13 fevereiro 2007

O papel reaccionário dos sindicatos



Serve a presente posta para expor, ao caro leitor, uma questão que ainda não tinha tido tempo de estruturar. Um facto curioso da vida politica e social no nosso país é que sempre que se anunciam mudanças que afectem o sector laboral, de forma mais directa, virem os representantes sindicais protestar com enorme veemência contra essas mesmas mudanças. Não interessa se são anunciadas pelos governos, associações patronais ou por multinacionais. Não interessam porque os sindicatos conseguem ver sempre algo de negro e tenebroso nas mudanças que se anunciam. Conseguem sempre discernir a razão pela qual as alterações anunciadas “só servem os interesses dos patrões e do grande capital”.


Se, por um lado, esta atitude é típica na nossa esquerda radical - da qual, convém lembrar, a maioria dos sindicatos são sua extensão – por outro lado, esta atitude encaixa-se numa lógica negocial inerente à própria função dos sindicatos. É precisamente esse o objectivo: maximizar os ganhos dos trabalhadores. Todas as propostas que impliquem ganhar menos ou trabalhar mais são sempre atacadas com a maior indignação, não interessando se são razoáveis ou que tragam benefícios a longo prazo. Se houver o menor vislumbre de que o custo-benefício do trabalho possa vir a ser pior, há que “lutar” contra. Se por um lado há muito de cartilha marxista, também não é menos verdade de que não seria de esperar outra lógica de actuação. Ou seria? A meu ver esta obsessão pela manutenção do custo-benefício, dia a dia, em “permanente vigilância” cria padecimentos maníaco-compulsivos.

Tal como um gestor que apenas olha para o curto prazo é mau gestor, os sindicatos, ao não terem uma visão ampla, dinâmica e de longo prazo quer do seu papel quer da realidade laboral no país e no mundo, prestam um mau serviço. Não vou cair no lugar comum de dizer que presta um mau serviço ao país ou à comunidade. Isso só seria aceitável se, em primeiro lugar, os sindicatos tivessem essa função. Só que não têm, eles são apenas uma frente negocial que visa melhorar as condições socioeconómicas dos seus associados. Tudo o resto é romance e marketing.

E presta um mau serviço, porque a visão de curto prazo faz com que os sindicatos sejam altamente reactivos e avessos quer ao risco quer, por inerência, à mudança. Os sindicatos são a força social mais reaccionária (no sentido literal do termo) da sociedade portuguesa (a par da igreja, vá). Porque talvez não estejam tão interessados em raciocinar e agir com enfoque nos custos benefícios do trabalho mas antes preocupados em atiçar a luta de classes, causa que os dirigentes frontal e abertamente assumem. O que me admira não é que cada vez haja menos sindicalizados, mas sim que a opinião pública (media culpa) ainda ache que eles acrescentem grande coisa ao panorama actual.