12 janeiro 2007

Panela de Cultura


E abre-se mas uma rubrica com a recomendação de discos de música erudita que por cá se vai escutando.

Não sou daqueles que acha que se deve preferir "português" só porque é "português". Prefiro "português" se ele merecer a pena. E é seguindo esse mesmo critério que recomendo um disco totalmente português.

Trata-se de "Música para o Teatro de Gil Vicente", disco interpretado pelo agrupamento Segréis de Lisboa, dirigido por Manuel Morais que assume papel de alaudista e afins. O disco é editado pela Portugaler - uma pequena etiqueta que infelizmente ainda não tem website e que possui um catálogo dedicado à música erudita portuguesa e com especial cuidado no enquadramento histórico da sua interpretação - e pode ser encontrado nas lojas FNAC, entre outras. A Portugaler já editou outros 6 CD's e apesar da (ainda) pequena dimensão deste projecto a qualidade não tem sido descurada sendo as gravações de bom nível, os interpretes geralmente de altíssima qualidade e as embalagens de luxo.

Este 7º CD não é excepção e volta a nivelar por cima. Os Segréis de Lisboa são o melhor grupo português dedicado à música antiga em Portugal da actualidade. O pessoal técnico envolvido na gravação e produção do CD é português, o responsável pelos comentários da brochura é Rui Vieira de Nery - talvez o maior musicólogo português - a gravação foi realizada na igreja dos Lóios em Évora.


O disco parte de uma investigação musicológica no sentido de averiguar qual a música presente nas representações das peças de Gil Vicente. Sabe-se que era frequente o acompanhamento musical das peças e que tinha por função definir o carácter das peças e da acção. Sendo Gil Vicente também ele músico, as indicações relativamente à música são relativamente precisas o que permite que este projecto tenha alguma credibilidade e fundamento. Curiosamente os compositores das músicas indicadas pelo autor são, na sua maioria, castellanos ou anónimos.

De salientar a boa qualidade da gravação e da, muito informada, interpretação. De louvar também a variedade de temas e de registo instrumental que torna a audição deste CD muito agradável, algo que nem sempre é fácil para o ouvinte médio em gravações de música antiga. O "séquito" de músicos é de facto extenso - 16. Apenas de lamentar a interpretação da soprano solista Orlanda Isidoro que me parece um pouco desenquadrada do que se acredita ser mais correcto na música do século XVI (muito vibrato). O contratenor Nicolas Domingues peca pela falta de clareza na dicção do texto e por ter um timbre de voz pouco belo. Mas nem mesmo estes pormenores retiram o brilho a esta belíssima gravação capaz de figurar na linha da frente do que se vai fazendo nesta área em todo o mundo.

1 Commets:

Anonymous Anónimo said...

Caro,
Estranhamente, estou perfeitamente de acordo consigo no que respeita à participação da Orlanda. Não é uma questão de vibrato mas sim de empenhamento, para não usar outro adjectivo mais duro, ao qual se junta uma interpretação "sem alma" e muita falta de prática e também conhecimento deste repertório. Mas que fazer, sou responsáve por este erro, e, como dizia um dos meus profs., para se fazer um linha direita tem de se partir de um "torta". De qualquer modo, agradeço a crítica ao Cd, a primeira a que tenho acesso. Abraço, MM

1:30 da tarde  

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