25 julho 2006

O espaço público...na praia

Os bens públicos têm a característica de poderem ser livremente acedidos por todos até ao limite das suas capacidades. Podemos entrar livremente numa estrada municipal, sem qualquer custo variável mas, à medida que aumenta o trânsito, deixamos de a poder usufruir plenamente. No caso de uma praia, poderemos desfrutar dela até ao ponto em que não caiba lá mais ninguém. Podem existir muitas outras condicionantes que desencorajem as pessoas de ir até determinada praia nomeadamente: a falta de espaço, o estado do mar, a intensidade do sol, o facto de não ser vigiada etc... Raramente encontraremos dois decisores com os mesmos critérios.

Esta heterogeneidade de critérios pode ter efeitos curiosos no caso do espaço existente na praia. O que se considera “muito” ou “pouco” espaço varia bastante de agente para agente. Se determinada pessoa, quando chega à praia, achar que ainda cabe, toma a decisão de se instalar em vez de procurar outra praia. Nesta decisão pesam também outros factores (custos) como o gosto por esta ou aquela praia em especial, a facilidade de acesso a outras praias, a maçada de voltar com as tralhas para o carro e mudar de “poiso”, a facilidade de estacionamento nas praias alternativas, etc…

Suponhamos agora o caso de uma praia em que estão 5 famílias. Cada uma delas tomou a decisão de ficar dado que estariam garantidos 5 metros de distância mínima para o guarda-sol vizinho mais próximo. Entretanto, começam a chegar mais famílias. Cada uma delas tem critérios de escolha diferentes: as que exigem mais de 5 metros de distância vão-se embora para outras paragens mas as outras ficam. Acontece que existem famílias que não se importam de ficar a 50cm de outro guarda-sol e essas decidem ficar. As famílias que já lá estavam, caso queiram sair, têm o custo adicional de arrumar a trouxa toda para se irem embora. À partida estas pessoas não têm o direito de expulsar as outras uma vez que a praia é um bem público. Uma vez que não existem nenhuma solução definida pela Tradição, quem já lá estava tem duas opções: muda-se ou tenta negociar com os restantes agentes uma solução que satisfaça a todos.

Numa sociedade liberal a opção natural seria primeiro negociar e, caso não se chegue a um acordo satisfatório, mudar de praia. Na nossa sociedade (não sei como acontece nas outras) esta escolha raramente acontece. Os agentes resignam-se, aguentam o incómodo e mudam de praia no dia seguinte, maldizem a “falta de chá” dos seus conterrâneos… mas evitam quase sempre a interacção com os outros agentes. De facto, na maioria dos casos, caso alguém tentasse protestar ou negociar seria olhado como egoísta e levaria com a resposta “se está mal mude-se!”. Eu próprio seria incapaz de entrar em conflito por causa do espaço na praia. O máximo que faço é pôr um ar zangado enquanto me afasto do sr que decidiu espetar o guarda-sol a 30cm da toalha onde me encontrava estendido há já algum tempo. Neste caso, o facto de estar a 30 cm de uma pessoa não incomodava minimamente o dito sr como é que ele poderia imaginar que isso me incomodava a mim? Só negociando, comunicando, interagindo.

Concluo que o ambiente cultural da sociedade portuguesa é, à partida, pouco propícia ao conflito de interesses e à sua resolução através da negociação. E isso nota-se até nestas minudências.

3 Commets:

Blogger Diogo Almeida said...

Boa parte do problema se deve à proibição de privatização das praias. Tem sido, porém, contornada, através da concessão de espaços, com toldos, espreguiçadeiras, etc, que delimitam per si o espaço útil de cada cliente. De facto estamos perante uma situação em que a má moeda expulsa a boa moeda, pois qt menos espaço há, mais se acumulam aqueles que não se incomodam com a sua falta.

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