Pacifismo selectivo




Um blogue por dá cá aquela palha
Repare-se na acentuação rítmica. Na naturalidade do dodecafonismo! Na absoluta concentração! Nem perante Bach se deixa intimidar.
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Hoje (finalmente!...) vi o “documentário” de Al Gore. Documentário está entre aspas porque no fundo mistura tempo de antena político com documentário. Noutras circunstâncias seria facilmente classificado de propaganda. Mas o status quo e os méritos do próprio filme, evitam essa leitura à maioria dos espectadores.
Para mim a promoção da figura de Al Gore é por demais evidente. Os apartes sobre o atropelamento do filho, sobre os touros que ajudava a criar e do tabaco que ajudava a colher em criança, sobre a morte da irmã devido a cancro do pulmão, sobre a derrota eleitoral (que drama!) frente a G.W.Bush em 2000, são completamente irrelevantes para o tema do aquecimento global. Mas o documentário encaixa estes apartes com competência criando tensões e formando a imagem do nosso simpático apresentador.
Refira-se que, do ponto de vista cinematográfico e do ritmo, o documentário é muito bom (daí o Óscar?). Fiquei com pena de não o ter visto no cinema.
- O clima está a mudar
- Está a mudar devido à acção humana
- O mundo científico é unânime acerca do aquecimento global
- Os políticos são (os únicos) capazes mudar o terrível destino que se avizinha
- Al Gore é um deles
Para mostrar que o clima está em mudança (acelerada) Al Gore usa todo o tipo de exemplos, num exercício de sábio cherry-piking, que vão desde gráficos, ao recuo dos glaciares até às migrações de aves. Parece que não existe nenhum fenómeno natural desagradável que não se tenha devido ao aquecimento do globo. Nem os que antes eram tido como normais. Exemplo mais flagrante: os furacões. No meio disto tudo, Al Gore não se esquece de demonstrar alguma autoridade na matéria da climatologia explicando os mecanismos climáticos. Nesse ponto o documentário parece ser útil para quem nunca ouviu falar do assunto. Alerta-se para sinais existentes ao nível do desaparecimento de algumas espécies - bichinhos fofinhos (voz dengosa) - e da súbita proliferação de outros - insectos horripilantes portadores de temíveis doenças (voz cavernosa) o que denota alguma selectividade cognitiva ou, alternativamente, uma vontade de manipular. Os exemplos de alterações assentam na observação de dinâmicas que vão de 6500 anos até 35 dias. É à vontade do freguês.
……
(Prelúdio em Sol menor BuxWV163. Órgão da Nieuwe Kerk, Amsterdão)
Curioso encontrar um vídeo do "pai" da interpretação "hisóricamente informada" de música antiga para tecla, tocando precisamente um compositor que foi, em grande medida, "pai" da música para tecla de Johann Sebastian Bach. O jovem Bach, tendo já tido certamente algum contacto com a música de Buxtehude, pede uma licença de 1 mês para ir aprender com o Mestre na cidade de Lübeck (a 300 km de onde ele se encontrava). Fez a viagem a pé (verdade ou lenda?) e demorou-se por lá 3 meses. O resultado parece óbvio quando se compara a música de ambos.
Buxtehude é talvez o expoente máximo do stylus phantasticus na sua época. O "estilo fantástico" consiste numa abordagem altamente virtuosística e caprichosa do instrumento de tecla, com resultados espetaculares na literatura para o órgão. Na prática, traduz-se em passagens musicais de grande dificuldade técnica, muita alternância de teclados, mudanças bruscas de temperamento musical e utilização plena das possibilidades sonoras do instrumento. Tudo isto pode ser visto neste vídeo de excelência. O prelúdio começa por um trecho tocado com uma registação plena (muitos registos a serem tocados ao mesmo tempo) que pára quase abruptamente para dar lugar a uma pequena fuga trecho em compasso de dança, tocado no teclado superior (com menos registos). O trecho musical é interrompido novamente para outra pequena secção em estilo improvisatório e que desemboca numa nova fuga, desta vez mais elaborada. A fuga termina em suspenso dando lugar a um trecho virtuosístico com bastantes trocas de teclado. Volta uma fuga em ritmo de dança que vai crescendo em bravura e que termina de forma surpreendente esta peça.