Em
notícia do Diário Digial pode ler-se que dois estados americanos proibiram os condutores de fumarem nos seus próprios carros quando transportem crianças. O presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo afirma nesta notícia:
«É um crime os pais fumarem nos carros com os vidros fechados quando transportam
crianças, porque isso tem um impacto muito negativo na saúde e na
capacidade respiratória dos filhos. Na América estas questões são tratadas
a sério, mas infelizmente em Portugal somos um país de meias-tintas. Haja a
coragem para tomar as medidas necessárias como esta», afirmou o responsável, em
declarações à agência Lusa.
Se por um lado concordo que é bastante desagradável (e eventualmente prejudicial) que se fume dentro de um automóvel quando se transportam outras pessoas (não só crianças) que se sentem incomodadas com o fumo; por outro lado, discordo totalmente que exista uma lei que condicione o que se pode ou não fazer no meu próprio carro. Se as motivações da medida me parecem boas, as suas consequências preocupam-me.
O que se está a passar no mundo ocidental é que os estados anseiam regular cada vez mais e mais e mais. A saúde também tem servido de pretexto para a expansão dos tentáculos estatais nas nossas vidas privadas. Por motivos muito nobres as pessoas vão aceitando, sem se aperceberem, que a sua liberdade pessoal seja reduzida a pouco e pouco. Estamos, no mundo ocidental, a caminhar para uma situação em que o Estado passará a dizer-nos o que é que podemos e não podemos comer, que drogas podemos e não podemos tomar (e em que doses), a que horas podemos e não podemos ir à casa de banho, quantas refeições deveremos fazer e a que horas, que brinquedos é que os nossos filhos terão, e por aí adiante....
Não, isto não é nenhum pesadelo só possível numa novela kafkiana ou numa URSS dominada por Estaline. É para aqui que se caminha, mesmo na tal América, land of the free.
A par da limitação das liberdades encontramos o fenómeno da desresponsabilização do indivíduo. Um indivíduo que não toma opções (porque alguém as tomou por si) não pode ser responsabilizado. Um indivíduo que não assume responsabilidades é...irresponsável com cada vez com mais medo de assumir re sponsabilidades e, consequentemente, torna-se medíocre. Como a sociedade é o reflexo dos elementos que a compõem, a sociedade tenderá a tornar-se acéfala e medíocre. Quais meninos mimados que só estão bem ao colo do pai.
Se hoje os pais são muito mais afectuosos com os seus filhos do que o eram há 50 anos atrás, muito mais cuidadosos com a sua segurança (às vezes até demais...) e os educam muito menos à lei da pancada, tal não se ficou a dever a nenhuma lei mas a um conjunto de pressões sociais e a alterações de mentalidade fruto da troca de ideias e informação. O cuidado com o tabaco em relação às pessoas que não fumam (e das crianças) deverá entranhar-se de forma natural, na medida em que as pessoas livremente se interessem pelo bem estar dos outros e os outros ganhem a coragem de apelarem aos fumadores que não o façam na sua presença.