13 junho 2008

Não perguntes o que é que o Estado pode fazer por ti. Não lhe dês ideias!


Este video do Ron Paul que apanhei no Fiel Inimigo, suscitou-me o seguinte pensamento.

Se os políticos dizem aquilo que as pessoas querem ouvir, se quisermos uma alteração substantiva nas suas propostas políticas temos de alterar as preferências dos eleitores. Uma "revolução" liberal teria de passar por uma campanha de literacia de mercado, liberdade individual e das virtudes da responsabilização do indivíduo pelas suas acções. Esta "campanha" está bem representada na blogoesfera lusa (e não só à "direita") e já terá cumprido esse objectivo junto da fina camada da população que "frequenta" blogues.

No nosso panorma politico-mediático actual não vejo que a viragem para um discurso autenticamente liberal venha a ocorrer a médio prazo. Em primeiro lugar porque os políticos funcionam em função do seu "segmento de mercado" que é, convenhamos, na melhor das hipóteses estreito (só 30% da população participa regularmente nos actos eleitorais; como os partidos do centrão variam a sua percentagem de voto entre os 35% e os 50%, um governo de maioria absoluta é eleito por apenas 15% da população) e funciona em moldes muito semelhantes a um adepto de futebol. Em segundo lugar porque quem lidera partidos políticos aspira sempre a obter e exercer o poder. Ora este conceito é contrário ao ideal liberal: o Estado abdicar do poder em favor dos seus cidadãos. No sistema democrático, tal como conhecemos só uma pressão generalizada da população - em favor da minimização da esfera de actuação do Estado sobre a sua esfera de decisão - poderia "produzir" políticos dispostos a isso. Ron Paul é um caso paradigmático por ser exactamente o oposto do estereótipo do homo politicus vulgaris: ele defende a diminuição da esfera de actuaõ do Estado americano quer dentro quer fora do país. E isso faz sonhar a "camada" liberal.

Como a cultura cívica do país está cheia de ditadores em potência ("ah se eu mandasse!") bastante cientes de qual o melhor destino a dar ao seu dinheiro e o dos outros, concluo que nos encontramos nos antípodas de uma viragem liberal digna desse nome.

2 Commets:

Blogger alf said...

Muito bom. Mas porque haveriamos querer uma viragem liberal? Quem é que quer isso afinal??? Porque uma política liberal só é possível se existir um estado suficientemente forte para poder impor as regras necessárias. Com a globalização isso desapareceu, as empresas são globais e mais fortes que os estados dos paises onde actuam

Assisti há dias a um debate na RTPN onde o representante do PCP se divertiu imenso - os representantes dos outros partidos passaram o tempo a exigir do estado a tomada de medidas para controlar a subida dos combustíveis e ele só perguntavam: mas não foram vcs que queriam a liberalização do mercado?

8:43 da tarde  
Blogger NC said...

«Com a globalização isso desapareceu, as empresas são globais e mais fortes que os estados dos paises onde actuam»

Não concordo. As empresas passaram a ter uma influência (directa e indirecta) nas decisões políticas que antes não tinham. Mas tal não significa necessariamente uma subordinação do poder político ao poder económico. Nem isso é bem visto pelas correntes liberais.

Quanto ao comentário do sr. PCP, tem toda a razão de ser. Tal como disse no post, por cá não há classe política liberal. Só gostam de se chamar liberais para atrair um ou outro voto mas todos defendem a intromissão do estado nas mais diversas esferas da sociedade e economia - à esquerda e à direita. Osr. do PCP estaria todo contente porque estaria a ser o participante mais coerente do debate.

9:57 da manhã  

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