01 março 2007

Visão em revista

Hoje a revista Visão estreia-se com um novo look. O conteúdo mantém-se básicamente igual. Pena é que as ácidas caricaturas de Rui tenham desaparecido. No geral tratou-se apenas de um face-lifting.
Tenho dois pontos a destacar. O primeiro, um artigo sobre Robert Mugabe em que no topo se listam os "piores ditadores" segundo a revista Parade. Só que me parece que meteram no mesmo saco realidades muito distintas e que me custam aceitar. Se estou de acordo que Omar Al-Bashir do Sudão, Robert Mugabe do Zimbabwe, Islam Karimov do Usbequistão e Muammar Al-Khadafi se podem enquadrar perfeitamente na categoria de ditadores; já no que toca a Kim-Jong Il da coreia do Norte, Sayyid Ali Khamanei do Irão, Hu Jintao da China, Than Shwe da Birmânia me levantam sérias dúvidas. Nestes casos estamos perante ditaduras de partidos e elites do que propriamente de pessoas. A ditadura na China é mantida pelo Partido Comunista Chinês que por sua vez decide quem é o seu líder máximo. Numa ditadura típica é contrário: quem manda é o ditador que por sua vez tem controlo absoluto sobre o seu partido. É claro que nesta categoria existem casos menos claros como o de Kim-Jong Il que mantém uma visão mais estalinista do poder e, por isso, uma liderança partidária mais pessoal. Neste caso prefiro falar de ditaduras de elite do que propriamente de ditadores no sentido clássico.
Quanto a classificar o Rei Abdullah da Arábia Saudita ou Bashar Al-Assad da Síria como ditadores já me parece de todo errado. Npo primeiro caso trata-se de uma monarquia, ainda que absoluta, e no segundo caso trata-se de um persidente eleito. Pode-se alegar que nestes casos haja sintomas de défice democrático mas, para mim, isso não basta para se atribuir o "grau" de ditador. Como me pareceria catalogar o Rei Don Juan Carlos ou a Rainha de Inglaterra ou o Papa Bento XVI como ditadores.
O segundo ponto que gostava de destacar é o facto de estarem disponíveis no site da Visão (www.visão.pt) as gravações de algumas das entrevistas publicadas. Parece-me um ponto bastante positivo. Especialmente interessante porque agora se pode estabelecer a ponte a entrevista e o que foi publicado. Experimentei ouvir o excerto que está disponível relativamente à entrevista de D. Policarpo e comparei com o texto publicado. O que se escreveu nas respostas de D. Policarpo, quase metade são declarações do próprio entrevistador (às quais presumo que D. Policarpo terá acenado afirmativamente com a cabeça) ou respostas induzidas pelo entrevistador. É particularmente elucidativo da maneira como se extrai e publica a informação que vamos lendo na nossa imprensa.