Sintomas do nacional paternalismo
Oiço a seguinte tirada a propósito da investigadora de 36 anos assassinada na Amazónia:
"Não sabiam que aquilo é perigoso? Porque é que a deixaram ir para lá?!?! Eu, pró Brasil? nem de borla!"
Tiradas deste género são frequentes nas conversas que ouvimos na rua, em especial entre os mais idosos. O que achei delicioso é que revela o paternalismo com que ainda se encara a vida. Senão repare-se, a senhora tinha 36 anos, era investigadora universitária e estava habituada a estas andanças. Não era propriamente inimputável. Era crescida e sabia perfeitamente ao que ia. Se lhe tivesse acontecido o mesmo em Lisboa, também suscitaria o mesmo comentário? Por cá também se viola e mata.
A lógica paternalista (salazarenta?) de que é necessário haver alguém a impedir que as pessoas façam asneiras, para que não se aleijem, não cairem nas mãos do demo é consequência, estou convicto, de gerações educadas no "respeitinho", na tacanhez do "pequeninos mas honrados" e "juizinho é que é preciso, fáxavor".
Curiosamente, esta perspectiva paternalista é também adoptada, com nova roupagem, pelas actuais correntes progressistas (e anti-salazaristas) que procuram, em nome do "bem-estar social" ou outro qualquer chavão políticamente correcto, regular e controlar os aspectos da esfera particular dos cidadãos. Para que "ninguém se aleije".
1 Commets:
muito bem...
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