Resposta
À pergunta "Como controlar que o retalhista passou a descida do IVA para o cliente?", o Rui Cerdeira Branco do excelente blogue Economia & Finanças, responde com um longo texto bem fundamentado.
Eu apenas responderia: com concorrência. Se houver real concorrência, os preços descerão por si. A ideia de controlar preços de mercados concorrenciais é antiquada e só costuma dar asneira.
12 Commets:
A questão é outra. A questão é como verificar que as calças de 49,99€ passam realmente para 49,58€
É que eu não acredito que nenhuma Zara ou C&A ou Mango vá mudar as etiquetas de 49,99€ e por umas de 49,58€.
A questão é que a baixa do IVA vai ser absorvida pelos retalhistas e não vai beneficiar directamente os consumidores, e não é por falta de concorrência.
Se houver concorrência, os retalhistas vão tentar vender o seus produtos ao melhor preço possível de forma a captar clientes aos seus concorrentes. Se não houver, não há incentivo a baixar preço. Simples.
Se não baixar é porque estamos longe de um mercado concorrencial pela via do preço - os agentes preferem concorrer noutras vertentes. E isso em geral só acontece em mercados pouco atomizados.
a curto prazo não fará diferença, mas a médio prazo os preços são ditados pelo mercado. Quer isto dizer que a diminuição do IVA beneficiará tanto consumidores como retalhistas.
Há um erro sistemático, parece-me, em toda a teoria económica em Portugal: a ideia de que a Economia está ao serviço do consumidor!
A economia está ao serviço das pessoas; e isto consegue-se começando por dar prioridade à produção de riqueza. Portanto, a pergunta correcta não é se os consumidores saem beneficiados, isso não interessa nada, é se isto contribui para o aumento da geração de riqueza.
Antes de sermos consumidores, somos empregados ou empresários ou trabalhadores por conta própria. Isto melhora ou não a nossa actividade produtiva.
E a resposta é que sim, é claro. Baixar impostos e taxas de juro beneficia sempre a produção. Desde que haja mercado...
alf,
«Portanto, a pergunta correcta não é se os consumidores saem beneficiados, isso não interessa nada, é se isto contribui para o aumento da geração de riqueza.»
Claro que interessa. Um consumidor que pague menos pelos produtos é um consumidor mais rico pois pode comprar mais coisas. E isso é gerar riqueza.
tarzan
Há uns anos atrás eu fiz uma experiência engraçada: a análise do conteúdo dos carrinhos dos supermercados.
A conclusão foi a a que eu já esperava: os carrinhos cheios de produtos estrangeiros eram maioritariamente de funcionários públicos ou de empresas públicas; os carrinhos de pessoas que escolhiam o produto nacional eram de trabalhadores em pequenas empresas privadas.
Isto revela duas maneiras completamente diferentes de encarar a economia, que resultam de duas experiências de vida diferentes e de interesses diferentes.
alf,
andou mesmo pelo supermercado a perguntar se as pessoas eram funcionários públicos ou privados? E qual a dimensão da amostra? O critério de decisão de cada uma dessas escolhas foi mesmo a nacionalidade do produto ou havia outros condicionantes? Qual a sua explicação para uma eventual correlação entre o facto de se ser trabalhador de uma empresa privada e gostar mais do produto nacional? São mais patriotas?
Tarzan, a explicação é óbvia: quem trabalha numa empresa a produzir produtos para o mercado, coisa que os funcionários publicos ou de empresas publicas não sabem o que é e portanto não têm percepção dessa realidade, vê nos produtos estrangeiros uma ameaça ao seu emprego.
Eles sabem que se os portugueses compararem produtos portugueses o dinheiro circula cá dentro e há trabalho; se toda a gente preferir produtos estrangeiros, o dinheiro vai-se embora e não há trabalho.
E não vale a pena argumentar que podem vender no estrangeiro porque eles sabem bem que não podem, por múltiplas razões.
Mas o que me parece extraordinário é a quantidade de vezes que eu já disse isto em Portugal, pois isto é óbvio para qualquer estrangeiro!
Como é óbvio para todos os portugueses cujo emprego depende do mercado interno. A razão porque não será óbvio para outros, suponho eu, é porque não lhes convém, pois pensam que o seu rendimento é independente de comprarem produtos nacionais ou estrangeiros. Mas não é. E então baseiam-se em teorias pseudo liberais que não são seguidas em parte nenhuma do mundo (foram seguidas na Argentina, e deram no que deram; gosto de citar a Argentina porque aí há uns 20 ou 30 anos eu previ que a Argentina e Portugal iriam "falir" por serem os dois unicos paises do mundo que seguiam essa política económica; a Argentina "faliu" é Portugal será sempre o pais mais pobre da UE - neste momento há uns novos aderentes atrás de Portugal mas é temporário)
alf, segundo essa lógica estaríamos todos a ouvir LP's do José mário Branco em vinyl made-in Sacavém em gira-discos CIE - esses portentos da tecnologia. Que incentivo haveria para produzir melhores produtos que os que vêm lá fora? Os franceses não fazem carros a pensar que o mercado nacional lhes vai garantir a rentabilidade das fábricas. Fazem automóveis que tenham algo que os diferencie da concorrência propondo valor acrescentado quer dentro de portas quer no resto da Europa.
Além disso, com a globalização já vão deixando de existir grandes empresas puramente nacionais.
Tarzan
A esmagadora maioria das empresas são locais.
Foi esta lógica que permitiu que Portugal, em determinada altura, tivesse José Mário Branco e giradiscos CIE; a "outra" lógica conduz a não ter senão cantores "pimba", ou seja, cantores de festas populares, única área do mercado musical onde a musica anglosaxónica não entra.
Por causa dessa lógica, os americanos, qd quiseram um comboio de alta velocidade, compraram um alemão, um frances, desmancharam-nos e fizeram o seu. Por causa dessa lógica, que todos seguem menos Portugal (já começa a seguir, felizmente, mas ainda devagarinho)é que a Fiat é a marca dos italianos, a peugeot,renaul ou citroen dos franceses, mercedes ou bmw dos alemães, volvo dos suecos.
Já viu que a nas corridas automoveis americanas só correm carros americanos?
Ninguém tem uma politica económica mais fechada que os americanos; é por isso que se tornaram tão desenvolvidos e não o contrário. No polo oposto está Portugal.
Não confunda esta "lógica" com fuga à concorrência ou soluções monopolistas. Fomentar a concorrência é essencial. Mas a concorrência interna, não a externa.
Alf,
recorre novamente ao argumento das corridas de carros. Mas desta vez esqueceu-se de investigar. Sabia que todos os carros do IndyCar têm chassis Dallara (italianos) e motores Honda (japoneses)?
Os campeonatos de automobilismo não são um bom exemplo porque seguem lógicas diferentes. No americano o que conta é o piloto e os engenheiros da equipa. Na F1 também contam os fabricantes. Em termos de público, a tradição pesa muito. Já são 50 anos de alta competição e os hábitos e gostos das audiências não são fáceis de mudar de um momento para o outro.
Quanto ao resto, sugiro-lhe que visite uma Moviflor (a de Alfragide, por exemplo). Depois continuamos a discussão.
Portanto, o IndyCar não serve nem o teu ponto de vista nem o meu... e os outros exemplos que eu dei?
Meu caro, eu vivi no mundo da realidade e não da teoria. Eu assisti à invenção de normas destinadas exclusivamente a proteger as industrias internas, desde as compatibilidades electromagnéticas À espessura da chapa das latas de refrigerantes. Os meus concorrentes espanhóies explicavam-me como as empresas espanhóis recebiam os cadernos de encargos antes da abertura de concursos em Espanha, como era acordado em cada o montanto de compras que o governo / empresas publicas espanholas faziam a cada empresa.
Não foi ridicula a figura o PR de Portugal a pedir aos espanhóis que nos deixassem ganhar ao menos 1 concurso?
Os meus concorrentes alemães indignavam-se pelo facto de em portugal as empresas portugueses não terem melhores condições que as estrangeiras; desesperavam-se porque nunca lhes passou pela cabeça vender a uma empresa publica de um pais estrangeiro sem contrapartidas e qd propunham contrapartidas em Portugal verificavam que isso era encarado com desconfiança - equipamento montado em Portugal? Ou quê, com operários portugueses? Livra, corta com esse!
Meu caro, como dizia o livro americano: para que é que serve uma orquestra? Porque é que existem orquestras? Por haver pessoas que querem ouvir ou por haver pessoas que querem tocar?
É no entendimento desta questão que está o cerne da Economia.
Essa das orquestras ainda vai dar um post. É que até esse assunto é polémico e deve dar uns bons artigos de economia.
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