amigos suecos que queriam conhecer um pouco do nosso país. Decidiram que , em cada dia, os sítios a visitar seriam decididos por uma pessoa diferente, à vez. E assim aconteceu. A parte interessante seria a de imaginar como é que seria se em vez de suecos fossem portugueses. Mesmo que os turistas lusos fossem excepcionalmente metódicos ao ponto de estabelecer este esquema de organização, ele certamente resultaria em discussões diárias acerca das decisões tomadas, com todos a quererem dar a sua opinião, a tentar que o decisor alterasse as suas opções, a ameaçar boicotar as férias, a amuar, a deixarem de se falar... Para mim este caso ilustra na perfeição que o fracasso não está no sistema democrático (delegar livremente em alguém a acção governativa por consenso/maioria) mas no desrespeito por este sistema (ou, se quisermos ser simpáticos, na falta de consciência da importância do bom funcionamento do sistema democrático) que é tão característico do puro lusitano.
Quando se elege um governo, elege-se igualmente (e idealmente) um pacote de medidas proposto previamente por este que está (ou deveria estar) consagrado no programa eleitoral. Se um programa eleitoral é eleito democraticamente (com agravante, no caso actual, de ter sido por maioria absoluta) parece-me profundamente ilegítimo que se sobote e bloqueie a aplicação dessas medidas. Já o mesmo não acho em relação a medidas que não estejam claramente anunciadas ou implícitas no programa eleitoral, uma vez que não gozam da legitimidade concedida nas urnas. Se esta ideia estivesse bem clara na consciência dos grupos de pressão e da população em geral, os programas eleitorais passariam a existir de facto e seriam concerteza muito mais claros e específicos por forma a garantir a acção governativa sem sabotagens interesseiras.
Não defendo nem me parece acertado que esta impossibilidade de oposição ao programa eleitoral sufragado por maioria seja consagrada em lei e mantida coercivamente. Esta "regra" deveria estar enraizada na cultura democrática de todos. É uma questão de legitimidade mais do que legalidade.
Ao escrever esta posta lembrei-me de uma história que me contaram há uns tempos. Um amigo meu recebeu uns amigos suecos que queriam conhecer um pouco do nosso país. Decidiram que , em cada dia, os sítios a visitar seriam decididos por uma pessoa diferente, à vez. E assim aconteceu. A parte interessante seria a de imaginar como é que seria se em vez de suecos fossem portugueses. Mesmo que os turistas lusos fossem excepcionalmente metódicos ao ponto de estabelecer este esquema de organização, ele certamente resultaria em discussões diárias acerca das decisões tomadas, com todos a quererem dar a sua opinião, a tentar que o decisor alterasse as suas opções, a ameaçar boicotar as férias, a amuar, a deixarem de se falar... Para mim este caso ilustra na perfeição que o fracasso não está no sistema democrático (delegar livremente em alguém a acção governativa por consenso/maioria) mas no desrespeito por este sistema (ou, se quisermos ser simpáticos, na falta de consciência da importância do bom funcionamento do sistema democrático) que é tão característico do puro lusitano.