04 março 2008

Racionalidades I

Paulo Gorjão, nesta posta, reflecte um pouco sobre a questão da racionalidade. O problema nesta questão é que, quando se discute racionalidade, é frequente misturar diferentes acepções da palavra racionalidade. Existe uma acepção valorativa e outra objectiva de racionalidade. Na primeira pretende-se atribuir um juízo de valor acerca de determinada acção, comportamento ou decisão - mais no sentido da razoabilidade. Uma decisão bem tomada é racional e outra mal tomada é irracional. Na acepção objectiva (económica) de racionalidade apenas se discute se, perante as mesmas circunstâncias, o indivíduo toma sempre a mesma decisão e que será sempre óptima.

Facilmente se compreende que num debate em que os intervenientes tenham diferentes concepções de racionalidade, facilmente se entra numa conversa de surdos. Creio que já falei aqui da razão pela qual muitas vezes certas decisões nos parecem irracionais e tal prende-se sempre com as diferenças ao nível das percepções e das preferências entre nos e os restantes. Tendencialmente não há pessoas irracionais. Há, isso sim, diferenças na forma como se lê a realidade ou na forma de ponderar os factores relevantes na tomada de decisão. E isso depende do meio e das circunstâncias de cada um. É isto que muitos decisores políticos e empresariais parecem não perceber, optando por impor uma racionalidade normativa.