09 outubro 2008

O povo e a bolha


Como se sabe, a actual crise económica foi desencadeada, entre outros factores, por uma bolha especulativa, mais concretamente no sector imobiliário. Os media e líderes de opinião fazem passar a ideia que uns quantos malandros das bolsas foram os responsáveis por esta fé infundada na subida contínua e infinita do valor dos activos imobiliários. E nós, que não tivemos nada que ver com isso, é que pagamos as favas. Acredito, no entanto, que não tenha sido bem assim.

Lembro-me de nas conversas com o talhante, o colega de trabalho, o familiar se invocarem persistentemente duas razões para comprar casa em vez de arrendar:
- "Passas a ter uma coisa tua"
- "Se comprares sempre estás a investir em algo que valoriza"

Estes eram os argumentos "populares" mais frequentes. Se a primeira razão é verdadeira (embora discutível enquanto argumento financeiro para a tomada de decisão), já o segundo argumento revelou-se ser falso. Este espírito especulativo andava afinal na boca de toda a gente e contribuiu decisivamente na decisão de compra de casa (e respectivo endividamento) de milhões de pessoas. Convém não esquecer.

5 Commets:

Blogger alf said...

a mim parece-me que a crise bolsista pode ter sido disparada pela bolha imobiliária mas isso não chega para a explicar. A «bolha» não é imobiliária, é bolsista.

A bolsa tem funcionado como qq esquema em pirâmide, qq Dona Branca. O valor efectidas das acções tem a ver com os dividendos; mas o valor de bolsa tem andado muito acima disso, é um valor especulativo que so se aguenta enquanto houver mais capital a entrar do que a sair, como em qq sistema de pirâmide.

E como o capital não pode entrar indefinidamente porque não é infinito, chega sempre o momento do estoiro, como em qq esquema de pirâmide.

Neste caso, estou convencido que a subida do preço da «energia» é que teve o papel determinante, ao desviar fluxo de capitais da bolsa.

Qual é o problema do estoiro da bolsa? Não estou a ver nada de muito sério excepto para quem pensou enriquecer sem dar nada em troca - sem produzir «energia». Também não fico muito aflito qd estoira um esquema em pirâmide, e ainda há dias recebi convite para mais- o que mostra que o que não falta é gente a querer especular.

Estou por isso perfeitamente de acordo com a ideia de que «o espírito especulativo andava afinal na boca de toda a gente»; mas não tanto nas pessoas que compram andares mas nas que jogam no casino da bolsa.

(compras o carro ao alugas o carro? compras o carro por espírito especulativo? Claro que muita gente investe no imobiliário especulativamente, mas isso não significa que uma pessoa compre casa por essa razão)

Por último, se as empresas pagarem os dividendos que compensem, deixa logo de haver crise na bolsa; se o BPI pagar 0.18 euros por acção e se eu as tiver comprado por 2 euros (hipotético, não tenho acções de ninguém), porque razão haveria de vender acções que me estão a dar um rendimento maior que os certificados de aforro?

3:40 da tarde  
Blogger alf said...

aditamento - eu refiro o aumento do preço da energia mas o estoiro imobiliário pode ter sido determinante - os dinheiros aí ganhos eram investidos na bolha bolsista e, ao cessarem, fizeram depois estoirar a bolhar bolsista por terem originado a tal situação em que a entrada de capitais se torna inferior à saida e que sustenta os esquemas especulativos.

..penso eu que não percebo nada dos mistérios da alta finança...

3:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Por último, se as empresas pagarem os dividendos que compensem, deixa logo de haver crise na bolsa; se o BPI pagar 0.18 euros por acção e se eu as tiver comprado por 2 euros (hipotético, não tenho acções de ninguém), porque razão haveria de vender acções que me estão a dar um rendimento maior que os certificados de aforro?"

Não é assim tão liniear, primeiro porque tem de existir lucros para poder distribuir, depois para você ganhar dinheiro tem que esses lucros serem superiores aos expectaveis na altura que comprou, pois senão embora receba dividendos a sua acção desvaliraza no exacto montante desses dividendos.
É que o valor da acção tem incorporado o presente e as expectativas futuras e é a flutuação nestas expectativas que faz flutuar o valor da acção. A bolsa não é um casino como querem pintar...

Quanto à questão das casas, estas têm a tendência de valorizar a nível nominal a longo prazo como é de sabedoria popular. Se valoriza em termos reais já é uma outra questão...

4:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

P.S. Neste momento o que está a acontecer nas bolsas e mercado interbancário é mais politico do que propriamente económico...

4:10 da tarde  
Blogger NC said...

Essa noção de que o valor da acção corresponde aos dividendos não é exacta. Tem mais a ver com a capacidade de uma empresa gerar dividendos do que propriamente com os dividendos que esta distribui.

Um exemplo simples: O condutor de um Ferrari ganha 1000 EUR por cada corrida ganha num campeonato. O Ferrari custa 10000. No final do campeonato, o Ferrari vai a leilão para ser revendido. Quem investir num piloto, está a contribuir para a compra de um Ferrari e vai receber uma quota parte dos prémios ganhos (dividendos) e do valor de venda do automóvel (valor dos activos aquando do fecho da empresa/projecto). Agora temos, por simplificação, duas hipóteses: investir num piloto como eu ou investir no Michael Schumacker. À partida qual é o valor esperado para os retornos num piloto de meia-tigela como eu? e qual o retorno esperado por investir num Schumacher?

O Ferrari é exactamente o mesmo, mas acontece que o Schumacher (capacidade de gestão, iniciativa, imaginação, visão estratégica) gera uma expectativa de retorno muito superior à minha. Depois ainda há outra nuance. No leilão o Ferrari do Schumacher vale, à partida muito mais porque as afinações introduzidas no Ferrari terão tornado o Ferrari numa máquina melhor do que a comprámos inicialmente.

Tudo isto tem a ver com expectativas e criação de valor mais do que com os dividendos pagos (corridas ganhas, no exemplo).

«Neste caso, estou convencido que a subida do preço da «energia» é que teve o papel determinante, ao desviar fluxo de capitais da bolsa.»

Não necessáriamente. Os valores dos futuros de petróleo não corroboram a tese de que a componente especulativa fosse significativa na escalada de preço do crude. A subida deveu-se mais ao factod e a oferta de crude e de produtos refinados estar no limite face à procura mundial destes produtos. Os mercados ajustam-se através dos preços. A descida tem mais a ver com o arrefecimento da economia mundial: menos actividade = menos energia necessária.


«mas não tanto nas pessoas que compram andares mas nas que jogam no casino da bolsa.»

Eu estava-me a referir ao estoiro da bolha do imobiliário que causou esta.

«compras o carro ao alugas o carro? compras o carro por espírito especulativo?»

Quem pode, não compra carro. Faz leasing ou afins. Na minha opinião isso é mais racional. Não tem a ver com especulação.


«porque razão haveria de vender acções que me estão a dar um rendimento maior que os certificados de aforro?»

Um dado preocupante. A dívida pública americana está a dar um retorno de 0%(!). Muito preocupante. Esperemos que cá não venha a acontecer o mesmo.

5:50 da tarde  

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