02 junho 2009

Passamos a palavra para o maluquinho dos órgãos


Serve a presente posta para dar a conhecer (ainda que algo tarde) o lançamento do CD "Obras de Dietrich Buxtehude" interpretado pelo organista português Rui Paiva. Começo por dizer que é um CD absolutamente extraordinário a todos os níveis. É raro haver edições discográficas de música para órgão tão boas como esta mesmo a nível interncacional. Melhor que isto só em SACD com mistura 5.1...

Rui Paiva escolheu, para tocar obras de Buxtehude, o órgão português mais adaptado ao repertório de órgão do Norte da Alemanha do final do séc. XVII: o òrgão da Sé Catedral de Faro construido pelo organeiro Johann Heinrich Hulenkampf que foi discípulo do maior mestre de construção de órgãos alemão/neerlandês do século XVII, Arp Schnitger. Tal como o órgão foi escolhido para tocar Buxtehude, também houve o cuidado de escolher as obras de Buxtehude mais adequadas a este instrumento em concreto. Houve, por isso o cuidado de escolher peças para as quais são necessárias quase exclusivamente os manuais. A pedaleira é utilizada apenas em escassas ocasiões e de forma meramente pontual e mínima.

A interpretação de Rui Paiva é clara e viva, sem ornamentação excessiva e com cuidado em fazer mais do que debitar notas. Outra coisa não seria de esperar de um aluno do falecido Joaquim Simões da Hora. A registação é variada, inteligente, criteriosa e obediente ao carácter das peças e suas secções e, tanto quanto possível, à estética sonora da época em que estas obras foram escritas. A qualidade técnica da gravação, sem ser excepcional, é muito boa.

A apresentação física e gráfica do CD é de luxo. Em digipack, profusamente ilustrado (como nunca vi) com fotografias de grande qualidade técnica e artística. OS textos são bastante enriquecedores e sem grandes tecnicismos musicológicos ou organológicos e encarregam-se da contextualização das obras gravadas e da apresentação do instrumento e sua história. No final é possível encontrar as registações utilizadas nas peças executadas, característica que é altamente desejável para quem se interessa pelo repertório de órgão mas que, infelizmente, nao é muito comum encontrar em gravações de órgão. Creio, inclusive que é a primeira vez que isto acontece num CD gravado em Portugal, algo a que o facto de Rui Paiva ser professor de órgão (de miúdos e graúdos) não será alheio.


Fixem bem a capa. Se a virem nas lojas peçam para escutar. Se gostarem, comprem. Vala cada euro gasto.