Volatilidades
Passando os olhos pelo último número da revista Visão - publicação que está constantemente a "levar nas orelhas" nesta xafarica - encontrei um gráfico muito interessante que compara as taxas de crescimento do crude com as taxas de crescimento da gasolina. O que se consegue concluir do gráfico é que - ao contrário do que os órgãos de comunicação e conversas de café nos fazem crer - o crescimento do preço da gasolina acompanha o crescimento crude em ambos os sentidos mas tem oscilações muito mais suaves.
Tentei reproduzir estes resultados recorrendo a dados disponíveis na internet. Utilizei a série de preços médios semanais de gasolina disponíveis no site da DGEG entre 2004 e 2008; a cotação semanal média do Brent em idêntico período expressa em dólares americanos (retirado da Energy Information Agency); e as taxas de câmbio publicadas no Oanda.com para a conversão dos valores de dólares para euros. Calculando as taxas de crescimento do preço médio da gasolina e do preço do Brent, ambos em expressos em euros, obtém-se o seguinte gráfico.
A característica que mais salta à vista é que a volatilidade das taxas de crescimento do preço do crude transacionado em mercado é muito superior à apresentada pelo preço da gasolina na bomba. A outra característica é que as taxas de crescimento do preço da gasolina parecem estar centradas em relação á série das taxas de crescimento do Brent. As taxas de crescimento da gasolina têm um comportamento análogo ao de uma média móvel das taxas do crude. Este comportamento tipo média móvel implica que o crescimento dos preços da gasolina acompanham o do crude numa perspectiva de longo prazo mas no curto prazo são frequentes as situações de movimentos opostos das séries. Para maior detalhe ilustra-se o comportamento da série desde início de 2007.
As explicações que encontro para esta diferença de comportamento deve-se ao facto de:
a) O preço crude contribuir apenas para 50%-60% do preço da gasolina antes de impostos - segundo fontes americanas (aqui e aqui) - o que representará 20%-25% do preço no consumidor uma vez que a carga fiscal sobre a gasolina ronda os 60% em Portugal (ver aqui). Os restantes 75%-80% não dependem directamente do preço do crude nem são tão voláteis.
b) O crude utilizado para fabricar a gasolina consumida hoje não foi comprado todo ao mesmo tempo, logo o custo da gasolina incorpora crude a diferentes preços. Daí resulta que o custo unitário do crude utilizado na produção seja uma média de preços correspondentes a diversas datas.
c) As empresas de refinação recorrem a instrumentos financeiros para se protegerem dos riscos inerentes à volatilidade do preço do crude - aquilo que se denomina como hedging. O recurso a estes instrumentos faz com que os custos na compra de crude sejam mais estáveis que os que ocorreriam caso não se fizesse hedging.
Seguramente existirão mais factores relevantes para esta realidade mas o meu parco conhecimento na matéria não dá para mais. Não obstante, a realidade é esta. Os louros desta análise vão, em grande parte, para a Visão.
a) O preço crude contribuir apenas para 50%-60% do preço da gasolina antes de impostos - segundo fontes americanas (aqui e aqui) - o que representará 20%-25% do preço no consumidor uma vez que a carga fiscal sobre a gasolina ronda os 60% em Portugal (ver aqui). Os restantes 75%-80% não dependem directamente do preço do crude nem são tão voláteis.
b) O crude utilizado para fabricar a gasolina consumida hoje não foi comprado todo ao mesmo tempo, logo o custo da gasolina incorpora crude a diferentes preços. Daí resulta que o custo unitário do crude utilizado na produção seja uma média de preços correspondentes a diversas datas.
c) As empresas de refinação recorrem a instrumentos financeiros para se protegerem dos riscos inerentes à volatilidade do preço do crude - aquilo que se denomina como hedging. O recurso a estes instrumentos faz com que os custos na compra de crude sejam mais estáveis que os que ocorreriam caso não se fizesse hedging.
Seguramente existirão mais factores relevantes para esta realidade mas o meu parco conhecimento na matéria não dá para mais. Não obstante, a realidade é esta. Os louros desta análise vão, em grande parte, para a Visão.
4 Commets:
Meu caro Tarzan, deve ter um olho muito treinado para concluir destes gráficos que uma taxa acompanha a outra. Sabemos que acompanha qualitativamente, pois sabemos que assim que se anuncia uma subida significativa do brent a gasolina sobe e que uma descida prolongada implica uma descida, a opinião publica assim o exige. Mas o que interessa verdadeiramente é se acompanha quantitativamente. E isso o meu olho não consegue concluir destes gráficos.
Mas esta análise qualitativa não deixa de ter o seu interesse. Muito interesse mesmo.
Sim, deve ser do treino.
Se o meu amigo logaritmizar as escalas então o feito é estrondoso! As flutuações quase que desaparecem. Em economia não creio que hakja coisa alguma que, com jeito e um mínimo de perspicácia, não se consiga justificar com uma bom gráfico. Então se recorrermos a estatísticas o efeito ainda é melhor. Sinceramente não percebo porque razão insiste em demonstrar, contra todo o senso comum, que o que era verdade ontem deixou de ser verdade hoje. E a verdade é que ontem o preço dos combustíveis era determinado pelos factores a e b e hoje, quando o preço baixa, esses factores são postos de lado. A única justificação que eu poderia aceitar é a de que a Galp é uma empresa privada, cujo único propósito é gerar um máximo de lucros no mínimo espaço de tempo e de que na prossecução destes objectivos não se prende com pejos de ordem moral ou ética (afinal estes são princípios completamente ausentes em qualquer mercado liberal). Mas assim sendo é necessário ponderar se, perante esse estado de coisas, se deve manter esta libertinagem em torno de bens essenciais para toda a gente. Imagine a mesma situação aplicada, por exemplo, ao mercado da água. Imagine um único fornecedor não sujeito a quaisquer peias controladoras a vender-lhe o litro de água a 1,55€. Impensável não é ?
mailto: ncgodinho@hotmail.com
Caro Nuno Godinho,
a mim não me interessa muito o senso comum. Interessa-me mais os FACTOS. O senso comum também "disse" há Humanidade que o Sol é que girava em torno da Terra.
Quando parti para esta "investigação" segui o meu instinto comum e queria demonstrar e quantificar o grau de assimetria na oscilação dos preços. As provas que apresento são tão óbvias para mim, que conclui que o meu senso comum estava a ser manipulado.
Enviar um comentário
<< Home