O blogue
Do Fundo da Comunicação pergunta:
Deverá a RTP ter publicidade ou não?A RTP é actualmente um caso de parceria Estado/Privados. Mesmo nos canais de rádio onde, teóricamente não há publicidade, esta a aparece... encapotada. Isto torna a actuação da estação algo... como hei-de dizer?... Promíscua. Eu sou apologista de sistemas tendencialmente puros, assumidos. Ou se opta por um canal inteiramente público - sem preocupações comerciais - ou se assume que não vale a pena gastar recursos públicos para suprir necessidades que o sector privado pode suprir com menores custos.
A televisão do Estado, em especial o Canal 1, não está a servir para colmatar as falhas de mercado mas sim para oferecer o que o mercado já proporciona sem ir ao bolso do contribuinte ("extorquido" seria uma expressão mais feliz...). Logo, não está a criar nenhuma mais valia para a sociedade e está a desperdiçar recursos. Ao concorrer, em vez de proporcionar programação que o mercado não produz, também o faz deslealmente uma vez que tem sempre a almofada do orçamento de Estado. Na minha opinião, a abolição da publicidade na TV pública terá de ser sempre sempre condicional à mudança de orientação da programação. Isto também válido para a rádio onde já não há publicidade mas em que, em muitos casos, a estratégia é de concorrência com os privados. Faz algum sentido que haja
playlists na Antena3? Programas de discos pedidos?!?!?
Já a Antena2 creio que presta um verdadeiro serviço público pese embora suspeite que caso se extinguisse esta estação, logo apareceria uma rádio privada a fazer algo semelhante.
A opção por uma TV inteiramente pública também levanta outros problemas e dilemas. Há que definir o que é "serviço público", definir e identificar as "falhas de mercado", definir a estratégia de actuação e determinar qual a quantidade de recursos adequada para implementar a estação e a programação. Sem esquecer que se deverá assumir como dado adquirido que, sendo uma estação do Estado, estará ao serviço de quem o comanda, ou seja, o executivo em funções. É preferível um canal estatal (não monopolista) - ao estilo da TV salazarista/marcelista - que assumidamente serve o Governo que a situação actual em que essa subserviência é (mal) dissimulada. Seria mais transparente.
Com todos estes constrangimentos, dilemas e perigos que a opção pelo público coloca, acho que ainda assim prefiro a terceira opção: nenhum canal público de TV. Acabava-se de vez com o dilema da publicidade.